Brittle.

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Maraisa Henrique point of view.

Cinco dias depois.

Sentia meu corpo dormente, mas ao mesmo tempo sentia dores em alguns pontos. Acordei há poucas horas, não sabia muito bem o que havia acontecido. Meu corpo estava coberto por uma manta de hospital, tinha acesso em meu pulso e a minha cabeça doía muito. Pouco tempo depois que acordei, o médico desconhecido até então, perguntou como estava e me medicou novamente.

Procurava com os olhos alguém conhecido, até ver a minha irmã olhando pela vidraça. Sorri para ela e ela entrou, aninhando-se ao meu lado e beijando a minha bochecha com todo o cuidado do mundo. Queria entender o que realmente aconteceu, mas somente uns flashbacks surgiam na minha mente.

Lembro da sensação antes do tiro, mas não lembro exatamente o que aconteceu para que eu pudesse ter sido tão violentada. Meu corpo caiu contra o chão, o que ocorreu uma pancada na minha cabeça. Abracei minha irmã com cuidado, estava sentindo dor, mas queria ela comigo.

— Como você se sente, irmã? - Maiara perguntou com a voz baixinha. — Tive medo…

Ela engoliu o choro.

— Estou bem, irmã. Estou bem.

Menti, não estava nada bem. Aos poucos, algumas lembranças remetiam ao meu cérebro como flashbacks presentes.

— Onde está Marília?

Maiara ergueu o olhar e eu virei o rosto, lembrando exatamente do porquê estava naquela sala, medicada e completamente vulnerável. Olhava para os aparelhos conectados ao meu corpo, escutando cautelosamente os batimentos frenéticos do meu coração. Pude sentir a necessidade de gritar também assim que lembrei que estava namorando uma filha da puta que só me usou.

Minha irmã suspirou pesado, talvez ouvindo o que se passava na minha cabeça e tentando de alguma forma cessar.

— Marília está na sala ao lado.

Olhei para ela rapidamente, com o cenho franzido.

— Como assim "na sala ao lado"?

— Ela teve uns probleminhas, nada tão sério.

— Quais tipos de problemas, Maiara?

Por quê ainda me preocupava com ela?

Merda, ela me traiu.

— Pressão, Marília sempre teve pressão baixa. Ao saber do ocorrido, ela não conseguiu ficar sã em todos os momentos. Chorava e passava mal. Passava mal e chorava. Uma constante.

Expirei e pude sentir meu estômago reprimir, estava cirurgiada então não podia me locomover. Olhei para o teto não esperança de que tudo fosse um idiota pesadelo. Queria estar no hospital, cuidando dos enfermos. Não queria ser a enferma.

Engoli o que fosse que estava querendo sair pelos meus olhos, não queria demonstrar fraqueza perante tanta covardia. Minha irmã beijou o topo da minha cabeça e disse que já retornava.

Como pôde, Marília? Prometemos amor, prometemos amar, e tudo que restou foram cicatrizes. Feridas que jamais serão cicatrizadas. Merda, eu fui baleada em nome do não-amor. Como posso nomeá-la? Infiel? Acho que não… Você só não me quis. Você me usou. Usou-me para permanecer com alguém que não te amava. E eu te amo. Infelizmente, Marília. Há muito de você em mim. Sempre haverá. Agora ainda mais, já que sinto a dor constante do local onde fui ferida por amar genuinamente a você.

Não lembro em qual momento adormeci, apenas senti alguns dedos passeando em meu cabelo. Era você. E eu pedi tanto a Deus para que você não viesse até mim. Eu não queria olhar em seus olhos como estou olhando agora. Não queria sentir o peso das suas pupilas dilatadas, dos seus olhos avermelhados. Não queria sentir a imensurável dor que consome lentamente cada ventrículo do meu coração. Tenho tantas dúvidas, Marília, mas olhando em seus olhos nesse exato momento, percebo que tudo isso foi ilusão. Queria gritar e xingar você, mas acho que o meu silêncio diz tudo aquilo que você reluta. Sua mandíbula está travada, em seus olhos contém partículas do nosso amor falso. Agora você está chorando, suplicando com os olhos para que acredite que o seu amor não é irreal. Por Deus, com quantas balas se constrói um desamor?

Rubble of this loveOnde histórias criam vida. Descubra agora