Stripper.

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Às vezes mentir é necessário, não porque somos maus e gostamos de mentir para esconder quem realmente somos, mas sim porque temos a necessidade.

A mentira,
às vezes,
poderá te salvar.

Podem me sacrificar o quanto quiserem, mas não posso ponderar. Acreditar que a minha sinceridade irá salvar-me de lugares esses que, muita das vezes, não há saída, é uma mera ilusão.

Crucifique-me quem nunca mentiu.

Porém, se você quer saber se o que a pessoa diz é mentira, repare na maneira como ela se porta. A comunicação mais sincera que possuímos são os nossos olhos. Os olhos transmitem toda a verdade que a nossa alma omite, até de nós mesmos.

Não tinha mais apetite. Tudo em mim doía. Me sentia um ser imperdoável. Se há um Deus, que me condene. Estou condenada por mentir. Queria ter a liberdade de olhar em seus olhos de jabuticaba e falar tudo que guardo há anos. 

Eu sinto segurança nela.

Ela não merece.

Por mim eu não trabalharia hoje, mas tenho que me sustentar. Cabe a mim forçar um sorriso e continuar; é, devemos continuar mesmo que a nossa vontade seja regredir.

Por quê sempre temos que fingir? Não seria natural não termos um dia bom? Por quê todos podem e nós - profissionais - não?

Pedi um café forte, precisava de cafeína no meu sangue para aturar todos nesse dia. Ontem Maraisa tentou arrancar de mim a verdade, mas foi sem êxito. Fingi qualquer coisa, e ela, genuinamente, com a sua alma mais pura, acreditou. Acredito que não deveríamos ter contato, afinal, trabalhamos juntas e.. eu não tenho um bom histórico!

Eu sou um museu cheio de quadros e ela está de olhos abertos.

Confesso que tocar em seu rosto angelical, sentir seus lábios tão macios e admirar seus olhos tão ingênuos, tem sido uma das coisas favoritas que faço desde que nos beijamos nesse bendito hospital.

O aroma do café entrava pelas minhas narinas e por isso estou tão reflexiva. Seria eu um ser que não merece ser amada por estar sendo tão cruel com alguém tão amável? Eu não sei.

Às 20h hoje fui convidada para ver uma apresentação dela, por sua irmã. Maraisa além de pediatra é dançarina. Estava ansiosa para vê-la usufruir dos seus dotes, mas no fundo algo me alertava.

O dia passou tão rápido como um relâmpago, quando tomei consciência já eram 19h da noite e estava findando mais um turno. Por sorte não tenho plantão hoje, mas amanhã sim. Deixei prontuários na mesa da minha secretária para que ela averiguasse as consultas e cirurgias. Queria sair daquele hospital o mais rápido possível.

O trânsito estava uma merda pra variar, e eu já não tinha mais paciência. Buzinei diversas vezes para que o imbecil que estava parado no trânsito saísse e desse espaço para os outros carros. Dirigia com cuidado, ouvindo Lauren na rádio sintonizada. Minha cabeça parecia explodir, como se todos os problemas do mundo todo estivesse alojado em mim. Sentia minha energia sendo sugada e isso estava acabando comigo.

Corri às pressas para o banho, queria pelo menos uns 30 minutos dentro da banheira para relaxar. Joguei algumas pétalas e um aromatizante, e entrei. Permaneci ali por um longo tempo, pensando no quão drástica a minha vida estava. As lágrimas escorriam pelos meus olhos como catástrofe; já estava destruída.

Em frente ao espelho verificava o meu visual e até que não estava ruim. Um vestido colado preto é sempre marcante. O volume insuportável do meu celular estrondou, alguém me ligava.

Rubble of this loveOnde histórias criam vida. Descubra agora