Moments I

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O plantão passou rápido, mas algo dentro de mim alertava que algo tinha acontecido naquela noite. Ouvi murmúrios entre as enfermeiras, elas me olhavam e voltavam a comentar. Decidi ignorar a existência de tais e seguir rumo a minha sala. Durante a madrugada ainda realizei outra cirurgia e alguns casos de emergência. Ser pediátrica é lidar com a falta de cuidados mínimos dos pais e ter que suportar bebês sofrendo com doenças trágicas e na maioria das vezes irreversíveis.

Suspirei pesado e massageei meu cabelo, minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento. Segurei a xícara e tomei alguns goles do café preto e amargo que eu mesma pedi para suportar o restante do expediente.

Minha irmã havia me mandado algumas mensagens, li de relance e respondi no automático. Hoje minha mãe marcou um jantar e quis reunir seus filhos, meu irmão mais novo chegaria de viagem e passaria as férias conosco. Amo estar com a minha família, mas tudo que eu queria era chegar em casa e dormir o restante do dia. De alguma maneira me sentia consumida. Não conseguia entender o porquê.

Ouvi leves batidas na porta e permiti a entrada. Marília me olhou e eu a olhei com desdém, não queria falar com ela. Estava com dor de cabeça e confusa com tudo que aconteceu ontem.

— Não vai me dar um oi?

— Oi, Dra. Marília! - Cumprimentei com o sorriso mais falso já exposto.

— Você transa comigo e ainda tem a audácia de me chamar de Doutora?

— Sim, estamos em um ambiente de trabalho! Deseja alguma coisa? - Olhei fixamente em seus olhos, carregando fúria em meu olhar. — Se não, peço licença. Tenho trabalho a realizar.

— Está me expulsando, Maraisa? - Ela disse apoiando as mãos na mesa e me encarando. — Seja mais cordial!

— Você só pode estar brincando comigo, não é? - Me levantei e fiquei frente a frente com ela. — Você vem na minha sala pela madrugada, fica comigo, você sai e eu te peço explicações, você nada fala, eu te mando mensagem e você sequer visualiza. Eu tenho cara de idiota? - Meus braços nessa altura do campeonato estavam cruzados.

— Ô minha linda, me desculpa. - Ela diz tentando me abraçar, mas eu reluto e me afasto. — Poxa, foi emergência, eu fiquei preocupada com a mensagem que recebi da enfermeira. - Marília se aproximou de mim, e por continuar me afastando acabei colidindo meu corpo com a parede. — Não faz essa carinha, vai… vem cá! - Sua boca molhada tocou meu pescoço, me enfraquecendo com o pouco contato que tivemos. — Você fica tão gostosa estressadinha desse jeito, sabia? - A maneira como ela ressoava estava me enlouquecendo. — Quero te fazer um convite!

— Hum. - Apenas murmurei, ainda com os braços cruzados, sentindo sua boca mover em meu pescoço. Meu corpo inteiro estava amolecido com o seu contato.

— Depois daqui, topa ir pro motel comigo?

— Quê? - Arregalei os olhos e olhei em seu rosto. — Cê tá louca? Eu não vou não! Não vou ser alvo de fofoca não.

— Não, Maraisa! Vamos pro motel, vai… tem nada a ver. - Ela realmente estava brava por eu negar seu pedido. — E você vai dirigindo.

— Nossa, mas cê é folgada. Você me convida e eu ainda vou ter que ir surgindo?

— É! Isso mesmo! - Um sorriso nasceu em seus lábios. — Vai, vamos… vai ser tão divertido!

— Tá, mas só depois do jantar! É pegar ou largar.

— Tudo bem, você quem manda!

[***]

Abracei firmemente meu irmão e dei um beijo em seu rosto. Ele estava lindo, todo cuidado. Passei meus dedos em seu cabelo e sorri para ele que retribuiu. Sempre fomos apegados, e ficamos mais ainda depois que a Maiara saiu de casa e restou somente nós dois. Meses depois ele seguiu seu caminho e só restou papai, mamãe e eu.

Rubble of this loveOnde histórias criam vida. Descubra agora