Anything could happen.

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A vida é imprevisível. Somos instantes. Tudo acontece em uma fração de segundos e não temos nada para impedir. Um sopro, uma lágrima. Uma queda, um corte. Um sorriso, um momento. Em tudo há de ter uma resposta, ou não. Quase tudo.

Mas nesse exato momento a família Henrique não possui resposta, tampouco Marília, sua atual namorada. Maraisa ainda continua entubada, o seu estado é preocupante mas ela tem reagido às medicações.

Marília não dormiu a noite toda, sua cabeça não parava um segundo e as suas unhas todas estavam roídas. Aconteceu um entrave em seu subconsciente, como se não fosse lhe permitido chorar, sentir ou demonstrar qualquer afeto. Ela estava imóvel, sem falar nada. O clima daquele hospital era pesado.

Luiza acabou por dormir, ficou acordada até mais ou menos 2h da manhã. Não se sentia culpada, pelo contrário, adoraria ter matado ele. O espírito de possessão dominava o seu corpo, ela sentia como se cada célula inflasse.

"E o mais louco era que elas se amavam, mas eram jovens demais para saberem como amar"

Marília sentou-se sobre a cama e esfregou seus olhos, olhando para os imóveis do quarto. Tudo estava em silêncio, diferentemente do seu coração turbulento. Ela se levantou e caminhou até a recepção, solicitando conversar com um dos médicos que estava acompanhando a recuperação da sua namorada.

— Quais são as probabilidades dela reagir, doutor? - perguntou Marília.

— Há uma possibilidade, Doutora Marília, mas também há riscos. Por pouco ela não sofreu um traumatismo músculo esquelético - ele inspirou  — Mas há sim uma possibilidade de melhoria o quanto antes, recomendo também a presença de pessoas importantes para ela durante essa fase, vai ser de extrema importância.

Marília consentiu e inspirou, voltando a olhar o médico. Ela tentava assimilar como faria isso, já que tudo indicava que Maraisa não iria querer vê-la.

— Preciso que alguém a acompanhe hoje durante o raio x, é necessário um contato físico de alguém querido para que ela demonstre alguma expressão ou reação, seja ela consciente ou não.

— Certo! Que horas mais ou menos será liberado o acesso?

— Às 20h ela poderá receber uma visita.

Ele saiu, deixando Marília a sós.

Provavelmente quem entraria seria sua sogra, ou sua cunhada, ou eu.

Almira falava alternadamente comigo, e eu não tiro a sua razão. Se eu fosse ela, me mataria com as próprias mãos.

Travei a mandíbula enquanto ela apontava o dedo na minha cara, Maiara entrou no nosso meio e afastou sua mãe de perto de mim. A ruiva convenceu-a que seria melhor que eu entrasse.

Maraisa estava entubada, seus cabelos estavam soltos pelo travesseiro, brilhosos como sempre. Assim que toquei sua mão, uma, duas… inúmeras lágrimas escorreram pelos meus olhos.

Meus dedos acariciavam as costas da sua mão, não conseguia encara-la. Seu semblante era perdido, como se procurasse uma resposta.

— Meu amor… - a minha voz saiu embargada pelo choro incessante —, tamanha é a dor que possui o meu peito como uma âncora. Há tanta dor dentro de mim que só seria capaz de cessar caso os seus olhos estivessem caídos sobre mim. Eu preferiria que você me chocasse contra a parede e difamasse quem eu nunca fui. - inspirei e prossegui - No seu lugar, eu também me odiaria. Oras, como ouso não contar tudo que passei? Seria eu uma infiel? Eu acho que eu me nomearia como desleal. Fui desleal com você e com a nossa aliança. - toquei o seu coração, ele batia tão calminho — Eu estou com saudades, Carla. - funguei e esfreguei os meus olhos, permitindo todo aquele misto de sensações ultrapassarem além da minha alma — Eu espero que um dia você possa me perdoar, ou ao menos me ouvir. Eu - ri, não ironizando a minha própria angústia — jamais irei perdoar por ter sido tão medrosa.

Rubble of this loveOnde histórias criam vida. Descubra agora