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Londres
Narradora

As vezes As coisas complicam. Elas complicam muito. E a gente se sente no fundo do poço, e resolve desistir. A gente quer desistir.  As coisas podiam ser mais fáceis né? Mas então qual seria a graça da vida? Não ia ter seus prós,  e , então, não  batalhariamos por nada? Seria sempre essa lenga lenga? A gente só perde, quando desiste , porque até aí, a gente continua. A gente pode não conseguir vencer de início,  mas depois...ah, vai, depois a gente acaba conseguindo, pelo menos um pouquinho.

Sina se enroscava contra o peito quente e macio de Noah, que acariciava os cabelos opacas dela. A cabeça dele, tinha tantas dúvidas, e a de Sina, bom, na verdade ela dormia. Ele queria saber, então, na verdade...ele tinha que pedir ela em namoro logo, não é? Bem, Sabina disse que viu ela e Caleb saindo juntos, no carro, juntos. Então, ele precisava marcar território. Quem ensinou isso a ele, ah, óbvio que foi Joshua. Ele precisava que entendessem que, Sina, nesse modo, pertencia a ele ( ele preferia guardar esse tipo de pensamento, pois, caso M.S.F.H.P  ou - Maria Sabina Feminista Hidalgo Paño- ouvisse, ele, claramente, deveria de ficar mais ou menos uma a duas horas escutando seu discurso feminista, e cheio de acusações de machismo.) e ele pertencia a ela. Sim. Isso era extremamente, irrevogavelmente, e interrogavelmente, certo. Ele a queria mais do que um vizinho normalmente  queria uma vizinha, uma amiga? Não, não. Noah a queria como uma...

Isso.

Esse era o ponto que ele não sabia como chegaria.  O que um ia ser para o outro? Eles iam...namorar....certo?

Sina estava tão...cansada. ela sabia que devia colocar um ponto nisso tudo, não queria mais deixar de viver por coisas já acontecidas. Mas para resolver isso....teria de ter apenas um jeito?

A loira começou a se mexer, fazendo Noah ficar atento. Eram três horas da tarde, o tempo estava começando a esquentar, finalmente. Mas igual, não sentiriam mais a brisa fria do vento contra seus rostos, o cheiro de chocolate quente e café por todos os lugares, até das capinhas de celular  apeluciadas.

Em compensação, o calor era algo tão maravilhoso que, apenas pensar nos raios solares penetrando contra a pele, ir para a praia, tomar banho gelados e se deitar com o ar condicionado ligado...isso era incrível! Essa sensação de verão era, incrível, também.

- Está soando, quer que eu ligue o ar condicionado?- perguntou Noah ao tocar no rosto quente de Sina.

- Não. Acho que só há muitos cobertores. - Disse ela tirando parte dos edredons.

Sina se sentou ao lado dele , tentando imaginar seus olhos a seguindo a cada movimento. Os dois ficaram brevemente em silêncio, Sina então tocou a mão gélida de Noah, que sentiu um arrepiu por toda a extensão do corpo. Ela desenhou a mão de Noah, subindo pelo braço com os desenhos circulares, chegando então em seu rosto maduro. Os olhares eram imperceptíveis. Sina contornou os lábios  de Noah, pôs o indicador sob os lábios dele, ele tocou na mão que estava em seu rosto, se aproximando mais do rosto meigo de Sina. Logo os lábios dele se enrosacaram com os dela, e como se fossem....oh isso é tão brega mas....como se fossem projetados um para o outro. A língua do homem brigava com a da mulher, que lentamente ia se debruçando nele. Os dois, então, perceberam que necessitavam tanto daquilo, que nem se importaram por terem acabado de acordar. Mas o hálito gelado de Noah arfava pelos pequenos cantos. Sina estava a cima de Noah, que segurava sua cintura levemente com as duas mãos. O ar estava mais quente agora. Noah percebeu e começou a parar. Encerrou o beijo com dois selinhos, e aproximou Sina dele, fazendo ela ficar em seu colo. Ele a abraçou e lhe despejou um beijo na testa.

- Porque parou?- perguntou ela, com a voz um tanto zangada

A boca dele se abriu num sorriso torto.

- Agora não- avisou ele, acariciando o cabelo loiro dela.- Vou fazer algo para você comer.

- Tudo bem. - disse ela, não queria enfrenta-lo por não querer se alimentar.

- Ah, ficou bom vai - Disse Noah, tentando cortar o bife.

- Noah, isso está borrachudo. Argh, o barulho estridente que faz quando tento cortar me dá agonia.- Disse ela cruzando os braços.

- Okay. Quer ir comer algo?

Sina mordeu o lábio.

- Claro.

Enquanto Sina se vestia, Noah correu para seu apartamento, tomando um banho e se trocando.  A garota estava tão a mil na última noite, que não teve tempo para pensar.

Muitas vezes - pensou ela - eu quis desistir da minha vida. Muitas vezes ela parecia tão cansativa, que era como se eu fosse uma figurante na história de outras pessoas.
Mas então, tem horas que eu desisto de pensamento de desistir. Porque, desistir não é uma opção. A gente só perde se desiste.
Porque eu ainda tenho sonhos, oh, grande sonhos. Eu não aproveitei um terço da minha vida direito, eu ainda tenho tanto para viver. Eu ainda tenho que terminar de ler o livro que eu não li, assistir o filme que eu não assisti, comer a comida que eu nunca comi, passear pelos lugares que eu nunca visitei, conhecer pessoas que eu nunca conheci.
Isso seria o ponto chave? Conhecer pessoas que eu não deveria implorar para ficar na minha vida, que elas apenas ficariam?
Eu ainda ia ser uma grande profissional, uma boa esposa, uma boa mãe, uma boa amiga, uma excelente pessoa. Eu seria aquela princesa com cabelos lisos que eu desenhei na infância. Extraordinária. Eu só precisava aguentar mais um pouquinho, as melhores felicidades vem quando mais precisamos delas.

Imersa nos pensamentos, a loira terminou, por fim, pondo uma boina vermelha - como a de Taylor Swift- e esperando na porta da frente do apartamento.

my neighborOnde histórias criam vida. Descubra agora