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London
Sina Deinert

Alto.
Moreno.
Olhos verdes.
Muito bonito.

Esse era o cara que ia trabalhar comigo hoje. Ainda nem havíamos trocados palavras pois ele ainda conversava com o motorista. Assim que terminou de conversar me olhou de cima a baixo.

- Qual seu nome?

- Sina...Sina Deinert.

- Sina Deinert, muito bonita você.-sorri de canto envergonhada- me chamo Caleb Anderson.

Caleb Anderson. Moreno, alto, olhos verdes claros, e , simplesmente o cara mais bonito daqui. Ela trouxe um pitelsinho pra cá. Mal sabia ela que ele não ia se importar com o término.

As palavras de Any ecoavam em minha cabeça, como um lembrete ou alho do tipo. P caminho todo foi em silêncio, o homem me observava muito, e eu me sentia um tanto desconfortável.

Ao chegarmos no local, uma floricultura e uma senhora apavorada conversando com os policiais, tremendo, e um copo da água.

- Vou conversar com ela.

Concordei e entrei no local para tirar as fotos. O sentimentos pesado e de muita tristeza ao ver um corpo sendo fechado num dos sacos pretos. Eu não gosto de imaginar oque havia acontecido, mas cada foto, não iria evitar nada.

Eu havia escolhido minha profissão por amor. Amor as fotos, amor a concentração que devia ser tomada ao tirar cada fotografia. Eu amava aquilo, amava mesmo. Mas, sempre você trazia uma sensação nova. Sempre. Uma sensação de cuidado, de medo, de traumas que ficariam plantadas como sementes a cada acontecido fotografado. Na maioria das vezes, às fotos traziam aquela sensação de que se, você não as apagassem, elas não seriam apagadas sozinhas. Por exemplo, tenho poucas fotos dos meus pais em meu telefone, porque sei que isso me dá um gatilho  imenso.

- Gata, vamos logo?- meu "parceiro" perguntou.

Me vi observando pessoas limpando a mancha de sangue entre rosas brancas, e a senhorinha consolando alguém um pouco mais nova.

- Quantos anos você tem?- Perguntei, arrumando a câmera no pescoço.

- 25.

- Você é adulto.

- Sim....

- Se é adulto, deve ser um pouco maduro a ponto de saber que não se chama qualquer garota de gata por aí. Muito menos eu.

- Ê, qual é estressadinha? É um elogio.

- Mas eu não gostei. Não precisa me chamar assim, okay?

- Tá bom estressadinha. Não precisa se estressar.

Reviro os olhos e entro na viatura.

- Oque aconteceu?- pergunto para ele que estava ao meu lado atrás.

- Assaltaram a floricultura, a senhora estava com o neto. Ele tinha anos, ela tentou esconder ele atrás da bancada, o garoto tentou fugir e atiraram. Atiraram cerca de 3 vezes.

Sinto meus olhos queimarem de vontade de chorar. O mundo é extremamente cruel, com qualquer coisa. Era uma criança de 4 anos. 4 anos!  Não é admissível isso. Oque há com uma pessoas que têm tanta maldade em si a ponto de matar uma criança, ou melhor, matar alguém.
Somos todos pontinhos no planeta, a quais queremos ser lembrados um dia por alguma coisa boa que fizemos, essa criança não havia vivido nem uma mão de idade. Essas pessoas não pensam que era um filho, um neto, um sobrinho, um amigo? Era uma vida nova ainda, uma vida que mal havia conhecidos os cheiros e sabores do mundo. Ele deve estar em um lugar melhor agora, mas igual, todos aqui, sentiram falta dele.

- Tem que ser uma pessoa muito corajosa. - digo.

- Para?

- Matar.

- O assaltante está foragido, a polícia de Londres já está atrás dele.

- Oque ele ganha com isso? Roubar o trabalho soado de uma pessoa, depois matar uma pessoa também. Isso é oque? Um bônus?

- Há pessoas com crueldade de natureza, Sina.

- Eu vou te dizer uma coisa, não existe isso. "Crueldade de natureza". Deus nos dá uma vida linda para aproveitarmos é fazermos dela oque quisermos, isso vem de nós. Oque fazemos, vemos, no que gostamos ou deixamos de gostar. Isso é falta de Deus, não há outra resposta para uma pessoa tão amarga.

- Mas a gente nunca sabe.... as vezes...as vezes não foi a intenção ou sei lá.

- Não matar é um dos 7 mandamentos. E aí? Essa pessoa deveria perder a sua vida, mas não matar. Enfrentaria oque é que acontecesse no peito.

Ele concordou com a cabeça. Parecia cansado, muito cansado. Havia grandes olheiras e os olhos estavam avermelhados, como se implicasse por uma cama quentinha para descansar.

- Quantas horas você trabalha?- Perguntei voltando o rosto para o dele.

- 6 horas.

Bem, não acho que deveria ser algo tão assim. Ontem ainda foi final de semana então...

- Você parece bem cansado para alguém que acabou de sair de um final de semana.

- É eu sei. Quase nem dormi.

- Por que? Sabia que é preciso dormir de 8 a 9 horas por noite?

- Eu sei...mas é complicado.

- Por que?

- Minha irmãzinha está no hospital. A noite eu tenho que cuidar dela.

- Me desculpe, não devia ter perguntado.

- Tudo bem. As olheiras não tem como não perceber. Mas ela está melhorando, eu acho.

- Oque ela têm?

- Ham....Ela tem DP. Doença de Pompe.

- Oque é?

- A Doença de Pompe, é uma doença  genética, causada pela deficiência da enzima alfa-glicosidase ácida, levando a acúmulo progressivo de glicogênio dentro dos lisossomos, com sintomas de fraqueza muscular, deterioração da função respiratória e morte prematura. Ela tem 7 anos. É muito fraquinha. O maior sonho dela é ir a praia da Califórnia. Ela quer ver as pessoas correndo e outras vendendo picolé, e, segundo ela, o dela vai ser de morango com chocolate. Ela quer usar um biquíni de bolinhas amarelas e nadar muito, até seus dedos murcharem. - Ele mexe no bolso da calça jeans preta e um papel um pouco amassado estava desenhado.- Ela fez esse desenho pra me mostrar como vai ser, mais especificamente. Aqui é ela com o biquíni, às pessoas correndo e mergulhando com boias de baleia. Eu, estou tirando uma foto dela de frente para o mar. - Ele sorri, seus olhos estavam cheios d'água.- Mas, de toda forma, isso dói muito porque...eu não sei se ela vai conseguir vivenciar tudo isso. Essa doença atacou ela de um jeito que eu ninguém...esperava. Ela tinha saúde, muita saúde, e foi derrepente. Tá o derrepente que tomamos um grande baque. Mas oque mais nos....Oque mais nos dá força é ela sorrindo todos os dias. Ela nunca para de sorrir, não importa oque. Quando o médico vem falar, mesmo sendo algo ruim ela....Ela escuta paciente. Ela sempre diz no final " Tudo bem esperar um pouco mais pela praia.". Ela está sempre disposta, mas a noite, ela chora baixinho, assim como cada um de nós.  Ela é nossa princesa, minha irmãzinha mais nova. Eu a amo muito , espero um dia conseguir levá-la na praia que ela tanto gostaria.

Cada palavra dita foi com dor, muita dor. Seus olhos cheios de lágrimas confirmavam o sentimento. A história havia me deixado bem chateada, imagino que para ele contar também. Eu imagino a menina, simples e sorridente, com a motivação de que um dia ia poder ir a praia.
Toquei em sua mão e ele me encarou, como se estivesse em dúvida.

- Ela é forte. Você  é forte. Vão conseguir aguentar. É a passagem da vida deixando suas cicatrizes. Vocês ainda irão viver isso tudo, dês da praia até mais. Ela ainda vai ter uma vida linda pela frente.

- Ela está sendo muito forte, isso oque me deixa mal. Era para ela não estar mais aqui a quase dois anos. Mas ela foi forte igual.

- Ela ainda vai conseguir aguentar mais 2, 3, 4, 5, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70 , 80, 90, 100 anos. Ela é uma garota que, eu mal a conheci mais sei que ela tem uma força grande dentro de si.

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