24

270 19 6
                                    

Londres
Sina

Eu segurava um pote de cookies que acabara de sair do forno. Meus cabelos estavam presos num rabo de cavalo alto, e eu passara uma leve maquiagem em meu rosto.
Bati na porta de Noah.
Nada.
Bati mais uma vez.
Nada.
Mais uma.
Nada.
Resolvi por vez tocar a campainha (que evitavamos pelo barulho alto e estonteante)
Nada.
Era impossível ele ter saído, eu o vira entrar hoje, e não o vi deixar o apartamento.
Com receio, minha mão tocou a maçaneta dourada, e ficou cerca de 1 minuto lá, parada.

Pode ter acontecido algo com ele.

Reprimi os lábios.
Girei a maçaneta, e por incrível que pareça, estava aberta. Engoli em seco ao pensar em entrar, então, entre o na casa. Vi seu braço pelo sofá, então me aproximei devagar.

- Noah?

Minha voz parecia um eco. Saiu devagar, e soava repetidas vezes na minha cabeça. O olhei, mas a visão me incomodou. Muito.

Não era Noah, era Charles. Meu semblante mudara rápido. Meus olhos estavam arregalados, ele me encarava como se fosse me obrigar a falar algo. Minha respiração ofegante me fez encarar aquilo com dor. Charles ainda me olhava atentamente, levantou uma mão e recuei um passo. Ele me abanou. Oi Sina. Ele comprimentou. A voz melancólica e rouca de sempre. Me apressei e corri a cozinha, aonde tropecei umas três vezes no chão liso. Ao entrar no cômodo, um cheiro de panquecas fez minhas narinas inflarem. Vi Noah sentado na beira da mesa, digitando algo no computador devagar. Ele usava óculos de grau, e segurava uma caneca de café preto escrita i'm the one, and i'm the best! Soltei um suspiro aliviada por velo ali.
Me aproximei dele, com as mãos tremendo no pote de cookies. Ele baixou os óculos e sorriu.

- Sina, quer panquecas?

Olhei para atrás assim que escutei a voz que meus pensamentos tanto menosprezavam. Ela estava ali, com a mão no cabo da frideira, e sorri é como uma boneca maníaca. Olhei em volta, vi meu pai sentado a mesa, com um jornal na mão. Larguei o pote de vidro no chão. Os cacos espalhados me fizeram piscar mais de 4 vezes em um segundo. Minha respiração voltou a ficar ofegante. Sai correndo até a porta, mas Charles segurava a maçaneta com a mesma cara de boneco maníaco dos outros. Sinalizou um não com o dedo indicador, eu saí correndo até o banheiro do quarto de Noah. Me tranquei nele, tentei voltar com a respiração normal. Me segurei na bancada da pia, é me olhei no espelho. Em cerca de dois segundos, a imagem mudou para a de Savannah, que batia contra o espelho, como se estivesse trancada. Ela chorava e lacrimejava. E começou a gritar meu nome. As palavras saiam embaladas de sua boca, mas ela dizia coisas do tipo não caia no feitiço  ou cuidado! Ela batera tão forte, que a vidraça se quebrou. Me encostei na parede, tentando não ficar maluca. Derrepente, a maçaneta começou a girar, mais forte a cada momento. A voz de Noah implorava para eu sair dali. Não disse nada, mas então a porta de madeira se abriu. Ele sorria com a mesma cara dos  outros, me lançava o sorriso que mais me amedrontava do que me estontiava agora. Vamos ele disse sorrindo. Logo se virou, e saiu. Meu coração palpitava tão rápido quanto um beija flor batia as asas. Andei devagar até algum lugar do apartamento, até encontrá -los. Quando passei pela cozinha vazia, vi meu reflexo nos cacos da vidraça. Eu não me reconhecia. Meu cabelo estava solto  só que mais comprido (bem mais), eu usava um vestido azul como aquele que Alice usou no filme Alice no país das maravilhas, sapatos de salto brancos, e a maquiagem tão forte que nem eu parecia mesma. Eu - na verdade me parecia com todos que ali se reuniam querendo me infernizar. Continuei andando com as pernas bambas, podia cair a qualquer segundo. Cheguei a sala, todos sentado com os sorrisos largos, como se fosse arrebentar as bochechas. Um lugar ao lado de Noah me esperava. Fui até lá, sem semblante. Senti minha  cintura ser agarrada para mais próximo de seu corpo, me arrepiei.
Minha mãe segurou o controle da tevê e logo ligou. Uma musiquinha baixa tocou. Meus olhos semi-cerrados imploravam por ajuda, e a musiquinha começou a ficar mais alta. Minha imagem criança apareceu,  no quarto de meus pais, emburrada.
Minha mãe então, que no vídeo aparecia junto à mim, deitada na cama foi a primeira a falar.

my neighborOnde histórias criam vida. Descubra agora