"A vida não tem me dado motivos para sorrir com ela, darei então oportunidades para que ela sorria comigo..."
Kátia Tsubasa
Bianca
Sempre me perguntei o motivo dos meus pais nunca serem presentes na minha vida. Fui praticamente criada pelos empregados. A Mirtes era mais presente no meu dia a dia do que a minha própria mãe. Com o tempo aprendi a substituir as minhas carências e passei a me dedicar a dança e foi nela que eu me encontrei. Os meus vários porquês foram esquecidos e eu acabei me acostumando com essas ausências, deixando de sentir falta do que nunca tive.
Hoje enfim compreendo o motivo de tudo. O motivo do meu pai nunca ser carinhoso comigo, nunca ter me abraçado, nunca ter ido às homenagens no dia dos pais ou nas peças de teatro da escola. Também compreendo o motivo da mamãe estar sempre triste, e passar tanto tempo fora de casa. Tudo aquilo que aconteceu há vinte e oito anos atrás destruiu o amor que um sentia pelo outro e estragou qualquer possibilidade de futuro que os dois teriam juntos.
Conhecer o passado da minha mãe, saber por tudo o que ela passou e ainda se manter de pé, não ter desistido de mim, não ter desistido de viver, só me deixou ainda mais orgulhosa por ser filha dela, de me parecer com ela, não só por fora, mas por dentro também.
As revelações de hoje ainda chicoteavam na minha cabeça. E agora novos porquês e várias perguntas ainda sem respostas. E essa situação toda me fez lembrar de um antigo provérbio chinês: Espere o melhor, prepare-se para o pior e aceite o que vier.
O fato é que eu estou mais do que pronta para tirar o melhor de toda essa situação. E descobrir hoje que a Sabrina é minha prima foi a melhor coisa que saiu dessa história toda. E eu não vejo a hora de contar essa novidade para ela, como será que ela reagirá ao saber que temos o mesmo sangue?
Quando saímos do quarto, ouvimos vozes e risadas. O Matheus já tinha chegado do consultório, a Dolores veio com a Angélica e a Nathalia com a Ângela, todos estavam na sala e conversavam animadamente. Segurei na mão da minha mãe e nos olhamos com carinho, descemos juntas as escadas, agora nada no mundo me faria duvidar do amor da minha mãe por mim...
- Biancaaa... - a Ângela grita ao me ver, ela se precipita até nós e me abraça pelas pernas. - Estava com saudades de você.
Abaixei-me para ficar na altura dos olhos dela.
- Oi princesa, senti a sua falta também. - beijei as bochechas dela. - Cada dia que passa você fica mais linda, é possível isso?
Ângela solta gostosas gargalhadas e me abraça envolvendo os braços no meu pescoço e me dando pequenos beijos no rosto.
- Você que é linda princesa Bella e a Angélica é tão linda quanto você.
- Essa menina é mesmo sabida. - o Matheus vem até mim e me beija carinhosamente nos lábios, eu retribuo a carícia. Sinto o meu coração palpitar no peito e aquela sensação gostosa de felicidade que sentimos quanto estamos perto de quem amamos, eu amo muito aquele homem. Acordamos do nosso transe quando a Ângela fez uma pergunta curiosa.
- Por que os adultos gostam de tocar assim na boca do outro?
Matheus me olha com amor e acaricia a minha face, e eu me vejo respondendo a pergunta da Ângela.
- Os adultos se beijam porque se amam minha linda, e o beijo é uma das várias maneiras que podemos dizer a uma pessoa o quanto ela é especial para nós.
Ela sorri e me dá um beijo estalado na minha bochecha.
- Criança também pode dizer com beijos o quanto um adulto é especial para ela? - eu assinto.
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A Dança da Vida
RomanceA vida de Bianca Castro poderia ser facilmente confundida com a história de qualquer heroína de novela mexicana. Ignorada pelos próprios pais, aprendeu desde cedo a tomar conta de si mesma e por esse motivo tinha dificuldades em se racionar com as...