Capítulo 4 - Quando tudo começou?

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Bianca

Quando as minhas primeiras alunas começaram a chegar, eu já estava na barra me alongando.

Elas me saudavam e já iam para o seu cantinho começando também o alongamento, a primeira turma de hoje tinha oito alunas que já estavam bem adiantadas, então reforçaríamos o contretemps.

- Bonjour pricesses (bom dia princesas). - saudei a turma.

- Bom professeur du matin!!! (Bom dia professora!!!) - Um corro de vozes gritou em uníssono.

- Hoje reforçaremos o contretemps, que aprendemos na aula de ontem. Preparadas? - elas balançaram a cabeça em concordância. - Então vamos lá? Vou mostra como se faz e depois vocês repetem.

Fui para frente do espelho tendo a turma às minhas costas.

- O primeiro passo será composto de um coupé chassé, temps levé, chassé passé quinta posição, então vamos para direita em frente e continuamos com um coupé com a perna esquerda, chassé en avant com a direita, um temps levé sobre a perna direita, com a esquerda atrás em arabesque, e um chassé passé com a esquerda e terminando em quarta allongée, agora com o peso sobre a perna esquerda em demi-plié e a direita atrás em degagé a terre. Agora vamos lá?

As meninas se adiantaram até a barra de frente ao espelho e eu fui acompanhando, corrigido onde era preciso e reforçando.

- Isso mesmo, Agora um coupé chassé, temps levé, chassé passé quinta posição. - e a aula seguiu nesse ritmo até o final.

As alunas se despediram e foram saindo do salão, algumas mães ficavam na sala sentadas ao canto assistindo as aulas, outras vinham buscar no final.

A sala já estava vazia quando a Juliana minha recepcionista abriu a porta de vidro e entrou.

- Bi, sua mãe ligou e eu falei que você estava em aula e ela deixou recado.

- Espero que ela não tenha te deixado outra lista de recomendações. - falei sorrindo, depois que descobriu que seria avó, minha mãe mudou da água para o vinho.

- Por incrível que pareça ela só pediu que você fosse jantar na casa dela hoje.

Soltei um suspiro teatral.

- Tenho certeza que hoje vou comer sopa de berinjela e quiabo.

Juliana fez cara de nojo.

- Que horror amiga, acho melhor você arranjar uma desculpa qualquer e pedir uma pizza. - Rimos como duas bobas. - Preciso voltar para a recepção, logo a sua segunda turma chega. - me soltou um beijinho e foi embora.

Juliana era o meu braço direito e esquerdo ali no Studio B, além de carregar a função extra de melhor amiga. Ela e o Alfredo foram a minha tábua de salvação quando eu recebi a notícia da morte de Olavo, e tem sido a minha maior motivadora nesses últimos três meses, acredito que se não fosse pela a amizade deles e o apoio incondicional, esses últimos meses sem o Olavo, teriam me consumido.

Pensar nele ainda doía, nós dois éramos tão felizes juntos, enquanto dançava deixei os meus pensamentos me levarem para o dia que nos conhecemos.

Era uma tarde de domingo, o tempo estava fresco e agradável perfeito para um passeio de patins, estava sozinha em casa e minha mãe como de costume foi passar o final de semana em algum lugar mais badalado, desde a morte do meu pai há cinco anos que ela vem levando uma vida de futilidades, ficando ausente a maior parte do tempo. Quase não a vejo e eu estaria completamente sozinha naquela casa se não fosse pelos empregados.

A Dança da VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora