Bianca
Quando as minhas primeiras alunas começaram a chegar, eu já estava na barra me alongando.
Elas me saudavam e já iam para o seu cantinho começando também o alongamento, a primeira turma de hoje tinha oito alunas que já estavam bem adiantadas, então reforçaríamos o contretemps.
- Bonjour pricesses (bom dia princesas). - saudei a turma.
- Bom professeur du matin!!! (Bom dia professora!!!) - Um corro de vozes gritou em uníssono.
- Hoje reforçaremos o contretemps, que aprendemos na aula de ontem. Preparadas? - elas balançaram a cabeça em concordância. - Então vamos lá? Vou mostra como se faz e depois vocês repetem.
Fui para frente do espelho tendo a turma às minhas costas.
- O primeiro passo será composto de um coupé chassé, temps levé, chassé passé quinta posição, então vamos para direita em frente e continuamos com um coupé com a perna esquerda, chassé en avant com a direita, um temps levé sobre a perna direita, com a esquerda atrás em arabesque, e um chassé passé com a esquerda e terminando em quarta allongée, agora com o peso sobre a perna esquerda em demi-plié e a direita atrás em degagé a terre. Agora vamos lá?
As meninas se adiantaram até a barra de frente ao espelho e eu fui acompanhando, corrigido onde era preciso e reforçando.
- Isso mesmo, Agora um coupé chassé, temps levé, chassé passé quinta posição. - e a aula seguiu nesse ritmo até o final.
As alunas se despediram e foram saindo do salão, algumas mães ficavam na sala sentadas ao canto assistindo as aulas, outras vinham buscar no final.
A sala já estava vazia quando a Juliana minha recepcionista abriu a porta de vidro e entrou.
- Bi, sua mãe ligou e eu falei que você estava em aula e ela deixou recado.
- Espero que ela não tenha te deixado outra lista de recomendações. - falei sorrindo, depois que descobriu que seria avó, minha mãe mudou da água para o vinho.
- Por incrível que pareça ela só pediu que você fosse jantar na casa dela hoje.
Soltei um suspiro teatral.
- Tenho certeza que hoje vou comer sopa de berinjela e quiabo.
Juliana fez cara de nojo.
- Que horror amiga, acho melhor você arranjar uma desculpa qualquer e pedir uma pizza. - Rimos como duas bobas. - Preciso voltar para a recepção, logo a sua segunda turma chega. - me soltou um beijinho e foi embora.
Juliana era o meu braço direito e esquerdo ali no Studio B, além de carregar a função extra de melhor amiga. Ela e o Alfredo foram a minha tábua de salvação quando eu recebi a notícia da morte de Olavo, e tem sido a minha maior motivadora nesses últimos três meses, acredito que se não fosse pela a amizade deles e o apoio incondicional, esses últimos meses sem o Olavo, teriam me consumido.
Pensar nele ainda doía, nós dois éramos tão felizes juntos, enquanto dançava deixei os meus pensamentos me levarem para o dia que nos conhecemos.
Era uma tarde de domingo, o tempo estava fresco e agradável perfeito para um passeio de patins, estava sozinha em casa e minha mãe como de costume foi passar o final de semana em algum lugar mais badalado, desde a morte do meu pai há cinco anos que ela vem levando uma vida de futilidades, ficando ausente a maior parte do tempo. Quase não a vejo e eu estaria completamente sozinha naquela casa se não fosse pelos empregados.
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A Dança da Vida
RomanceA vida de Bianca Castro poderia ser facilmente confundida com a história de qualquer heroína de novela mexicana. Ignorada pelos próprios pais, aprendeu desde cedo a tomar conta de si mesma e por esse motivo tinha dificuldades em se racionar com as...