Capítulo 43 - O Abraço?

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"O melhor do abraço é fazer com que toda uma vida caiba em apenas alguns segundos"

Bianca

A distância era pouca, e eu pude escrutinar cada detalhe do rosto dele, desde a barba grisalha até os olhos castanhos no mesmo tom de âmbar dos meus. Depois de vinte e sete anos eu estava frente a frente com o meu pai e eu não sabia explicar o que estava sentindo naquele momento, uma espécie de pânico tomava conta de mim ao mesmo tempo em que uma paz parecia me envolver. Sei que parece confuso, eu estava confusa.

Sinto o meu coração acelerar e bater na minha têmpora, o Bernardo sorria para mim e eu pude perceber que os olhos dele enchiam de lágrimas. Um bolo se formou na minha garganta e eu engoli em seco ao mesmo tempo em que sentia os meus olhos arderem pelas lágrimas que começaram a se formar.

Com a ajuda das muletas o Bernardo dá um passo em minha direção e eu instintivamente dou um passo para trás. Eu estou em pânico, ele dá mais um passo e eu recuo outro. A Franciellen e a Camila me olham confusas. O Bernardo percebeu a minha confusão e os seus olhos imploravam por perdão. Será que eu estava preparada para perdoar? Mais um passo dele, mais um passo recuado meu. Me solto da mão da Francy e sinto as minhas lágrimas deslizaram pelas minhas faces. O Bernardo abre os braços me convidado para um abraço e eu sinto uma vontade absurda de correr e foi isso que fiz deixando todos atônitos inclusive a mim...

Eu corro para os braços abertos do Bernardo que me acolhe em um abraço que nunca recebi antes e que não sabia que me fazia falta até recebê-lo. Estou ali, no meio daquele calor tão gostoso, tão familiar? No meio daquele abraço me sinto pequenina e protegida. Meus braços envolvem o Bernardo e minhas mãos repousam em suas costas quentes. Sua mão direita vai para a parte de trás da minha cabeça e afaga carinhosamente os meus cabelos, enquanto os seus lábios beijam o topo da minha cabeça. As minhas lágrimas descem em trilhas pela minha face, lavando a minha alma e me preenchendo de um sentimento bom de aconchego.

- Minha pequena, como eu sonhei em ter você assim. - ele funga. - Não imagina o quão feliz você está me fazendo nesse momento. - ele me aperta mais. - Me perdoe pequena, me perdoe...

Eu afasto um pouco do seu abraço e toco o seu rosto. Aquela sensação de paz me envolve mais uma vez, me enxerguei refletida dentro da sua íris âmbar.

Se eu o tinha perdoado? Qual motivo eu teria para não fazê-lo? A minha mãe tinha me dado uma lição e eu aprendi que mágoas só envenenam a alma. Ela própria o havia perdoado, e sem perceber eu já tinha feito o mesmo. Ele chora, eu choro e percebo que toda a nossa audiência também chora. Eu olho fixamente nos olhos do meu pai e falo o que vem dentro da minha alma.

- Alguns dias atrás eu tive uma conversa com uma mulher maravilhosa, que embora tenha sofrido uma grande decepção que a marcou por toda vida, nunca guardou mágoas em sua essência. - Ele leva as duas mãos para o meu rosto e seca as minhas lágrimas, elas eram enormes e envolvem todo o meu rosto. Eu pouso as minhas mãos sobre as suas e vejo os olhos dele brilharem de emoção e lágrimas. - Eu tenho muito dessa mulher... Não apenas os cabelos vermelhos ou o sorriso, ou a cor da pele. - faço uma pausa, fecho os olhos e a imagem da minha mãe vem a minha mente. - Ela, o perdoou primeiro... E eu tenho muito orgulho de dizer que me pareço muito com ela. - dou-lhe um sorriso carinhoso. - Alguns acontecimentos me machucaram muito no passado, e eu cresci me perguntado o que havia feito de errado, porque me tratavam daquela maneira distante? Acabei me acostumando com a solidão e a carência. Mas nunca deixei essas situações me mudarem aqui. - aponto para o meu coração.

Bernardo segura as minhas duas mãos e as leva juntas aos lábios, beijando o nós dos meus dedos dobrados.

- Minha filha, eu sei que fui culpado por grande parte desse sofrimento, e mesmo que eu viva o resto dos meus dias tentando me redimir, não será o suficiente para apagar da sua memória esses fatos... Aqui dentro. - Ele aponta para o peito. - Tem muito amor que foi guardado todos esses anos para você. - Ele sorri e eu me vejo retribuindo aquele sorriso. - Embora nunca tenha me aproximado fisicamente de você, nunca me afastei propriamente. - Ele faz um gesto com a mão chamado a Camila que para ao nosso lado. - Essa mulher maravilhosa me apoiou nos momentos mais difíceis da minha vida, e quando eu pensei em desistir, foram às mãos dela que me deram uma direção e me sustentaram... Ela me deu a ideia de contratar um detetive e encontramos você em Mistral, daí então eu sempre recebia relatórios sobre você, suas conquistas, suas perdas... Cada dia ficava mais orgulhoso de ter uma filha tão linda, por fora e por dentro.

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