Capítulo 10

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Na tarde seguinte, saí sozinha com sacolas penduradas embaixo da capa. Não demorei para chegar na parte pobre da aldeia, distribuindo moedas para poucos conhecidos que moravam no local. Alguns me associaram ao nome Archeron pela cor dos olhos, confidenciando que não fui a única passando na porta deles.

— O que houve para todos estarem com tanto medo de sair? — Me sentei perto da mercenária que um dia me aconselhou sobre os feéricos.

— Não soube dos Beddor? — Ela balbuciou contando as moedas na mão. Prendi a respiração. — A casa deles pegou fogo, na calada da noite todos morreram. Você sabe quem causou esse estrago menina, eu vejo que sabe. O corpo da menina Clare não foi encontrado.

Minha língua ficou pesada. Ela continuou:

— E os Kempton...

— O q-que houve... Com os Kempton? — Me obriguei a falar.

— Eram podres com qualquer um fora de seu círculo rico, mas não mereciam um destino tão cruel. — Lamentou a mercenária friamente. — Bem que dizem que castigo do destino vem como uma lâmina cortar nossas gargantas quando menos esperamos.

— O...

— Aura Kempton desapareceu, talvez o destino quisera prolongar a caminhada dela nessa terra. Obrigada pelas moedas, jovem Archeron.

Não respondi, lágrimas cegaram minha visão e meu estômago embrulhou pesado. Corri de volta para casa aos tropeços. Eu e Feyre demos esses nomes a Rhysand, somos as únicas culpadas pelas mortes dessas famílias.

Era para ser a nossa.

O que quer que tenha acontecido em Prythian chegará nessas pessoas cedo ou tarde. Não estamos protegidos, não estávamos antes e não estaremos amanhã. Já respingou em nós.

Cheguei no palacete, encontrando minha família na porta de casa, Feyre correu em minha direção tensa.

— Os Beddor e os Kempton...

— Eu soube, foi um dia antes de chegarmos.

Eles precisam de nós, acho que algo aconteceu.

— Nós vamos salvá-los. — Assenti encarando papai, Nestha e Elain. — Sabem o que fazer se as coisas complicarem por aqui?

— Sabemos. — Nestha afirmou. Elain chorava, sabendo que partiremos outra vez além da muralha.

Montei no cavalo, esticando a mão para Feyre, ela subiu segurando meus ombros.

— Dusti. — Nestha chamou, os olhos refletem sua mente fria e calculista, ela sabe o que estamos arriscando voltando até a Corte. — Não exite, não olhe para trás, vamos nos cuidar aqui. Papai certa vez disse que vocês jamais voltassem, estou dizendo o mesmo agora.

Sei que esse é o melhor que ela pode oferecer, Nestha bem no fundo se importa.

— Há um mundo melhor lá fora Nestha, o encontre. — Fitei o rosto choroso de Elain com carinho. — Conheça o continente.

— Vamos nos encontrar novamente. — Feyre disse com convicção.

Balancei as rédeas fazendo o cavalo galopar para longe, passamos o dia inteiro na estrada para muralha, dormindo mal e seguindo viagem antes do sol.

⚔️

Dois dias, paramos em frente a mansão da Corte Primaveril encontrando apenas destroços. Não duvido que um exercito tenha marchado aqui dentro. Janelas estouradas, candelabros estilhaçados, uma ruína. Eles se foram. 

Segurando uma faca, vaguei pelos cômodos em busca de alguma alma viva. Entrei no escritório de Tamlin, vendo papéis no chão, suas mobílias em pedaços. Peguei um mapa, limpando a poeira que acumulou em cima.

Um mapa de Prythian. Verifiquei os outros papeis minuciosamente, puxando todas as informações que tinha na memória. Me inclinando na mesa e fechando os olhos.

Pense. Pense. Pense.

Minha mente desembaralhou o quebra cabeça peça por peça, tudo que vi e escutei durante a estadia nessa Corte, se encaixando. O ar fugiu do meu pulmão e arfei sentindo os joelhos fracos.

(...) Ela vai nos levar e você não faz o que tem que fazer.

(...) 49 anos e nenhuma tentativa de se salvar, salvar suas terras.

— (...) Vai contar a Amarantha?

(...) Não saber faz parte, você vai descobrir sozinha.

(...) As vezes só precisamos olhar.

— (...) Uma ambiciosa apaixonada é capaz de destruir muita coisa para ter o que quer, menina.

(...) A quase cinco anos uma comandante desobedeceu o rei Hybern. A ardilosa...

Ela.

A praga tem domínio sobre todos os grão-senhores, exceto Tamlin. O tempo dele acabou quando Rhysand veio até a Corte, nunca foi uma doença. Amarantha é a comandante rebelde de Hybern, está mantendo os prisioneiros em Sob a Montanha.

Uma maldição.

Soquei a mesa com força, me castigando por ser tão tola deixando meus sentimentos sobrepor a razão. Eu teria descoberto se me esforçasse mais, estava embaixo do meu nariz.

Razão.

Razão.

Olhar com a razão.

Encarei o mapa regulando a respiração, engolindo aquela culpa me corroendo. Caminhei de volta para sala encontrando Feyre conversando com Alis na entrada da mansão.

— Como chego em Sob a Montanha? — Minha voz não passou de um sussurro letal, a feérica virou-se assustada.

— Dusti, isso é suicídio. — Alis emitiu um estalo com a língua e encarou Feyre. — São mesmo irmãs, duas humanas com desejo de morte.

— Eu não acredito em destino, muito menos em um Caldeirão ridículo. — Feyre torceu o nariz.

— Mostre. O. Caminho. — Pedi pausadamente, determinada a acabar de vez com a tirania da maldita Amarantha. — Eu quero fazer isso pelo Lucien, por você. Aquelas pessoas precisam de ajuda e eu estou disposta a tentar mudar o rumo de vocês, custe o que custar.

Alis procurou algum traço de exitação em minha postura. Continuei encarando-a inexpressiva. Nunca mais vou baixar a guarda, relaxar custou muito, custou a liberdade de um amigo, eu poderia ter ajudado Lucien.

— Como quiserem.

CORTE DE PAIXÕES E SACRIFÍCIOS | ʳʰʸˢᵃⁿᵈOnde histórias criam vida. Descubra agora