As últimas horas no chalé, fazendo nada além das minhas necessidades básicas e sendo mimada, me deixou felizmente mais sossegada.
Minhas botas afundaram na neve quando corri para longe xingando, desacreditada que meu próprio urso de neve me perseguia rugindo, com seu nariz de pedra torto e braços de tamanhos diferentes. Tropecei de cara no manto branco fofinho, soltando um riso e escutando as sombras zombando do meu desastre.
— Péssima ideia, por mais entediada que eu esteja, minha própria criação não deve tentar me devorar! — Protestei movimentando a mão, fazendo ele se desintegrar, misturando-se em rodopios com a neve no chão.
Abri os braços e as pernas, mexendo-os para cima e para baixo enquanto divagava com as sombras. Será que Morrigan contou onde estou? "Não."
Será que o enxerido do Azriel descobriu? "Com certeza, mas está dando espaço."
É o mínimo. Nesse pouco tempo só, descobri por meio das sombras que o laço carranam é tão raro quanto perigoso. Exige uma extrema confiança entre ambos os Feéricos, pois em muitos casos a parte mais "fraca" teve seu poder inteiramente sugado. Já que não exige nenhuma conexão profunda entre almas — como a que tenho com Rhys — apenas na questão mágica. Contudo, apesar das omissões daquele espião mentiroso, somos compatíveis. Inferno, somos fodidamente compatíveis.
Agora entendo porque funcionamos tão bem treinando, a forma como nossos movimentos eram tão sintonizados e complementares. O jeito que a palavra irmão escorreu tão bem dos meus lábios, a ligação carranam fortaleceu essa sensação.
Encarei as estrelas, e tudo que me veio a mente foram olhos violeta brilhantes, carregando uma galáxia de nuances prateadas. Parceiro. Meu parceiro. Espero que meu sangue tenha sido o suficiente e ele esteja bem depois daquela tortura.
E espero também que ele esteja refletindo, que tenha entendido como até minha complacência tem um limite.
— Seu idiota... eu teria beijado você. — Sussurrei suspirando. — Demônio mentiroso. Demônio. Demônio. Demônio.
Espantei a imagem dele, sacudindo a cabeça em repreensão e quando levantei, me afastei para estudar o contorno que tinha ficado onde cisquei. Uma careta desgostosa entortou meu rosto, chutei neve em cima e voltei andando para o chalé.
Terminei o resto da noite explorando todos os cantos da casinha pitoresca, encontrando armas escondidas em cada buraco próximo. Livros de receitas manchados, roupas esquecidas, instrumentos... Como se cada um do círculo íntimo tivesse deixado uma parte sua guardada aqui.
Na dispensa próxima à cozinha, haviam inúmeros potes de tinta, pincéis de diversos tamanhos, telas e lápis de carvão. Tudo que eu precisaria para rabiscar pelos próximos dias.
Assim que acordei, vesti um sueter cinza velho preparada para sujá-lo e carreguei alguns materiais para fora do cubículo, esbarrando nos móveis e resmungando. Prendi o cabelo longo no topo da cabeça, com um elástico de couro que encontrei perdido na gaveta, formando um ninho de passarinho e fui ao trabalho.
Pintei a tarde inteira, usando todas as telas em tempo recorde. E quanto a noite chegou, não me importei de continuar colorindo as paredes. O chalé sempre me servia uma porção de frutas quando murmurava faminta. Só não pintei o teto, porque meus braços feéricos ainda conseguiram a proeza de continuar curtos mesmo em cima de uma cadeira.
Se a Amren não existisse, eu entraria em crise existencial. Infelizmente, nem a magia de sete grão-senhores resolveu o problema com meus 1.56, agora tenho 1.60, não mudou muita coisa se tratando da altura feérica.
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CORTE DE PAIXÕES E SACRIFÍCIOS | ʳʰʸˢᵃⁿᵈ
FanfictionDustina é a terceira filha do casal Archeron, a jovem caçadora carrega uma pilha de duras responsabilidades nas costas e luta todos os dias para proteger a família, principalmente a irmã mais nova. Tendo que cumprir as regras de um Tratado, ela emba...