Capítulo 45

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Levantei procurando nas redondezas, me mantendo firme na neve e pronta para resistir a qualquer impacto. Esperando ansiosamente as sombras me dizerem algo que eu não estava vendo, mas elas permaneceram em silêncio. O Attor está aqui, não consigo me concentrar para acender nem uma maldita vela nesse momento, não vou brincar com a sorte.

Encarei o bilhete e a ideia mais estúpida que já tive surgiu, lentamente me inclinei escutando tudo ao meu redor. Assim que meus joelhos se curvaram, consegui escutar uma respiração pesada se aproximando. Seus passos sorrateiros afundando na neve, acho que está tentando me surpreender.

Contei até três antes de levantar usando o gancho de direita que Cassian me ensinou. Comprovei a eficácia do golpe quando o feérico cambaleou para trás soltando um bramido desorientado.

— Sua desgraçada! — Ele rosnou e eu me preparei para colocar tudo que aprendi em prática. Az e Cassian vão ficar orgulhosos.

Quando tentou se aproximar para retribuir o ataque, noite explodiu ao nosso redor o engolindo em espirais turbulentos, prendendo o Attor contra um carvalho coberto por neve. Verifiquei minhas emoções e os muros mentais, procurando algo que tenha alertado Rhysand do meu problema e não havia nada além de calmaria.

O senhor da noite encarava nosso inimigo feérico com seriedade fria, lindo como a morte encarnada.

— Estava me perguntando por onde você teria rastejado. — Quando ele disse isso, sem surpresa nenhuma em vê-lo, me toquei do que estava acontecendo.

Por isso ele insistiu para que eu ficasse sozinha e longe de casa!

As sombras cobriram meu rosto, tentando inutilmente esconder minha feição tempestuosa de Rhysand. Fiz questão de mandar aquele sentimento de revolta pelo acordo que nos enterligava. Você me usou como isca, e sem me avisar, porra? Berrei em sua mente.

Eu? Retrucou cínico. Jamais faria isso, linda.

Rhysand trocou o peso dos pés ainda encarando o Attor, impaciente com a situação, me mandei com passos lentos na neve, ignorando a conversa que eles estavam tendo. Custava me avisar que eu seria o coelhinho esperando o predador? Ainda mais hoje que acordei especialmente desconcentrada e ele sabia!

As sombras me rondavam inteira, tornando minha passagem um vulto preto ambulante. Senti a presença de Azriel, mas apenas o vi quando pousou na neve, lançando-a pelos ares. Não tinha um pingo de bondade em seus olhos avelã, bastou uma encarada para o Attor, que o miserável se borrou nas garras de Rhysand.

Continuei caminhando na nevasca, planejando mil formas de enfiar na cabeça de Rhysand que odeio não planejar nada, odeio ficar no escuro. O que infernos ele tinha na cabeça? Vou queimar a bunda dele!

Dá próxima vez que tentar levá-la; matarei primeiro, perguntarei depois. — Escutei seu ronronado colérico. Em seguida o grito do Attor quando atravessou com o mestre-espião.

Rhysand surgiu na minha frente, com as mãos no bolso, absolutamente relaxado, nem parece que me enfiou no seu plano, sem avisar. Afastei as sombras revelando meu olhar cabreiro, em resposta ele sorriu trapaceiro.

— Queria ver qual deles tentaria primeiro quando a visse sozinha.

— Você deveria ter me contado a partir do momento que saímos do palacete! Não gosto de me sentir despreparada. — Choquei a palma contra seu peito na intenção de empurrá-lo do caminho.

Rhys recuou um passo. Aquela força nunca desapareceu. Na Tecelã, nos treinamentos, quando soquei o Attor.

— Dá próxima vez eu contarei. — Escolheu bem as palavras, soando enfadado.

CORTE DE PAIXÕES E SACRIFÍCIOS | ʳʰʸˢᵃⁿᵈOnde histórias criam vida. Descubra agora