Capítulo 30

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Me olhei no espelho, terminando de colocar o diadema de folhas prateadas atrás da cabeça. Esse belo vestido foi um presente de Alis, já que passei meu tempo ocupada com o da noiva. Eu estava uma beleza de flores e verde-água, pronta para levar Feyre até o altar.

As sombras dançavam pela saia longa, às vezes se escondendo embaixo dela como se quisessem estar bem longe da cerimônia. Elas tem vontade própria pelo que percebi, Lucien disse que o único que poderá me ajudar está na Corte Noturna. O mestre-espião de Rhysand tem o mesmo dom.

Azriel. As sombras concordaram. Semelhante atrai semelhante.

Balançando a cabeça, peguei a caixa com o vestido, saindo pelos corredores apressada com medo de esbarrar na grã-sacerdotisa venenosa. Não gosto daquela mulher, posso estar sendo uma implicante, mas as sombras e meus instintos gritam cobra quando Ianthe está por perto.

Empurrei a porta do quarto de Feyre, vendo ela quase enlouquecendo na frente do espelho. Vestida com aquela monstruosidade colorida de tule e chiffon.

Entrei provocando-a.

— É aqui que está minha irmã com obsessão em se vestir de bolo?

— Odeio esse vestido. Odeio você e seu sarcasmo. Odeio-

— Mas que noiva revoltada. — Lancei uma careta debochada para o espelho, limpando a poeira do meu vestido.

— Estou me sentindo feia, no dia do meu próprio casamento. — Feyre comentou.

Talvez seja um aviso do destino para não se casar com Tamlin. Argumentei mentalmente.

— Não é para menos. — Murmurei ficando próxima de seu ombro, ela abriu um sorriso me encarando dos pés a cabeça.

— Você está maravilhosa.

Toquei seu ombro, a mão tatuada se enterrando na manga bufante. A virei de frente para mim.

— Você também ficará.

Coloquei a grande caixa marrom em suas mãos, ela franziu a testa tirando a tampa. A reação foi instantânea, ela ficou momentaneamente boquiaberta, seus olhos brilharam com fascínio, puxando o vestido na frente do corpo.

— Dusti, esse vestido está magnífico, mais bonito do que eu poderia imaginar um dia. — Sibilou em um fio de voz.

— É seu, tire essa coisa feia e coloque-o. — Apanhei a caixa. — É tortura demais ver um bolo com pernas pela segunda vez.

— Não sei se fico feliz ou indignada. — Feyre bufou. — Venha me ajudar aqui.

— Onde abre isso? — Meus braços foram engolidos pelo tule. Xinguei e ela deu risada. — Merda, não acredito que estou me perdendo nesse mar de tecido, pode parar de se divertir e me ajudar?

— Não sei onde, eu apenas entrei dentro. — Feyre deu de ombros.

Rolei os olhos desistindo e acabei rasgando o vestido em duas partes, assustando-a. Feyre estreitou os olhos me encarando, enquanto eu arremessava a pilha de tecidos embaixo da cama.

Ela pôs o que eu fiz com delicadeza para não bagunçar o penteado. O branco esvoaçante era cravejado com flores no corpete, demarcando seu busto. E a saia armada leve, diferente da anterior, dava acesso para ela se mover com mais facilidade.

Feyre se admirou antes de colocar as luvas. Ianthe exigiu que a gente usasse, eu descartei as minhas na gaveta. Não estou me escondendo de ninguém.

— Estou pronta. — Ela limpou a garganta. — Eu acho. — O sussurro inaudível não escapou dos meus ouvidos feéricos.

— Você está pronta mesmo? — Parei diante da porta. — Ainda tem a opção de desistir, vou apoiar você se decidir que sim.

Desiste pelo amor de tudo que é mais sagrado. Desejei em silêncio, prendendo a respiração e aguardando sua resposta.

— Vou me casar. — Feyre entrelaçou nossos braços, escondi minha feição lamentável.

Descemos o corredor principal com passos lentos, recebendo olhares admirados dos feéricos. Adentramos o jardim, condecorado com flores e mais de trezentas cadeiras. Portas duplas bloqueavam nossa visão do altar, onde o loiro detestável aguardava.

Deixei a noiva parada, dando uma espiada na multidão de convidados. Muitos, muiitos feéricos e grão-feéricos estavam presentes.

Alis veio correndo quando seus olhos percorreram o vestido de Feyre, ela me lançou um sorriso satisfeito, acenando positivamente. Ianthe por outro lado, só faltou me matar com olhares quando passou por nós, continuei inexpressiva com a mão tatuada coçando o queixo propositalmente.

— Não fique nervosa, menina. — Disse Alis.

— Não estou. — Disparou Feyre, mentindo na cara dura, pois quase consigo tocar seu nervosismo de tão forte.

— Está se mexendo como meu sobrinho mais novo durante um corte de cabelo. — Alis ajeitou as luvas de seda cobrindo os braços dela. — Você está linda.

— Obrigada.

— Mas parece a caminho do próprio funeral. — Acrescentou a feérica.

As portas se abriram com algum vento imortal e se ouviu uma música alegre. Me aproximei estendendo o braço, ela segurou tentando regular a respiração.

— Não me deixe cair. — Apertou meu braço.

— Nunca. Terá terminado mais rápido do que você consegue piscar. — Demos o primeiro passo juntas.

Trezentas pessoas ficaram de pé e se viraram em nossa direção. Caminhamos sob a grama, pisando nas pétalas brancas e... Engoli seco erguendo o olhar rapidamente, tentando ignorar as pétalas vermelhas.

Minha espinha tensionou, os olhos traidores caindo no chão contra minha vontade. Pareciam gotas de sangue trilhando o caminho até o altar.

Os dedos de Feyre afundaram na carne do meu braço, ela grudou nele, encarando o caminho adiante pálida. Quanto mais nos aproximávamos, mais aquele borrão vermelho aumentava.

Um punhado de pétalas vermelhas pairava adiante; exatamente como o sangue daquela moça feérica que se empoçara aos meus pés. Feyre estagnou, me fazendo parar junto. Todos nos encararam, testemunhas do crime que cometemos com almas inocentes.

Assassina mentirosa. Indigna, suja. Assassina asquerosa.

As sombras subiram pelo meu corpo se agitando, escondendo meu rosto arfante, meu coração acelerou forte, aquela cor voava por toda parte gatilhando as memórias que me atormentavam.

— Feyre. — Tamlin estendeu a mão, mas minha irmã só conseguiu encarar Lucien, como se pedisse socorro.

As pétalas se arrastaram com o vento, grudando em meu vestido, neguei com a cabeça batendo no tecido para tirá-las. Não... Socorro. Não quero mais ver. Preciso sair. Ajude-me. Ajude-me. Acabe com isso. Implorei sem conseguir articular as palavras.

Meus movimentos se tornaram desesperados. Feyre soltou meu braço recuando um passo para longe do altar.

— Venha, noiva e una-se a seu verdadeiro amor. — Disse Ianthe docemente. — Venha e deixe que o bem triunfe por fim.

Eu queria correr para longe daqueles olhares, meu corpo suava frio e a garganta fechou impedindo a passagem de ar. Socorro. Socorro.

Trovão ressoou atrás de mim, como se duas pedras tivessem sido chocadas uma contra a outra. Pessoas gritaram, caindo para trás, e algumas desapareceram imediatamente quando a escuridão irrompeu.

Eu me virei com um salto, em meio à noite que flutuava como fumaça ao vento, encontrei Rhysand ajeitando as lapelas de seu casaco preto. Seus olhos lilases encontraram os meus, sorrindo felino.

— Olá, Dusti, querida. — Ronronou ele.

CORTE DE PAIXÕES E SACRIFÍCIOS | ʳʰʸˢᵃⁿᵈOnde histórias criam vida. Descubra agora