Capítulo 14

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Ficamos naquela cela por horas, ou dias, não consegui contar depois de inumeras refeições e cochilos mal dormidos. Não tomamos banho em nenhum momento, minha pele estava quente e pesada com a sujeira acumulada. Eu e Feyre decidimos nos manter afastadas para o bem dos nossos narizes sensíveis.

— Dusti, eles estão vindo. — Ela avisou sussurrando.

— Finalmente. — Me levantei, encostando na parede. — Não aguento mais ficar nesse escuro.

Feéricos de pele vermelha, abriram a cela nos puxando sem delicadeza nenhuma. Encaminharam a gente pelos corredores da masmorra, memorizei o caminho até o salão subterrâneo, guardando na mente tudo que via pela frente.

Fomos jogadas em frente ao trono de Amarantha, o centro iluminado pelos candelabros, mostrando apenas nós duas no centro da roda. Parecendo meras suditas da broaca ruiva. Os guardas se afastaram nas sombras.

Amarantha sorriu para mim, me dando todo seu ódio velado através daquele gesto viperino. Usava um vestido tão vermelho quanto seus cabelos e lábios pintados.

Ergui o queixo dando-lhe meu desdém acumulado, me divertindo com a expressão desgostosa que deformou suas feições.

— Vocês parecem completamente destruídas. — Pontuou Amarantha, e se virou para Tamlin, ao lado. A expressão dele permanecia distante, rolei os olhos, achando a atitude da Grã-rainha patética. Não me importo com a atenção dele, se ela quer provar algum ponto está perdendo tempo. — Não diria que elas parecem abatidas?

Tamlin não respondeu, a ignorando.

— Sabe... — Ponderou Amarantha, recostando-se ao braço do trono. — Não consegui dormir ontem à noite, e percebi por que esta manhã.

É sua alma podre com medo de dormir e ser morta pelo primeiro sortudo que conseguir encontrá-la. Ou o peso na consciência talvez, isso se você tiver uma, é claro... Meus pensamentos quase foram postos em palavras, mas uma risada grossa e sensual ecoou, arregalei os olhos procurando na multidão, me dando conta que somente eu ouvi, em minha mente.

Amarantha continuou.

— Não sei seus nomes. Se nós três seremos amigas durante os próximos três meses, eu deveria saber... não deveria?

Feyre torceu os lábios e eu franzi a testa, raspando a costa do dedo indicador na ponta do nariz, uma mania que adquiri para mascarar indignação.

Ela não pode estar falando sério.

Não respondemos. Quanto menos informações ela tiver de nós, melhor.

— Vamos lá, queridinhas. Sabem meu nome, não é justo que eu saiba o de vocês? — Seu tom suave não me enganou nenhum pouco. — Afinal de contas, — Amarantha gesticulou com a mão elegante para o espaço atrás, e o cristal que encapulsava o olho refletiu a luz. Ouvi os guardas murmurando o nome Jurian. — Vocês já descobriram as consequências de dar nomes falsos.

— Fará alguma diferença na sua vida saber o nome de duas humanas? Aposto que não. Comece a reaver seu senso de justiça, quando é a única mantendo sete cortes aprisionadas! — Feyre pisou no meu pé, me fazendo resmungar um xingamento. Eu estou perdendo a compostura? Sim, mas Amarantha me tira do sério  com essa falsidade.

Ela já me odeia mesmo, mais uma resposta malcriada não fará ela querer me torturar menos.

— Tem razão. Rhysand. — Concordou Amarantha, relaxando no trono. O nome dele tirou o ar que eu respirava, escutei seus passos casuais se aproximando.

Rhysand parou atrás de mim, sentia sua presença crescendo em minhas costas. Muito, muito perto.

Me arrastei um passo para o lado, encarando o Grão-Senhor da Corte Noturna, se curvando em uma profunda mesura. A noite irradiava dele, como uma capa quase invisível. Era tão claro que ele não queria reverenciar Amarantha, de alguma forma eu sabia, sentia, que Rhysand se revirava por dentro a cada gesto submisso para com a rainha.

CORTE DE PAIXÕES E SACRIFÍCIOS | ʳʰʸˢᵃⁿᵈOnde histórias criam vida. Descubra agora