Capítulo 50

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   Conseguimos entrar após enganar o selo e eu já sentia uma enxaqueca terrível martelando minha cabeça. Havia um pedestal no centro da câmara vazia, e em cima dele uma caixa de chumbo. Se eu tiver que abrir outra tranca, vou dar uma de Cassian e sair destruindo tudo.

Quem armou essa peripécia, devia estar pensando que o ladrão desafortunado desistiria na primeira porta, e ainda sim, quis deixar esse presentinho para fortalecer sua decisão.

Levantei o olhar da caixa, percebendo que uma parede imensa na minha frente, era composta somente por água. Como se houvesse um painel de vidro a segurando, esperando apenas um mecanismo se mover para soltá-la.

Procurei algum gatilho ao redor e lentamente, meus olhos repousaram no conteúdo que guardava o Livro.

— Sejamos rápidas. — Ordenou Amren atenta.

Peguei a caixa colocando-a no chão e felizmente nada aconteceu. Luz feérica acendeu atravessando o chumbo, a magia Estival.

Quem é você... O que é você?
Chegue mais perto, me deixe sentir seu cheiro, me deixe vê-la...

Paramos de lados opostos do pedestal, encarando a caixa com nervosismo.

— Nenhum feitiço. — Disse Amren, a voz pouco mais alta que o raspar de suas botas na pedra. — Nenhum feitiço. Precisa carregá-lo para fora. A maré está voltando. — Acrescentou verificando o teto.

O livro sabe, sente que não sou o Tarquin. Amren parecia ler meus pensamentos quando me encarou e disse:

— Talvez o mar também saiba. Talvez o mar seja o servo do Grão-Senhor.

As sombras se agitaram sussurrando:

"Há poucas chances."

"Estão dentro da armadilha."

"Faça ele acreditar em você."

Somos os coelhinhos prestes a abocanhar uma isca. Apertei os lábios me negando a ter medo, foquei no que realmente interessava e toquei a caixa. Amren assentiu se preparando para corrermos.

Quem é você, quem é você, quem é você...

Sentia sua dúvida me puxando para perto feito um imã. Sou verão; sou mar e sol.

— Vamos lá, vamos lá. — Murmurou Amren.

Escutei o som das pedras rachando, derrubando uma chuva de pedregulhos e algumas gotas de água.

Quem é você, quem é você, quem é você...

Sou Tarquin; sou Grão-Senhor; sou seu mestre.

A caixa se calou e eu não esperei para saber se tinha acreditado. Peguei ela nos braços, sentindo a frieza do metal ferir minhas mãos e o poder percorreu meu sangue, como uma mancha de óleo.

Antes que saíssemos, uma voz antiga e cruel sibilou: Mentirosa.

E a porta bateu.

— Não! — Gritou Amren para a porta, o punho como uma forja radiante golpeando contra o chumbo, uma, duas vezes.

E acima, a corrente de água começou a escorrer escada abaixo, enchendo a câmara muito rápido. Tentei puxar meu poder para domar a água, mas ele fraquejava antes que conseguisse. Livro desgraçado!

Cheguei à porta, guardando a caixa no grande bolso interno do casaco de couro, enquanto a palma da mão incandescente de Amren pressionava a porta, queimando, aquecendo o metal, espirais e redemoinhos irradiando.

CORTE DE PAIXÕES E SACRIFÍCIOS | ʳʰʸˢᵃⁿᵈOnde histórias criam vida. Descubra agora