Capítulo 44

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ALFONSO

Eu não suo. Já tinha levantado no tribunal e voado para o meu assento quando uma testemunha mudou seu depoimento e o juiz estava me encarando com severidade ― nada de suor. Ainda assim, de alguma forma, naquele dia, eu tive que secar a testa, e o guardanapo grudou nas minhas mãos suadas.

Por que eu tinha que fazer isso hoje? Eu não estava pronto. Ben não estava pronto. Mas isso não iria impedir minha ex-esposa. Ela ameaçara contar a Ben quando eu o devolvesse naquela noite, se eu não contasse, e, apesar de ela não ser uma mulher de palavra, eu tinha certeza de que ela cumpriria essa ameaça.

Era a segunda vez, em muitas semanas, que eu estava canalizando meu pai. Arranque o band-aid era seu clichê favorito. Só esperava que a expressão de Ben não se parecesse em nada com a de Anahí quando terminei tudo.

Me virei para Ben, que estava gargalhando assistindo a desenhos, e olhei meu relógio. Merda. Eu estava sem tempo para enrolar.

— Ben? Amigão? Preciso conversar com você sobre uma coisa antes de você voltar para a mamãe hoje. Acha que pode desligar a TV?

Ele se virou para mim, um garoto muito tranquilo e doce.

— Ok, papai.

Depois de se levantar e pegar o controle da mesa, ele se sentou de volta e se virou, me dando sua total atenção. Minha boca, de repente, ficou seca, dificultando para falar. Não havia jeito fácil de falar isso para uma criança, independente do quanto eu fosse devagar.

— Está tudo bem? Você está fazendo a cara que eu faço antes de vomitar— Ben se levantou.— Quer que eu pegue um balde igual você faz para mim quando vomito?

Dei risada de nervoso.

— Não, amigão. Não preciso de um balde.

Pelo menos, eu acho que não.

— Sente-se. Quero conversar com você sobre eu ser seu pai.

— Você não vai mais ser meu pai? É por isso que não me leva mais para sua casa?

Talvez eu precise, sim, daquele balde.

— Oh, Deus. Nada disso. Eu nunca vou parar de ser seu pai. Mas... — Porra, aqui vai. — Mas algumas crianças são sortudas e têm mais de um pai e uma mãe sabe.

Seus olhos se iluminaram.

— Você vai se casar com Anahí?

Jesus. Aquilo doía em muitos níveis.

— Não acho que isso vá acontecer, Ben. Não.

Ele estava ficando empolgado e desatou a falar.

— Porque Mikayla da escola tem uma madrasta. Seus pais são divorciados como você e mamãe, e agora ela tem duas mamães.

— Não. Bom, sim. Não. Quase isso. O negócio é que... na verdade, eu sou o seu padrasto.

— Então eu tenho dois pais? — Ele franziu o nariz.

— Tem. Quando você nasceu, sua mãe e eu éramos casados. Eu não sabia que você não era meu... — Senti as palavras começarem a se acumular na minha garganta e precisei de alguns segundos para não demonstrar o quanto eu estava magoado. Precisava que Ben soubesse que o que eu estava lhe contando não causaria nenhum efeito em nosso relacionamento, e meu choro não enviaria o recado correto.

Comecei de novo.

— Eu não sabia que você não era... meu filho, biologicamente falando, até anos depois que você nasceu.

Na Contramão do Amor- AyA Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora