Capítulo 19

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ALFONSO

Véspera de Ano-Novo. Quatro anos atrás.

— Quem são essas pessoas? — Robert perguntou. Ele estava sentado na varanda do meu apartamento no escuro, fumando um cigarro enrolado à mão, quando escapei para fugir alguns minutos.

— Talvez você soubesse se estivesse lá dentro em vez de aqui fora. — Me sentei ao lado dele e olhei para o mar de luzes que era a cidade de Nova York. — Está frio pra caralho.

— Você viu os peitos daquela loira de blusa azul?

— Aquela é Sage. Uma das amigas de Alexa.

— Ela não é das mais espertas. Eu estava brincando e disse que conseguia saber sua idade apenas tocando-a.

— Não me diga que ela deixou você passar a mão nela?

A ponta do cigarro de Rob se iluminou com um vermelho brilhante quando ele deu uma longa tragada.

— Deixou. Depois de eu dar uma boa apertada, ela me perguntou quando tinha nascido. — Ele soltou uma sequência de anéis de fumaça. — Eu respondi "ontem" e vim sentar aqui fora.

Dei risada. Maldito Robert. Ou ele ficava bêbado ou se dava bem, e, às vezes, eu me perguntava qual opção ele mais gostava.

— É. Alexa tem um talento para escolher amigas.

— Parece que, pelo menos ela sossegou em Nova York. — ele comentou

De fora, pelo menos naquela noite, parecia assim. Foi com certeza melhor do que ela saindo sozinha no ano anterior, seguido por uma briga descomunal até começar o novo ano, quando eu a questionara sobre o cara que a levou para casa.

Neste ano, nosso apartamento estava cheio com todas as amigas que ela fizera nos últimos quatro meses desde que nos mudamos de Atlanta para Nova York. Mas a verdade era que ela ainda reclamava diariamente por deixar suas amigas para trás.

— Ela fez algumas amigas. A maioria é da aula de interpretação que está fazendo e da academia. Eu estava torcendo que ela encontrasse amigas que têm mais em comum com ela... talvez algumas mulheres do Mamãe e Eu, mas ela diz que todas são vadias gordas e que usam moletom.

— Se esses moletons forem parecidos com o da loira, talvez eu pegue seu filho emprestado para levar à aula de Mamãe e Eu.

Nós dois ficamos quietos por alguns minutos, curtindo a paz da noite clara. A voz de Robert estava séria quando ele falou de novo.

— Como está A.H?

A.H era o apelido do meu pai, abreviação de Alfonso Herrera. Nenhum de nós usava o nome completo... Eu era Poncho, e ele sempre foi A.H.

— Não está bem. Espalhou para um pulmão agora. Parece que vão precisar retirar uma parte.

— Porra. Sinto muito, amigo. A.H é jovem demais para essa merda.

Quatro meses antes, meu pai tinha ido ao médico para um check-up anual e seu exame de sangue revelou que as enzimas do fígado estavam baixas. Dois dias depois, ele foi diagnosticado com câncer de fígado. Embora as estatísticas não estivessem a seu favor, quinze por cento de chance de sobrevivência de cinco anos a partir do diagnóstico, ele estava otimista. Havia suportado meses de quimioterapia pesada, que o deixava muito enjoado, só para ouvir, no dia seguinte que terminou a última sessão, que o câncer tinha sofrido metástase para o pulmão.

— É. Fico feliz que pude estar aqui para ele. Ele tem uma pancada de amigos e negócios, mas, sem uma esposa para cuidar dele, eu precisava voltar para Nova York.

— Estava começando a pensar que não iria voltar.

— Acho que esse era o plano de Alexa.

Sempre pretendi voltar para Nova York a fim de trabalhar com meu pai. Depois que passei na Ordem, Alexa tinha me implorado para ficar em Atlanta mais um ano. Significava ter que passar por mais um exame da Ordem, mas eu estava tentando fazê-la feliz enquanto ela se ajustava à maternidade então concordamos em ficar em Atlanta por mais um ano. Um se tornou dois e, até meu pai ficar doente, acho que era o plano de Alexa continuar pedindo mais um ano a cada ano.

— Ela vai se adaptar. Gosta de compras e resolveu fazer aulas de atuação. Aparentemente é algo que ela sempre quis, mas nunca mencionou até se inscrever na primeira aula. — Dei de ombros. — Que seja, se isso a deixa feliz.

Robert olhou para mim.

— E você? Ela o faz feliz?

— Ela é uma boa mãe.

— Minha mãe também. Mas não significa que eu queira fodê-la e passar o resto da minha vida ao lado dela.

— Você tem um jeito único de ver as merdas.

— Estou transando com uma professora de ioga; ela gosta dessas coisas introspectivas. — ele retrucou

— Tenho certeza de que é por isso que está com ela. Não porque ela consegue erguer a perna no próprio ombro.

— A única hora que ela fica quieta e para de me instruir com sabedoria inútil é quando está com as pernas nos ombros. Meu pau age como um ralo em uma banheira cheia de frases sábias.

Dei risada e me levantei, dando um tapinha nas costas do meu amigo.

— Venha, vamos voltar para a festa. Minhas bolas estão congelando, e quero ver como Ben está. Está ficando muito barulhento aqui.

Andando pela festa cada vez mais cheia, cheguei ao quarto do meu garotinho. Tão doce, ele até sorria enquanto dormia. Ok, talvez fosse só impressão, mas sua boca estava relaxada e depois se curvou em um sorriso por alguns segundos. Ele devia estar sonhando com seus carros de corrida e uvas, suas duas coisas favoritas nos últimos meses.

Puxei a coberta até seu queixo e passei os dedos por suas bochechas macias. Deus, nunca sonhara que poderia amar tanto alguém no mundo. Meu coração se apertou no peito momentaneamente enquanto me perguntei se meu próprio pai tinha me olhado da mesma forma há uns vinte anos. Eu precisava que meu pai melhorasse. Queria que ele conhecesse meu filho e me ensinasse a ser o tipo de pai que ele foi para mim.

Eu não era um cara religioso, a última vez que estive na igreja foi em meu casamento obrigado com Alexa. Antes disso, provavelmente foi em um funeral. Mas tinha uma pequena cruz pendurada ao lado do berço do meu filho. Olhava para ela todos os dias, mas nunca realmente a via como mais do que uma decoração.

Não doeria tentar.

Ao lado do berço de Ben, fiz uma curta oração para Deus zelar por meu pai e meu filho.

Estávamos de volta a Nova York há quatro meses, e aquela cruz esteve pendurada na parede ao lado do berço dele o tempo todo. Porém, quando abri a porta para voltar à festa, a cruz caiu no chão.

Esperava que não fosse um sinal. 

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Na Contramão do Amor- AyA Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora