ANAHÍ
O restante da semana foi tão maravilhoso como a noite de cinema. Ficar na casa com Alfonso e Ben me mostrou muito mais sobre ele do que eu teria visto em dúzias de encontros. Fiquei pensando que isso deveria fazer parte do ritual de namoro. No segundo ou terceiro encontro, o homem deveria trazer uma criança, talvez uma sobrinha ou um sobrinho, se não tivesse filho, para que se pudesse ver sua relação com eles. Cortaria caminho para a decisão final melhor do que seis meses de namoro.
Mesmo que tomássemos café ou jantássemos juntos todos os dias, Alfonso sempre conseguia encontrar tempo para nós três juntos e para apenas eles dois. Estava começando a sentir como se fosse minha própria família. Mas, no fundo, sabia que as coisas não seriam sempre assim. Alexa retornaria no dia seguinte, e eu não sabia o que iria acontecer. Estava definitivamente curiosa para conhecê-la.
Naquela tarde, eu ficaria com Ben sozinha por algumas horas enquanto Alfonso ia a um depoimento que ele não podia reagendar. Ele planejara pedir para uma das professoras-assistentes da escola do Ben que ficava com ele às vezes, mas insisti que poderia dar conta.
Alfonso tinha uma coleção de filmes a que poderíamos assistir no seu apartamento, e eu tinha comprado pipoca Jiffy Pop. Ficar de babá seria facinho.
Ou foi o que pensei.
Então precisei ligar para o celular de Alfonso e interromper seu depoimento por dez minutos após ter começado. Para lhe dizer que precisávamos ir ao hospital.
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— Desculpe. — Era a milionésima vez que eu dizia. Estávamos em uma salinha com cortinas no mesmo pronto-socorro a que fomos para ver meu tornozelo torcido há menos de uma semana. Só que, desta vez, era Ben que estava sendo examinado.
— Incidentes acontecem. Foi um acidente. Agora ele sabe que não é para tocar no fogão.
— Eu deveria saber. — Ben e eu tínhamos feito a pipoca juntos. Ele nunca tinha visto pipoca feita daquela forma. Seus grandes olhos cor de esmeralda cresceram como círculos assistindo à pipoca estourar dentro do alumínio. Quando os estouros diminuíram, e parecia que o pacote iria explodir, deslizei-o do fogão para uma superfície mais fria e abri um pouco o topo para permitir que a fumaça saísse. Quando Ben foi mexer no armário dos filmes, pensei simplesmente em ir ao banheiro. Fiquei fora da cozinha por menos de três minutos, pensando no quanto a tarde estava boa ao lavar as mãos... quando a gritaria começou.
O pobrezinho do garoto tinha voltado para o fogão e, sem saber que ainda estava quente, tentou apoiar-se para ver a fumaça sair do pacote Jiffy Pop. Sem saber, ele colocou a mão inteira no cooktop ainda quente.
— O fogão da mãe dele é a gás. Eu deveria ter explicado que a superfície ficava quente quando comprei o novo fogão há um ano. Não é sua culpa. É minha.
— Nem está doendo muito mais. — Ben deu de ombros. O menino era um guerreiro.
O médico disse que foi uma simples queimadura de primeiro grau e aplicou uma pomada, depois enfaixou a mão de Ben com gaze por dentro e bandagem por fora.
Coloquei a mão no joelho de Ben.
— Desculpe, querido. Eu deveria ter te falado que ficava quente mesmo quando mudava de cor.
Pouco depois, uma enfermeira veio e nos deu instruções, um tubo de pomada e um pouco de gaze para usar no dia seguinte para que não precisássemos comprar logo. Mesmo que todo mundo tratasse isso como se fosse uma ocorrência normal, eu ainda me sentia uma bosta.
Na primeira vez que Alfonso me deixou sozinha com seu filho, eu o machuquei.
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— Pareço um boxeador! — Ben anunciou no caminho do hospital para casa. — Pai, pode enfaixar minha outra mão? E talvez comprar essa coisa vermelha? — Ele apontou para a bandagem.
— Claro, amigão.
Os dois estavam agindo normalmente, mas eu me sentia horrível. Alfonso se esticou e colocou a mão no meu joelho enquanto dirigia.
— As pessoas vão começar a olhar engraçado para mim com vocês dois.
Franzi o cenho.
— Você está com bota, e ele, com a mão enfaixada.
Cobri a boca.
— Ah, meu Deus. Imagine... eles olharem engraçado para você, sendo que as duas coisas foram totalmente culpa minha.
Alfonso baixou a voz.
— Sério, vejo você sentada aí procurando todo tipo de culpa. Foi um acidente. Poderia ter sido eu fazendo a pipoca, e a mesma coisa teria acontecido.
— Mas não foi.
— Pare de se martirizar. Dois meses atrás, ele ficou com olho roxo por bater de cara no armário enquanto estava com a mãe. Ele é um menino. Eles fazem essas merdas sem pensar e se machucam.
— Ah, não... — suspirei
— O quê?
— Nem tinha pensado na mãe dele. Ela vai me odiar.
— Não se preocupe com ela. Não era muito do estilo dela gostar de você, de qualquer forma.
Ótimo. Que ótimo.
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Na Contramão do Amor- AyA Adapt [Finalizada]
RomanceUma psicóloga especializada em salvar casamentos. Um advogado especializado em destruir relacionamentos. Uma confusão. E os dois se veem trabalhando dividindo o mesmo espaço. Anahí Portilla e Alfonso Herrera se encontram na contramão do amor: Oposto...