Capítulo 8

192 13 0
                                    

ALFONSO

— Você o quê? — Robert Olivet me olhou como se eu tivesse acabado de lhe contar que matei a Rainha Elizabeth. Ele balançou a cabeça. — Má ideia, cara.

Olhei para meu uísque, mexendo o líquido âmbar no copo por um minuto antes de beber.

— Ela vai me ajudar enquanto Tess está fora por três meses, em troca do aluguel. Vou dar uma chance para ela encontrar um lugar que possa pagar e se recuperar.

Rob bebeu sua cerveja.

— Eu te pedi para alugar para mim o espaço há dois anos, e você me disse que não podia dividir com ninguém.

— Não posso. Isso é temporário.— respondi

Ele semicerrou os olhos para mim.

— Ela é gostosa, não é?

— O que isso tem a ver? — perguntei não entendendo onde ele queria chegar

— Você é um babaca.

— Mas que porra! Anahí disse a mesma coisa.

As sobrancelhas de Rob saltaram.

— Ela te chamou de babaca, e você está deixando que compartilhe seu escritório? Deve ter uma bunda e tanto.

Tentei não expressar nada, mas Robert e eu éramos amigos desde sempre. Ele flagrou o discreto sorriso no canto da minha boca. Ele balançou a cabeça e deu risada.

— Uma bunda boa é sua Kryptonita, meu amigo.

Para ser sincero, eu ainda estava tentando descobrir o que tinha acontecido comigo algumas horas antes. Não apenas convidei essa mulher ― sim, ela tinha uma bunda espetacular ― a se mudar para o meu escritório, mas a tinha convencido a aceitar minha oferta. Repito, disse para ela se mudar para o meu escritório na Park Avenue ― o espaço que eu detestava dividir com alguém ― e de graça.

Bebi o restante do meu uísque e ergui a mão para pedir outro.

— Ela trabalha em que área da advocacia? — Rob continuou seu interrogatório.

— Ela não é advogada. É psicóloga.

— Uma psicóloga? Você vai ter um monte de loucos andando por seu escritório?

Não tinha realmente pensado nisso. E se seus pacientes fossem psicopatas com uma variedade de problemas de múltipla personalidade? Ou ex-presidiários que cortam a garganta de velhinhas, mas têm suas sentenças reduzidas pela metade porque são considerados malucos? Serei assassinado por causa de uma ótima bunda. Nenhuma bunda vale tanto a pena.

Por outro lado... o quanto meus clientes são normais? Ferdinand Armonk, de 71 anos, que vale cem milhões de dólares, foi preso no ano anterior por atacar sua esposa de 23 anos com a bengala porque pegou a língua dela entre as pernas do seu fisioterapeuta. Essa é a loucura com a qual já preciso lidar todos os dias.

— Os loucos dela não podem ser muito piores do que os meus — Dei de ombros

Candice Armonk fez seu marido ser preso por bater nela com uma bengala e estava tentando levar metade de sua fortuna no divórcio. Robert não era somente meu melhor amigo, ele também era meu investigador particular e tinha trabalhado no caso Armonk. Ele encontrara um antigo pornô de mulher com mulher que Candice fez aos 18 anos enquanto ainda morava na França. O nome era Candy em Cana, e ela aparecia com as mulheres dando cano nela, mas aparentemente a bengalada do seu marido que não deixou marca valia cinquenta milhões. Quando ela veio ao escritório com seu advogado para uma reunião de acordo, se recusou a se sentar na sala com Ferdinand até eu colocar a bengala para fora do prédio.

O garçom trouxe minha nova bebida e eu dei um gole.

— A maluquice vai combinar.

xxx

Depois de uma reunião matutina do outro lado da cidade, cheguei e vi Anahí andando de um lado para o outro no escritório vago usando um headset enquanto falava ao telefone. Ela estava de costas para mim quando virei no corredor, o que me deu uma chance de analisá-la por um tempo. Ela vestia uma saia preta justa que a abraçava em todos os lugares certos e uma blusa de seda branca. Quando ouviu meus passos, se virou, e eu vi que ela estava descalça. O esmalte vermelho brilhante em seus dedos do pés combinava com seus lábios sorridentes. Um aperto esquisito no meu peito me fez sorrir de volta enquanto pensei se precisava tomar um antiácido ou algo parecido. Acenei e fui para minha sala que estava preenchida com minha nova mobília, embora eu ainda não tivesse agendado sua entrega.

Dez minutos depois, Anahí bateu de leve na minha porta, apesar de estar aberta. Ela estava de sapatos agora― saltos vermelhos cobriam seus dedos vermelhos.

Legal.

— Bom dia.

— Bom dia. — Assenti.

Ela ergueu um bloquinho e pegou um lápis de trás da orelha.

— Você teve uma manhã cheia. Seis ligações: Jasper Mason, Marlin Appleton, Michael Goddman, Kurt Whaler, Alan Green e Arnold Schwartz. Anotei os recados em um caderninho que encontrei no seu armário de suplementos de escritório. Espero que não se importe de eu ter mexido.

Acenei.

— Não se preocupe, pode mexer. Não sei onde está nada sem Tess por aqui mesmo.

Ela arrancou a cópia dos recados do caderninho carbonado e os colocou na minha mesa.

— Aqui estão.

— Obrigado. Aliás, sabe de alguma coisa sobre minha mobília estar de volta?

— Ah. Sim. Espero que não se importe. A empresa de armazenamento ligou de manhã e queria agendar a entrega para hoje, então marquei no primeiro horário que eles tinham disponível. O contramestre estava aqui limpando tudo quando cheguei essa manhã e disse que havia terminado tudo que faria sujeira. Ele vai mandar para cá um de seus homens depois para fazer as últimas coisas, como pendurar a tampa dos lustres e colocar a placa de volta na recepção. As caixas com os itens pessoais do seu escritório estão no chão. Eu ia arrumá-los e organizar para você, mas pensei que seria passar dos limites.

— Eu não teria ligado. Mas obrigado. Obrigado por cuidar de tudo esta manhã. Pensei que fosse chegar e me sentar na cadeira dobrável e naquela mesa de novo. Essa foi uma boa surpresa.

— Sem problemas. — Ela olhou para seu relógio. — Tenho uma videoconferência em alguns minutos, mas estou livre do meio-dia e meia às duas hoje, se quiser ajuda para arrumar seu escritório. Posso pedir comida e fazermos um almoço de trabalho.

— Seria ótimo. Tenho uma ligação que deve acabar antes do meio-dia e meia.

— O que está a fim de almoçar?

— Me surpreenda.

— O que eu quiser?

— O que quiser. Diferente de você, eu não sou exigente.

Anahí sorriu e se virou para voltar à sua sala. Mas eu a fiz parar para fazer uma pergunta que estava em minha mente desde o jantar com Robert na noite anterior.

— Que tipo de psicóloga você é? É especialista?

— Sou. Pensei que tivesse te falado. Faço terapia de casal.

— Terapia de casal?

— Sim, trabalho para salvar casamentos problemáticos.

— Definitivamente não falamos sobre isso. Eu teria me lembrado, considerando que também trabalho com casamentos problemáticos... Para acabar com eles permanentemente.

— Isso é um problema?

Balancei a cabeça.

— Não deveria ser.

Famosas últimas palavras.



______
⭐✍️

Na Contramão do Amor- AyA Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora