25 de setembro - Festa natalina

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Hoje eu passei o dia na cama da minha cela, confesso que as palavras dos pais da Estella me deixaram muito mal comigo mesmo, é como se eu revivesse toda aquela dor de novo, mas de maneira mais intensa, eu senti a minha dor se misturar com a dor gritante dos pais da minha tão bela Estella. O meu peito gritava e minha respiração acelerava descontroladamente e nesse tempo eu só consegui refletir sobre o meu passado, sobre o passado que eu deveria ter aproveitado mais.

A Estella desde pequena sempre foi muito divertida,era apaixonada por borboletas e amava fazer graça,até mesmo em momentos indevidos. Nós nos conhecemos na escola,em uma apresentação de natal,uma das apresentações que eu mais tive vergonha de fazer,porém a Estella me ajudou o tempo todo.

Na apresentação eu lembro de ter muitas luzes de natal e um lindo globo no teto do palco,o globo era cheio de espelhos que refletiam as luzes verdes e vermelhas que saiam de um refletor preso na parede. Os papeis do teatro foram decididos por meio de um sorteio e eu acabei tirando o papel da árvore,um dos piores papeis que eu poderia tirar,mas a Estella fez esse papel ser mais do que especial, ela tornou aquela apresentação incrível para mim.

Eu e Estella desde o dia da apresentação nunca mais nos separamos,sempre fomos muito unidos. Mas depois da chegada de Adrus tudo mudou! Eu tive que aprender a dividir essa nossa amizade,levando em consideração que eles desde pequeno sempre se gostaram. Adrus por ser um finlandês,acabou que conquistou o coração de todos as garotas de nossa sala,recebendo o apelido de cupido dos olhos fechados,uma piada com um teor que soava bem xenofóbica,porém que Adrus amava.

Nossa infância foi alimentada por um misto de abraços e sorrisos. Ttodos os dias nos encontrávamos na casa da árvore que tinha no quintal do Adrus. Eu me recordo até hoje do dia que eu e o Adrus debatíamos sobre quem casaria com a Estella, mas a resposta era bem clara já que sempre que a Estella ficava sozinha comigo ela não parava de falar sobre o quão lindo ela achava o adrus, o quanto ela admirava o sorriso branco e os olhos verdes.
A Estella tinha um cheiro tão bom, me lembrava as noites de primavera na fazenda do meu avô, quando batia exatamente meia noite, todas as flores do jardim se abriam e exalavam um perfume que tomava conta do ambiente, dizia meu avô que quem sentisse e ficasse com o cheiro da flor na ponta do dedo iria casar, confesso que eu morria de medo de ter que casar e abandonar meus pais, então vivia cheirando o meu dedo pela fazenda na esperança de não ter o cheiro das flores.

O senhor Tamik parece um trator dormindo, ronca mais que tudo. Os olhos deles ficam tão fechados e a dentadura dele é tão feia, fica boiando naquele copo de água que ele deixa no chão ao lado da cama, parece ser tão melequenta. Pela manhã ele pega a dentadura assopra e enfia na boca, parece até mágica, aquela boca seca e magra fica bem mais fortinha e definida. Sabe, as vezes eu só queria conseguir dormir assim como esse velho dorme, já seria um grande avanço.

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