12 de Dezembro - Mãos dadas

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Hoje eu acordei bem tarde, mas isso tem um motivo né? Ontem eu fui dormir um pouco fora do habitual, na verdade eu dormi quando o dia já era hoje. Ah sei lá como explicar, eu dormi muito mal. Dormi tão mal que fiquei com o sono completamente acumulado e vim acordar por volta de mais ou menos uma hora da tarde. No chão da cela tinha até o café da manhã e o almoço e obviamente eu aproveitei para comer os dois. Novamente o Vincent decidiu ficar sem comer mas eu não consigo ver ele assim então praticamente eu enfiei pão com sopa na boca dele até descer.

Toomas? Eu não sei o que dizer, estou tão preocupado. Meu peito está apertado e o ar as vezes chega a faltar nos meus pulmões. Hoje quando o militar veio pegar os pratos de comida e café ele acabou me contando alguns detalhes sobre a fuga e me disse até como você estava após o acidente. Ele foi um dos militares que te ajudou. Segundo ele o carro estava destruído e você todo machucado. O militar disse que a aura estava com o rosto cheio de vidro e com o corpo todo cortado, o estado de saúde dela sem dúvidas é mais preocupante que o seu. Sabe Toomas? Eu me recordo de quando eu estava lá no hospital e você acabou se machucando por mim. Não sei cara, para com isso, para de se machucar pelos outros. Toomas? Você não é imortal!

Pela tarde eu fiquei jogando xadrez em cima da perna do Vincent. Eu subi na cama dele e fiquei sentado enquanto aquele folgado colocava as pernas sob as minhas pernas. Sabe Toomas? Com vocês eu me sinto seguro, vocês são como irmãos de verdade para mim. Eu fico imaginando a gente fora daqui. Imagina você com o seu terninho preto realizando uma reportagem sobre borboletas no meu laboratório e o Vincent que gravaria tudo isso, seria um sonho Toomas. As borboletas são tão lindas, elas são tão especiais para mim. Você sabia que as borboletas possuem o esqueleto fora do corpo? Isso tudo para proteger ela e manter mais água no interior daquele lindo corpinho. Estou começando a achar que o Vincent é uma borboletinha, pensa em um bichinho magro, acho que esses ossos dele também servem para proteger o corpo dele.

Por volta de umas cinco horas o sino da visita tocou. Hoje eu realmente me surpreendi, a visita tocou tão tarde. Vários presos foram para visita eu só não esperava que eu também fosse ser chamado. Eu não sei se o Toomas já escreveu sobre isso aqui, mas nós temos vários tipos de roupas para cada lugar que vamos. E hoje pela primeira vez eu vesti a minha roupa de visita. Sei lá, é estranho, eu já fui preso várias vezes e essa é a única visita que eu recebi em todos esses anos.

Eu então coloquei a roupa, passei a mão para arrumar o cabelo e fui para tal visita. Chegando naquele campinho bonitinho eu me deparo com a Raquel sentada no banco. Toomas eu não sei como escrever o que eu senti, eu estava com tanta vontade de sair correndo mas eu respirei fundo e segui em frente. Eu então sentei do lado da Raquel e fiquei em silêncio. A Raquel estava tão linda, com um vestido todo amarelo  e florido e uma bela presilha prendendo uma mecha de cabelo. A Raquel então virou para mim e disse:

-Quanto tempo meu paciente desobediente. Como está essa cicatriz?

Eu então abri um sorriso de lado e falei:

-Ah está bem, acho que já cicatrizou.

A Raquel então abriu um sorriso e disse:

-Stein? Eu preciso de você.

O meu peito gritou e eu não consegui conter a vergonha, até engasguei com o próprio cuspe e disse ainda engasgando:

-De mim?

A Raquel então preocupada, bateu nas minhas costas e depois disse:

-O Toomas está bem! Quebrou uma costela e está todo enfaixado, mas está bem. Eu vim aqui porque uma coisa está me preocupando muito.

Eu então olhei para a Raquel e falei:

-Ele está bem mesmo? Mas e a aura Raquel? O Toomas vai voltar para cá?

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