17 de Novembro - Entrevistas

4 1 0
                                    

Hoje eu acordei um pouquinho mais cedo, eu estava com bastante dor de cabeça, para falar a verdade nem dormi direito a noite, aqueles rostos ficaram rodando a minha cabeça, eu não consegui fechar os olhos sem ver eles me machucando ou machucando alguém que eu gostava.

Os militares me entregaram um prato com suco de laranja e pão com queijo, e pelo o que deu para perceber eles também se alimentam dessa comida, porém eles ganham pratos maiores, o nosso prato cabe bem menos que a metade do deles. Quando eu estava passando por aquela triagem eu lembro de ouvir algo como um nutricionista, pelo visto seguimos um cardápio pequeno porém com proteínas necessárias. Não sei se acho correto os presos receberem tanta mordomia enquanto muitos passam fome, porém vale considerar que muitos que estão aqui não vão mais sair né? Ou muitas vezes já sofrem de problemas grandes.

Pela tarde, um militar de boina verde se aproximou da minha cela e colocou sobre a beliche um par de roupas e uma bolsa transparente com alguns pertences pessoais, entre eles uma câmera. Um pouco mais tarde os militares trouxeram um jovem de cabelos arrepiados e bem alaranjado, ele tinha os olhos cor verdes e uma personalidade bem descolada. Os guardas colocaram ele dentro da cela e logo depois se retiraram. O jovem então pegou a câmera e um lenço laranja que estavam entre os pertences, depois sentou na beliche e com um belo sorriso disse:

-Ola, tudo bem?

Não tive reação, apenas respondi com um:

-Olá?

Ele então deu uma risada e disse:

-Que falta de educação a minha, eu me chamo Vincent, e você? Que cara de marrento rapaz.

Eu não consegui fazer outra expressão a não ser de surpresa, então respondi envergonhado:

-Me chamo Toomas...?!

Ele então abriu a câmera e disse:

-E aí, Toomas? Me conte um pouco sobre você, por que está preso? Qual crime cometeu?

Eu não consegui responder, fiquei sem palavras. O jovem então fechou a cara e disse desanimado:

-Chato que nem todos os presos que eu já entrevistei. Ah fazer o que, vou dormir.

E assim ele fez, colocou o lenço laranja prendendo o cabelo. Guardou a câmera no saco transparente e deitou sobre a beliche. Eu não entendi nada, apenas caí em uma crise de risada bem silenciosa, não conseguia entender o que estava havendo.

Ao entardecer os militares trouxeram uma sopa em uma cumbuca, a sopa daqui vem apenas com o caldo e algumas batatas. O jovem entrevistador tomou com pressa todo o caldo, parecia que não comia a bastante tempo. A boca e a roupa dele ficaram todas sujas, mas ele não ligou, devolveu a cumbuca e voltou a dormir. Após eu terminar de tomar a sopa os militares pegaram as cumbucas e em seguida fui dormir.

Diário de um injustiçado Onde histórias criam vida. Descubra agora