29 de setembro - Enfim livre

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Ao acordar eu recebi a notícia que eu sairia do calabouço,algo que para mim foi um grande alívio. Os guardas me algemaram e me puxaram até a minha cela. Ao chegar eles tiraram as algemas e me lançaram para dentro. Por mais que eu já esteja acostumado, eu não concordo com o comportamento violento que os guardas mantêm com os presos, é algo que deveria ser diferente levando em consideração que a prisão já é um lugar violento. Além da agressividade eles vivem xingando e te julgando até a alma, parecem malfeitores, agem como animais quando o assunto é machucar alguém.

A cela estava completamente vazia, só restava a bagunça que os carcereiros deixaram após a revista. O meu dia foi somente para organizar a cela, acho que seria algo que o senhor Tamik iria querer,é algo que com toda certeza ocuparia a minha cabeça e assim fiz. Usando um pedaço de pano limpei as camas e o chão e depois comecei a tentar limpar algumas manchas da parede, porém percebi que era impossível então passei a limpar a pequena cômoda que tem na cela. As gavetas que guardam as roupas do senhorzinho mais Bruto que eu já vi,estavam vazias e repletas de pó,a sua cama não tinha nem um pano cobrindo como o de costume. Confesso que dói, machuca muito saber que meu único companheiro de cela já não estava mais comigo,porém tudo que eu vier a fazer,eu farei seguindo os ensinamentos que ele me passou em vida. Jamais vou me esquecer das palavras filosóficas daquele velho do xadrez.

A cela já estava aparentemente arrumada,o que me levou a realizar uma pausa, e nada melhor do que o velho xadrez do senhor Tamik não é mesmo? O xadrez, por mais que me fizesse lembrar dele,acabou sendo um acalento para mim. Admito que é difícil jogar sozinho,porém eu ainda sinto o senhor Tamik segurando o cavalo e fazendo os movimentos mais inteligentes que eu poderia imaginar. Eu passei a tarde toda jogando sentado na cadeira de madeira que ficava próximo a minha cama,mas ao ir guardar o xadrez algo me chamou atenção no tabuleiro,era como se fosse um tabuleiro mais grosso do que o normal,e algo me instigou a tentar abrir ao meio essa Tábua quadriculada de madeira. O primeiro objeto que veio à minha mente foi a colher de metal que os carcereiros entregam para todos os presos no primeiro dia. É uma colher média com vários riscos e levemente entortada,e foi com essa colher que eu consegui abrir o tabuleiro ao meio,onde eu achei um colar de prata com um pingente de cavalo preso a sua ponta,algo que eu já poderia imaginar do senhor Tamik,já que ele era apaixonado pela peça do cavalo. Dizia ele que essa peça só podia pular sobre outras peças pois era a única peça pura o suficiente para fazer isso. Eram palavras de um homem completamente sábio. Então guardei o colar e fui descansar um pouco naquela cela organizada e minimamente limpa.

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