Diário de um injustiçado

22 de Novembro - A boina rosa

Hoje pela manhã os militares trouxeram um prato cheio de pipoca para todos os prisioneiros, algo totalmente inusitado e difícil de compreender. Eu fico imaginando quantos crimes as pessoas daqui cometeram e mesmo assim são tratadas como pessoas normais.

O Stein e o Vincent acordaram um pouco mais tarde e depois caíram de boca naquele pote de pipoca. Eu consegui visualizar na parede da cela uma tela de cinema imaginária, eu me lembrei dos tempos que eu ia com a Estella e com o Adrus até o cinema do centro, foram tempos incríveis. Foi em uma sala de cinema que o Adrus pediu a Estella em namoro, foi tão bonitinho. Nós fomos ao cinema como o habitual, mas lá tinha algo a mais; Uma semana antes eu e o Adrus conseguimos falar com o diretor daquele pequeno e ele permitiu que o Adrus fizesse a maior surpresa da vida da Estella. O filme que escolhemos foi a "lagoa azul" e nos pós créditos o diretor passou o vídeo que o Adrus filmou para a Estella. No final de tudo ele entrou com um buquê e pediu a Estella em namoro. O meu papel foi fazer ela não desconfiar e pelo visto deu certo. Não sei explicar, o Vincent e o Stein não são como o Adrus e a Estella, porém todos eles me levam a um sentimento de êxtase, de grande felicidade.

Pela tarde um sol se abriu e invadiu uma pequena brecha que tinha na parede do presídio. O Stein estava obrigando o Vincent a jogar xadrez e eu aproveitei para pensar um pouco sobre a vida. Enquanto eu pensava em tudo que me ocorreu eu me lembrei daquela boina que eu estava guardando,eu nem sequer tinha tirado ela do bolso. Eu peguei a boina na mão e fiquei olhando para aquela cada detalhe. Quando eu me aproximei para sentir o cheiro o meu coração gritou de tanta emoção. Era o cheiro da Estella, o mesmo cheiro, eu não consegui conter a tamanha felicidade. O Vincent então olhou para mim e disse zombando da minha cara:

-Qual foi Toomas? Se apaixonou pela secretaria do boina vermelha?

O Stein para ajudar falou gozando com a minha cara:

-Eita como ele se apaixona, então quer dizer que você está guardando uma boinazinha rosa é? Já vi que não vai devolver para a dona nem tão cedo.

Eu estava tão feliz que nem me importei com esses dois engraçadinhos, apenas continuei sentindo aquele cheiro que me fazia suar de tanta emoção.

Quando o sol começou a desaparecer eu vi se aproximando da cela quem eu menos esperava, a boina rosa estava vindo em minha direção. Ela se colocou em frente a grade e comprimentou a nós três dizendo:

-Ola meninos, espero que me respeitem assim como farei com vocês, essa semana eu que guardarei essa cela.

O Stein e o Vincent não puderam conter a risada e fecharam a boca até perder o ar. Eu fiquei tão vermelho que não podia sentir minha Bochecha, mas mesmo assim chamei a boina rosa e disse:

-Senhora? Eu estava na igreja naquele dia e eu achei tua boina debaixo do banco, ehhh, toma.

Ela abriu um sorriso pegou a boina e disse:

-Muito obrigado Toomas, não só pela boina, mas por ter me ajudado naquele dia. Mas por favor não me chame mais de senhora me chame de Aura.

Eu não consegui responder, apenas agradeci com a cabeça e depois me deitei enquanto eu esperava os dois palhaços pararem de rir.

Pela noite a boina rosa se aproximou da cela e disse:

-Estão com fome, meninos? Trouxe mais pipoca, aproveita que a colheita de milho foi grande.

Eu não sei explicar, eu estava me sentindo mais em uma fazenda do que em um presídio, mas não posso falar que está sendo ruim. O Stein e o Vincent arregaçaram o pote de pipoca e enquanto isso a boina rosa estava escutando uma música no seu pequeno MP3 rosa. Quando as luzes se desligaram, a aura desligou o aparelho de música e se colocou em posição militar e o dia terminou assim, com um garoto envergonhado no meio de dois palhaços que fugiram do circo.