24 de Novembro - Me perdoe filho

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Sei nem como explicar como estava o clima de manhã, faltava cair o mundo, era possível escutar o barulho dos trovões, eles balançavam as estruturas de vidro. A chuva desceu com tudo e provavelmente se formou um grande temporal em Pamplona. Quando era por volta das nove da manhã uma rachadura se abriu no teto da nossa cela e se formou uma grande poça d'água na cama de cima da beliche, cama essa que pertence a mim, já que o Stein tomou a minha antiga cama.

O café hoje foi bem simples, um iogurte de banana com bolachas de água e sal. O Stein e o Vincent não se aguentavam em pé, estavam parecendo zumbi, até parece que a chuva trouxe sonífero. A aura estava como sempre, em postura de militar e ouvindo música no seu MP3.

Pela tarde o Stein foi ver de novo as filmagens do Vincent e os dois ficaram debatendo sobre os prisioneiros. Eu não vou mentir fiquei olhando para dentro da bolsa a procura da fita riscada, fita essa que me gerou uma série de perguntas então não me aguentei e perguntei:

-Vincent? O que tem nessa outra fita? Tem algo especial?

O Vincent então pegou a câmera da mão do stein, desligou, guardou e depois disse:

-Nada que interessa a vocês!

O Stein não curtiu muito a resposta dele e disse:

-Que grosseria é essa Vincent? O Toomas só te fez uma pergunta.

O Vincent então guardou a câmera e foi para o canto da parede e por ali ficou pelo resto do dia com cara fechada e com os olhos fechados. Enquanto o Vincent ficava de birra eu e o Stein aproveitamos para jogar xadrez enquanto esperávamos a comida. O nosso almoço hoje foi macarrão com purê de cenoura, estava bem gostoso, mas o Vincent decidiu não comer. Confesso que me preocupei bastante, até então o que tinha naquela fita? Mas eu não fui o único o Stein também percebeu o clima estranho que estava ficando naquele lugar, então disse:

-Ei Vincent? Desculpa por qualquer coisa, mas você não tem que ficar assim só por causa da pergunta do Toomas né?

Eu então me envolvi e disse:

-Desculpa Vincent, eu não sabia que era algo tão importante.

O Vincent então abriu os olhos e disse:

-Toomas? Lembra daquela história que eu te contei? Quando eu cheguei e larguei a câmera no chão eu nem percebi que larguei ela ligada e ela filmou praticamente tudo, filmou tudo aquilo Toomas.

Eu me senti em um poço sem fundo, não soube esconder a minha vergonha, eu estava aflito e inquieto por ter pressionado ele a falar sobre a fita. Então como um gesto de desculpa eu falei:

-Perdão  Vincent eu esperava tudo, menos isso.

O Vincent então olhou para mim e disse:

-Espera o que Toomas? Gravações impróprias? Como é malicioso. Sabia que isso é errado né bonito?

Eu então dei uma risadinha e discordei com ele dizendo:

-Nãooo, eu hen.

E todos caímos na gargalhada até o Stein virar e perguntar:

-Beleza, mas estávamos falando sobre uma história, que história é essa? O que aconteceu Vincent?

O Vincent então não disse muita coisa, apenas pegou a fita misteriosa, colocou na câmera e entregou a Stein. Eu fui escutando enquanto eu lembrava dos detalhes que o Vincent havia me contado. Nesse momento a boina rosa não estava na frente da nossa cela ela havia saído fazia umas meia hora. O Stein continuou assistindo até chegar no último minuto. Quando terminou de assistir guardou a fita na bolsa do Vincent e achou uma outra fita, dessa vez da cor amarela. O Stein então tirou ela da bolsa mostrou para o Vincent e disse:

-Essa eu também nunca vi Vincent, eu posso?

O Vincent então falou com expressão séria:

-Essa daí contém coisas impróprias Stein,você é muito criança. Quando você for maior eu te mostro.

Eu e o Stein então olhamos para o Vincent com olhar de julgamento e arrependido do que falou Vincent falou envergonhado:

-Não, não! É só brincadeira pô, eu não tiro fotos erradas não, só tiro foto de coisas belas, não se preocupem.

Eu e o Stein então olhamos um para o outro e caímos na gargalhada. Depois disso o Stein tirou a fita da bolsa e eu e ele ficamos vendo as fotos que o Vincent tirou. Eu na hora saquei que fotos eram aquelas que o Vincent havia me contado, foram as primeiras fotos que ele tirou quando ganhou a câmera. Nós ficamos vendo uma por uma porém uma foto intrigou muito o Stein e ele mudou totalmente de comportamento, segurou no peito do vincent e gritou dizendo:

-QUEM É ELE? DE ONDE VOCÊ CONHECE ELE?

Eu então rapidamente me levantei e tirei o Stein de cima do Vincent e depois disse em alto tom:

-TA MALUCO STEIN? O QUE É ISSO?

O Stein então olhou para mim e disse:

-O meu pai Toomas, por que o Vincent tem uma foto do meu pai? Como?

Minhas pupilas dilatam e meu coração começou a bater desesperadamente. Então eu falei:

-Calma Stein, a foto está mal tirada, é só um homem normal, talvez nem seja teu pai.

O Stein então disse gritando:

-VOCÊ ACHA MESMO QUE EU NÃO IA LEMBRAR DESSE ROSTO TOOMAS? VOCÊ ACHA MESMO? ME RESPONDE VINCENT DE ONDE É ESSA FOTO?

O vincent então pegou a câmera e disse:

-Foi esse o homem que me deu a câmera Stein, mas acho que não é ele. Segundo o que ele me disse ele perdeu toda sua família.

O Stein então com um sorriso sarcástico falou baixinho:

-Claro, ele realmente perdeu, perdeu toda família dele. Que nojento, ridículo.

Depois disso o Stein deitou na cama e dormiu rapidamente, ou pelo menos parecia que estava dormindo. Eu então aproveitei a deixa e contei um pouco da história do Stein para o Vincent e a partir daquele momento o Vincent percebeu que era possível que ele tivesse acabado com a vida do pai do companheiro de cela dele, ele pode ter matado o único laço familiar ainda existente do Stein.

Não tenho muito o que dizer sobre a noite, eu e o Vincent dormimos muito rápido, mas antes dele dormir ele me disse uma coisa que me fez pensar muito. Segundo ele antes dele ir para casa naquele dia trágico o homem havia repetido várias vezes em seu ouvido uma frase que dizia:

-Me perdoe filho, me perdoe.

Segundo o vincent ele não entendeu o motivo da frase, porém tudo começou a fazer sentido depois dessa fita.

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