08 de Outubro - Gritos e Sorrisos

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Eram mais ou menos duas horas da tarde e eu recebi uma visita mais do que inusitada. Era Raquel,a melhor amiga da Estella,elas duas não se separavam por nada,viviam juntas. Desde quando éramos apenas crianças a Estella não saia do lado da Raquel, quando a Estella não estava na casa da árvore você podia ter certeza que estava brincado de boneca com a Raquel. Não sei explicar a Raquel, sempre foi muito tímida e sempre teve um sorriso muito lindo porém tinha tanta vergonha de sorrir. Os cabelos dela eram bem grandes e ondulados e a sua pele morena brilhava com o sol que batia nela,parecia aquelas brasileiras que vemos nas redes sociais.

Quando eu vi a Raquel não tinha muito o que expressar,apenas levantei a mão e acenei. A Raquel então veio até mim e me abraçou e começou a chorar em meus ombros. Eu não pude conter as lágrimas e comecei a chorar junto a ela,foi um misto de emoções,eu não entendia nada o que estava acontecendo,meu coração acelerava e eu só conseguia chorar. Então em um ligeiro movimento ela me largou e me deu um belo tapa no rosto, e com muita raiva disse:

- Burro! Você é muito burro! Por que você não lutou? Você sabe que você é inocente. Toomas? Por que Toomas?

Eu então segurei as mãos dela e a respondi:

-Eu já tentei Raquel,eles não me ouvem! É impossível! Eu sei que sou inocente mas eles não acreditam Raquel, eles não acreditam.

Os guardas perceberam o grande afeto que ela apresentou por mim e pediram que nós nos separassemos. Raquel então sentou na cadeira e eu a acompanhei com o rosto ainda repleto de lágrimas. Os olhos da Raquel demonstravam desespero e as marcas em seus braços mostravam a dor que ela sentia. Um vento frio e veloz passava pela sala de visita e o clima permanecia angustiante, os guardas pareciam urubus de olho na carniça, eram cinco guardas, todos com cara fechado e olhar gélido, um verdadeiro ar de desconforto para os prisioneiros e suas visitas.

O relógio no canto alto da parede batia freneticamente e os olhos de Raquel já não suportavam tanta lágrima, mas de pouco em pouco o clima começou a melhorar e a Raquel ficou cada vez mais calma. Algum tempo depois o alarme de fim da visita disparou e a Raquel somente pediu desculpas, me deu um último abraço e saiu correndo para fora da prisão. Os guardas então pegaram no meu uniforme e me puxaram até a cela, na qual eu passei as últimas horas do meu dia chorando e resmungando sobre o passado. Eu não pude conter a raiva que eu sentia de mim mesmo, eu não podia parar de lembrar das cenas que ocorreram no dia, o sangue, o corpo da Estella, os vidros quebrados e o telefone recebendo chamadas frenéticas, eu estava surtando e esse surto estava me matando por dentro, então me deitei e fechei os olhos aos poucos na esperança de esquecer tudo o que aconteceu.

Eu só consegui melhorar quando comecei a imaginar o Steun dormindo. Os cílios do estranho de olhos azuis são tão longos, parece uma cortina amarelinha. Esse garoto não é normal, ele tem algo diferente nele, já disse isso mas é algo que me intriga muito, ele possui uma energia diferente, ele transmite paz e alegria, mesmo que tenha traços de um passado duro e cruel
Se eu fosse descrever o Stein eu diria que ele é um anjo da guarda, o meu anjo da guarda. Foi assim que eu acabei caindo no sono, tendo em minha cabeça uma imagem do céu.

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