13 de Novembro - Paredes de vidro

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Por conta dos protocolos ontem eu não pude escrever sobre a prisão, até então o meu diário foi retirado de mim para averiguação. Aqui dentro os blocos são mais divididos e praticamente todas as paredes são de vidro temperado, porém as celas são de concreto. Os militares que comandam o presídio estão por todo lado. Eles tem um uniforme militar e usam uma boina verde sob a cabeça.  Todos são bem sérios e ficam atentos a cada movimento dos prisioneiros.

Os presos mantêm um respeito maior pelos carcereiros porém alguns ainda ficam de gozação quando eles passam, mas basta um militar levantar a arma que eles se calam, acredito que por aqui o respeito seja adquirido dessa forma. Uma das regras primordiais aqui de dentro é respeitar. Segundo o militar que me passou a formação o desrespeito é um passe livre para a desordem e se tem uma coisa que eles não admitem é essa falta de respeito e muito menos a desordem.

Eu passei por três etapas de preparação para entrar no presídio: na primeira etapa eles tiraram toda a minha roupa e me deram um banho gelado usando uma ducha, depois entregaram o meu uniforme que mantém o mesmo design do presídio anterior . Já na segunda etapa eu passei por um psicólogo, ele não é muito carismático, porém até que me liberou rápido, foi ele que pegou o meu diário e me proibiu de trazer um xadrez para dentro da cela.  E por último eu fui encaminhado para receber o meu passe de comida e os meus pertences pessoais. Logo após essa preparação eu fui para o interior do presídio. Aqui dentro até a comida é organizada por cada bloco, eles nos entregam esse passe de comida que contém vários pratos e nós podemos votar em qual preferimos, no final eles juntam os pontos e prepararam nosso cardápio, surreal!

Pela tarde eu fui encaminhado para um cardiologista e ele me passou algumas regras alimentares e alguns exercícios diários que eu deveria fazer. Depois disso eu fui direcionado para a minha cela.  Ao entrar, eu me deparei com um homem bem fraco e maltrapilho, estava com as roupas sujas e marcas de sangue sobre o corpo. Mas o que mais me surpreendeu foi a quantidade de água que tinha na cela, o homem além de todo machucado estava completamente molhado. Ele não falava muita coisa e estava completamente assustado, então nem puxei papo. A nossa cela tem uma beliche e uma cama, elas são de vidro assim como as paredes do presídio e as prateleiras do quarto, porém os vidros são temperados e possuem proteções de borracha nas quinas. Não sei muito o que fazer aqui dentro. Depois que o meu xadrez foi retirado de mim eu não tenho mais muita coisa para ocupar o meu tempo.

O homem da minha cela não parava quieto, ficava tremendo e não parava de repetir em voz baixa: Quem é? Quem é? boinas verdes, boinas verdes. Ele repetia freneticamente essa frase,parecia estar doente, em crise, sob efeito de drogas ou sei lá. Vire e mexe ele levantava e começava a se sufocar com a mão e gritava:

-ÁGUA, ÁGUA

Eu não sabia muito o que dizer, apenas observava em silêncio. O homem nem sequer olhava para mim, ele estava em transe, seus olhos não paravam quietos e as mãos dele tremiam como se ele estivesse sofrendo um choque elétrico. Como eu não sabia o que fazer, apenas cobri ele com a minha coberta e fui deitar para tentar dormir.

Meu dia foi assim, para falar a verdade bem mais tranquilo do que eu achava que seria, tirando a parte do homem esquisito que está dividindo a cela comigo. Eu mal consegui dormir por conta desse homem, eu me senti desprotegido ele parecia que ia me matar, estava tão desesperado que acabou me desesperando também. Mas fazer o quê? Não posso ficar reclamando né?

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