05 de Novembro - Trevo vermelho

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Hoje me tiraram da solitária, eram aqueles mesmos guardas que estavam protegendo a sala da enfermaria, acredito que realmente sejam gêmeos, são idênticos. Eles estavam segurando um taser na mão e foram me guiando para uma sala que eu nunca tinha visto na penitenciária. Lá dentro não havia ninguém, apenas várias caixas de papelão e prateleiras enferrujadas. Me lembra um pouco a sala que o Diablo me levou naquele dia nojento. Os guardas então me lançaram lá dentro e me encheram de soco, isso quando não pulavam em mim e me acertavam com o taser. Eu apanhei por uns quinze minutos e depois eles me guiaram até a minha cela e me lançaram lá dentro todos estropiado, com dor e quase perdendo a consciência.

Confesso que não esperava que a cela estivesse arrumada, estranhei o fato da cela ter sido limpa e organizada. A estrutura parecia a mesma, duas camas e uma estante, com a única diferença de que estavam limpas. Eu então sentei na cama e com muito esforço me deitei, meu corpo estava totalmente machucado, cheio de manchas roxas e cortes, parecia um animal que iria para o abate, os guardas não queriam me machucar, eles queriam me torturar.

Eu consegui descansar por um tempinho, mas fui acordado por conta dos barulhos da cela se abrindo. Quando eu olhei para porta havia dois guardas e um homem forte com algemas na mão. Os guardas então tiraram a algema do prisioneiro e lançaram ele na minha cela. O homem então olhou para os meus olhos, tirou a camisa e deitou na cama e sem nem se quer esboçar nenhum sentimento de medo ou tristeza ele dormiu, pelo menos acredito que estivesse dormindo. O seu peito tem várias cicatrizes de balas e diversas tatuagens, uma delas é de um trevo de quatro folhas,confesso que me chamou bastante atenção o fato do trevo ter sido pintado de vermelho, seria uma sorte para o amor? Ou uma sorte para o sangue, a dor? Sem dúvidas o meu trevo seria vermelho também, porém no sentido de agonia e feridas.

Um vento gelado entrava na sala e eu me recordei novamente daquela cabana de férias que o meu pai me levava, lá tinham trevos para todos lado e muitas flores roxas. Meu pai sempre me disse que onde tinha flor roxo tinha corpo enterrado e claro que eu acreditava né? Mas essa superstição não ficava só entre nós dois não, eu levei ela para a casa da árvore e disse para o Adrus e para Estella, eles ficaram com os olhos bem abertos e eu caí na gargalhada. Pensando bem, se isso fosse realmente verdade aquela cabana de férias seria um grande cemitério, aquelas flores estavam por todo lado. Sabe? A minha vida sempre foi como um cemitério, eu vivo enterrando meus amigos e familiares, agora me diga por que? Será que eu sou a flor roxa? Oh Deus, me proteja.

Quando era por volta de umas sete horas da noite o homem estranho que eu apelidei de "grandão" começou a se arranhar todinho, ele se arranhava tão forte que ficavam marcas sobre o seu corpo, mas eu não podia fazer nada, até então se eu levasse um único soco daquele homem eu só não voaria longe como também iria perder pelo menos uns duzentos ossos fora os meus dentes. O vento entrava na cela e meus pelos ficavam todos arrepiados e esse climinha gostoso foi o que me levou a capotar, não me aguentei de tanto sono e acabei dormindo ali naquela brisa fria enquanto o grandão se machucava. Sei lá, aquele homem tem algo de estranho, ele se machuca, fica cochichando coisas aleatórias e vire mexe com o próprio sangue desenha várias pessoas no lençol branco que cobre a cama de concreto. Um verdadeiro psicopata.

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