27 de setembro - Fim de jogo

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Às duas horas da manhã nós chegamos na rua da penitenciária. Eu consegui ver o horário pelo relógio de um dos guardas que cochilava ao meu lado enquanto o seu amigo caia na gargalhada e tirava fotos dele para postar no grupo de guardas. Eu só imaginava chegar na minha cela e cair no choro enquanto conversava com o senhor Tamik,porém ao chegar eu me deparei com vários polícias e médicos espalhados em frente a penitenciária, além das sirenes de ambulância soando alto. Os meus olhos só conseguiam focar nos socorristas fazendo massagem cardíaca no senhor Tamik enquanto em sua boca havia tubos de respiração. O desespero tomou conta do meu corpo,e eu só conseguia seguir a maca enquanto dois guardas puxavam com força a minha roupa no intuito de me segurar e em alguns minutos eu ouvia as sirenes das ambulâncias tocar cada vez mais distante.

O medo e a aflição não me deixavam pensar direito,mas eu lembro de entrar na cela e cair no sono enquanto lia o meu livro de ficção científica que Adrus comprou para mim no meu aniversário, uma das frases daquele livro eu nunca irei esquecer: "Ame quem está próximo e se prepare para amar os que estão longe, muitas das vezes a sua tristeza é falta de um amor". Essa frase pode até parecer cafona, mas me acalmou um pouco, pelo menos mudou o meu foco.

Era mais ou menos umas nove horas da noite quando um carcereiro veio me acordar com a pior notícia que eu poderia receber,o senhor Tamik tinha acabado de falecer no hospital geral de Pamplona sendo mais uma vítima das drogas. O senhor Tamik havia deixado de utilizar drogas fazia muito tempo, ele foi proibido de utilizar assim que suas pernas começaram a inchar. Eu estranhei muito ele ter voltado com o costume,levando em consideração que eu nunca vi ele utilizando nenhuma droga enquanto eu estava presente.

Eu só me lembro de cair de joelhos e me desabar em lágrimas enquanto os guardas revistavam as gavetas, colchões e ralos de pia. Eu nem me importei com a revista,até então eu tinha acabado de perder um senhor que para mim era mais do que um companheiro de cela,ele era o meu pai de consideração. O desespero chegou em um nível que eu saí correndo pela porta da cela. Eu desci as longas escadas do andar de cima do bloco em que eu estava,até torcer o pé e cair de escada abaixo. Dizem os médicos que eu só tive uma pequena lesão na cabeça e isso foi a brecha para o carcereiro me lançar no calabouço,onde eu fiquei recebendo sedativos e uma sopa rala de berinjela. Naquele momento eu só queria que tudo acabasse,eu só queria um sinal de Deus para eu me livrar daquelas chamas de enxofre que queimavam o meu corpo, chamas essas que envolviam meus membros até o fundo da minha alma, fazendo com que eu me sufocasse com o meu próprio ar.

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