25 de outubro - Carta de despedida

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Hoje pela manhã recebi a visita de um cardiologista e fui liberado para voltar à prisão. O policial parecia estressado e me forçava a se apressar. O suor descia por sua testa e eu via os pelos arrepiados em seus braços, era um misto de medo e raiva. A preocupação do policial acabou me gerando muitas dúvidas, então perguntei educadamente:

-Doutor? Está tudo bem contigo?

O policial apenas se virou, pegou na minha camisa e me empurrou com força para dentro de uma sala. A sala estava com uma mesa e vários documentos espalhados. Não entendi o motivo de tantos documentos visando que eu já havia preenchido uma grande quantidade antes do incidente de uns dias atrás.

Nós ficamos esperando sentados em cadeiras amarelas com uma estampa de madeira. Os documentos brilhavam por conta da luz do sol que batia na sala. O tempo passava e já era possível contar quantos quadrados tinham no tapete que estava debaixo da mesa redonda de vidro.

O dia já estava indo embora e  por volta de umas sete horas da noite um médico de jaleco branco e um lindo cabelo cacheado entrou na sala. Ele sentou em uma poltrona preta e pediu que eu assinasse os documentos. Eles se tratavam de medicamentos e terapias que eu precisaria passar,além de uma lista de dias que eu teria que passar nos médicos dentro do presídio. O médico então após terminar de explicar sobre o tratamento se direcionou com um olhar preocupado para mim e me disse com calma, clareza e persistência:

-Toomas? Você vai morrer se continuar se esforçando muito. Antes que pergunte, sim! O seu "parceiro" está bem e não precisa de você cuidando dele. Volte para sua cela e aquieta a sua alma. Você está fraco e doente, então cuide de você para depois pensar em cuidar de alguém.

As palavras do médico me soaram como um conselho de pai. Ele foi curto e grosso porém teve uma leveza e claridade na fala. Me lembrou muito de quando eu ficava doente, a vovó sempre me trazia um chá horrível de boldo e pedia que eu descansasse. Não é que eu era desobediente, mas o chá era horrível, então eu fingia que tomava e quando ela saia eu colocava nas plantas, uma delas até morreu, nem ela aguentou o chá. E é óbvio que eu não ficava em descanso, mesmo com dor eu pulava a janela e ia brincar, só voltava para casa quando a febre vinha e eu ficava completamente mole.

Pela noite, logo após a breve consulta de rotina, o médico me deu alta e eu fui arrastado até a viatura que rodou pelos cantos da cidade de Pamplona até chegar a um presídio com grandes muros, cercas e paredes laranjas, o meu lar atual.

Os carcereiros realizam diversos procedimentos e um deles foi uma consulta com a psicóloga, a mesma que me deu o diário, o seu nome é doutora Helena Rousseau. Sim, ela tem o mesmo sobrenome do filósofo suíço Jean Rousseau. A doutora Helena realizou algumas perguntas sobre o meu tempo no hospital e depois me liberou para voltar à cela.

Não tenho muito o que dizer, a cela estava vazia e triste e não sei se a solidão me deu sono, mas sei que dormi como fazia tempo que eu não dormia, eu praticamente desmaiei.

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