Diário de um injustiçado

14 de Novembro - Carta para o céu

Hoje nesse exato momento o relógio bateu onze horas da manhã e sim, não estou dentro da cela, eu estou na sala do diretor. Sabe Toomas eu e o diretor passamos a manhã toda lendo o diário e mano, quantas coisas que estão aqui irão te ajudar a se libertar das ciladas. Cada informação desse diário é importantíssima mas como assim a notícia sobre o assassinato de um diretor foi quase real? Você realmente passou por tudo aquilo e não me contou? Sabe Toomas eu achei que eu conhecia muita coisa sobre você, mas no fundo não sei de nada. Apenas pare de ser assim tão secreto. Sai desse casulo cara.

Como passei a manhã aqui acabei que tomei café junto com o senhor Louis. Nós comemos uvas e um misto quente com ovo e bacon: Pois é Toomas, eu me senti em casa literalmente. Foi tudo tão engraçado, mas tudo isso para limpar sua pele cara, então o máximo que você pode fazer por mim é melhorar para que eu possa deitar novamente no seu colo. Toomas me permita deitar em você enquanto suas mãos acariciam meus cabelos, eu quero isso, eu só preciso do cuidado de um irmão, eu preciso de você Toomas.

O diretor Louis ficou sentado em um banquinho enquanto escutava a minha leitura do diário. O calor daqui estava gigantesco e o ar condicionado queimou, então eu acabei ficando pelo chão mesmo, deitei lá e fiquei. O senhor Louis o tempo todo ria e gritava, parecia que estávamos lendo um livro de verdade cara, como assim? Você conseguiu deixar as páginas desse diário cativantes e cada linha lida era uma emoção diferente. Ontem já tínhamos lido bastante coisa, mas paramos no seu "homicídio" do diretor daquela prisão sem graça.

Toomas? Você é meu melhor amigo cara, eu te amo muito Toomas, por favor, viva tá bom? Viva! Eu fiquei pensando isso o tempo todo enquanto eu lia o diário. Quando era por volta das duas da tarde o diretor recebeu um telefonema e foi atender após me pedir licença. O diretor então tirou o telefone do gancho, colocou no ouvido e começou a escutar atentamente o que estavam falando. Eu apenas observei e confesso que meu coração faltar parar quando ele disse gritando:

-COMO ASSIM? MANDE REFORÇOS E TRAGA O MEU PRESO DE VOLTA CARAMBA.

Nesse momento ele apenas saiu da sala e me deixou lá sozinho. Eu fiquei apenas observando tudo enquanto desfrutava da minha própria ansiedade. Em nenhum momento os militares me buscaram então aproveitei para me ajoelhar e rezar enquanto eu olhava para imagem de nossa senhora das Graças:

-Pai? Eu sei que estou pedindo sempre a mesma coisa, mas é que eu sei que o Toomas é escolhido por você, por qual outro motivo ele passaria por tanto martírio? Senhor tornai ele o seu servo, faça dele teu. Mãe? MÃE? EU CONFIO EM VÓS, mãe? Proteja o Toomas mãe! Minha nossa senhora abençoe as nossas vidas mãe. Oh pai quão dor eu sinto, senhor eu peço que aquelas pessoas apenas parem, por favor pai.

Sabe Toomas, você vai se dar bem, eu sei disso e Deus também sabe, porém para isso você precisa querer, então se puder apenas fique vivo. Eu estou aqui a quase duas horas rezando e implorando para que Deus te ilumine, então faça o mesmo poxa. Enquanto eu rezava diversas vezes o telefone tocou, mas eu não quis atender, até então o telefone não é para mim né? Então eu simplesmente fiquei aguardando a volta do senhor Louis.

O diretor Louis voltou pela noite e eu estava cochilando no chão. Ele então entrou, tocou em mim e me deu um chá para tomar. Depois disso ele sentou no banco e disse:

-Eu sou um monstro Stein, um monstro. Eu que matei minha esposa e meus filhos, eu matei eles de desgosto. Eu sou um verdadeiro lixo.  Sabe? Eu só construí tudo isso para mostrar que eu mudei e realmente me vejo mudado, eu pedi perdão, me confessei e estou fazendo uma boa obra, porém tudo isso é insignificante para a Aura, para minha tão pequena aura Stein.

Eu então levantei, sentei com pernas de índio e disse:

-Você está fazendo o bem e é isso que importa senhor Louis, tá vendo nossa senhora? Ela confia em você, confie um pouco nela também.