20 de Dezembro - Bala de hortelã

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Hoje o dia está mais nublado que ontem. Sabe? Não vou mentir, eu estou um pouco confuso em relação a tudo isso que vem acontecendo e digamos que estou um pouco preocupado com tudo que pode acontecer. Eu amanheci com um pouco de tosse e com uma dor de cabeça que está me atazanando. Não sei que gripe é essa mas acho que ela acabou me pegando, eu estou me sentindo como se estivesse com peste negra.

O Stein tirou um tempo para ficar com o Vincent e os dois foram até a biblioteca juntos, eu preferi ficar na sala. O meu ar parece que está acabando e eu estou com uma dor forte no peito, já comuniquei a direção mas até agora não me deram muita atenção. Pela manhã eu comi um pedaço de pizza e tive uma conversa com o senhor Derick, ele disse que hoje eles iriam prosseguir com a audiência. confesso que estou ansioso e bastante nervoso, se eu ver aquele cara na minha frente denovo eu vou acabar matando ele. 

Eu fiquei pensando aqui enquanto eu olhava para a parede desse quarto, aonde? Onde devem estar todos aqueles que se foram? Sabe nossa senhora, eu sei que eles estão contigo, mas mesmo assim eles fazem tanta falta né? É como uma estrela que não para de brilhar, você sabe que ela está perto, mas você não pode tocá-la. Isso é tão intrigante. Eu sei que eu fui instruído a não pensar muito nisso, mas eu parei para refletir sobre o dia do acontecido, sabe? Tudo estava bem e por um deslize: Sangue! Sangue!, em um deslize tudo virou sangue. Não sei explicar, eu fiquei tão assustado, tive tanto medo, um medo que eu confesso que até hoje não superei, ainda é difícil ver muito sangue, ainda é difícil lembrar deles.

Eu estou nesse exato momento escrevendo enquanto ouço música clássica, algo que eu quase não citei nas linhas do diário mas que sempre está presente. Não sei quem ouve, mas ela sempre está aqui, ela sempre chega até o bloco de celas. Meu pai amava músicas clássicas, vire mexe ia com a minha mãe até os concertos musicais e no dia que eles brigaram houve o momento mais dramático da nossa família. Não sei explicar, eu era tão pequeno mas compreendi o que havia acontecido. Meu pai tinha marcado de ir ao concerto mas meus pais discutiram e meu pai acabou indo sozinho, porém voltou caindo de bêbado e minha mãe descobriu que ele havia tido um caso com a doutora Helena, sei lá, não sei como ocorreu só sei que eles brigaram ainda mais e acabou que minha mãe decidiu ficar um tempo fora comigo. Nós fomos visitar o vovô e foram os melhores dias da minha vida. O meu avô colecionava fotos de asteroides e vire mexe me falava sobre a grande e maravilhosa fauna brasileira. Meus pais são espanhois e meus avós também são, porém meu biso nasceu e morou no Brasil por isso meu avô conhece bastante sobre lá. Diz ele que é cheio de música e bastante comida, ele sempre que podia trazia alguma coisa de lá e tem uma coisa que eu nunca vou esquecer, foi nesse tempo de separação dos meus pais que ele me deu um presente um tanto quanto inesperado. Eu fiquei tão alegre, tão feliz e tudo isso se tratava de um pingente de ouro com a imagem de uma arara azul. Era o mais lindo pingente que eu já tinha visto e até hoje eu guardo, pelo menos espero que esteja entre as minhas joias.

Oh Deus, será? Será que eu irei sair daqui? Será que eu sentirei o conforto da minha casa? Eu lutei tanto para conseguir tudo que eu tinha, mas aí se dinheiro comprasse liberdade, por mais que eu tenha o dinheiro que seria capaz de pagar a minha fiança, mesmo assim eu ainda não posso pois estou em prisão sem direito a fiança. Digamos que se trata de uma grande injustiça, eu só queria poder sair daqui e ir tomar um chopp no bar do meu prédio junto com o Stein e com o Vincent. A vida é tão curta, nós podemos estar felizes sorrindo e misteriosamente vir um tiro de um canto desconhecido e nos atingir certeiramente. Quantos jovens morrem vítimas de bala perdida? Quantos perdem a vida por pura ignorância humana? Pai? Eu lhe peço, nós proteja e proteja principalmente os jovens, não deixe que tropeçamos nas armadilhas do mundo, elas são traiçoeiras e eu sou prova disso.

Pela tarde eu ainda permaneci sozinho, tenho quase certeza que o Stein disse para mim com um sorriso no rosto:

-Nós Jaja voltamos, eu prometo.

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