13 de Outubro - Tornozelo quebrado

17 4 0
                                    

Hoje pela manhã eu já acordei com os dois meninos cochichando. O corpo do senhorzinho já não estava mais na sala, provavelmente o necrotério buscou ele enquanto eu dormia. O terço que ele carregava na mão ainda estava caído no chão, então eu pedi educadamente que Adrus pegasse ele para mim, e assim ele fez. O Henry então me olhou com um olhar preocupado e disse:

-Moço? Você não vai morrer né? Promete para mim que não vai morrer.

Os meus olhos se encheram de lágrimas e eu respondi:

-Pode deixar meu garoto! Eu não vou deixar vocês aqui sozinhos, tá bom?

O Adrus e Henry abriram um sorriso e eu perguntei a eles o motivo deles estarem no hospital, Henry então falou com uma grande empolgação, parecia até um adulto explicando como algo aconteceu. Ele disse:

-Então senhor Toomas, eu estava correndo na rua junto com o Adrus, algo que sempre fazemos pela manhã. É sempre bom ter pernas fortes, né? Mas sem querer eu tropecei e torci o tronozelo.

Eu não pude conter a risada quando o pequeno menino trocou a palavra "tornozelo" pela palavra "tronozelo". Ele falou com tanta convicção, porém eu não me aguentei, todos na sala começaram a rir, todos mesmo, até o guarda que estava na porta caiu na gargalhada, foi um momento muito especial para mim. Após todos parar de dar risadas, um dos enfermeiros entrou com as bandejas, porém novamente eu não recebi a minha, apenas fui orientado a me preparar para o pré operatório.

Enquanto tomava banho eu pensava no quão grato meus pais estariam, eu estou em um hospital doando um órgão para alguém que eu conheci faz pouco tempo, isso seria um sinal de bondade certo? É algo que meu pai com toda certeza faria, e sem pensar duas vezes.

Quatro horas da tarde, esse era o horário que o relógio marcava quando os médicos entraram na sala e me prepararam para a cirurgia. Enquanto eu saia da sala o Adrus veio correndo, pegou na minha mão e disse:

-Toomas? Seja forte tá bom? Você precisa encontrar o meu irmão.

As palavras do garoto me deram ainda mais confiança. É estranho pensar que o nome do meu melhor amigo também era Adrus, eu pensava na raiva e no amor que eu sentia por esse nome. O que mais me tocou é que o Adrus diria a mesma coisa se estivesse aqui, ele diria:

-Seja forte toomas! Seja forte pois você tem que me vencer no basquete.

Para minha defesa ele sempre roubava, eu sou um anão perto do Adrus, ele era um gigante, além de ter músculos gigantescos. Eu então beijei a mão do menino e segui para cirurgia e rapidamente fui apagado por conta da anestesia, eu só me lembro de segurar nas mãos o terço e de ter visto de relance o cabelo de Stein na maca cirúrgica.

Diário de um injustiçado Onde histórias criam vida. Descubra agora