Hoje pela manhã tive uma consulta com o doutor Benjamin, ele me atendeu e disse que aparentemente eu estava melhor e que não quebrei nenhuma costela, porém eu deveria estar notificando ele caso algo saísse do controle. Após isso fui levado até a cela, quase que não tinham mais guardas no presídio, a grande maioria foi demitida, restaram uns ou outros, para falar a verdade só sobrou a tampa da panela do diretor.
Chegando na cela eu me deparei com o homem tatuado, ele estava socando a parede assim como fazia antes de me tirarem da cela. Era possível ver a carne da mão dele pulsando, ele estava com um misto de raiva e impaciência. Quando eu sentei na minha cama ele parou e avançou para cima de mim e colocando a mão ao lado do meu rosto começou a suspirar de raiva. Meu corpo congelou e naquele momento eu tinha certeza que eu ia morrer. Mas logo depois dele bufar várias vezes ele apenas me olhou com os olhos repletos de veias e disse baixinho:
- Relaxa, eu não pretendo te machucar, mas qualquer gracinha eu corto sua garganta Toomas, não atrase o meu caminho.
O meu coração palpitou freneticamente e eu apenas respondi:
- Tudo bem senhor.
Depois disso ele deitou no chão pegou um grampo que prende a cadeira de madeira e começou a cortar os cobertores da cama de concreto. Eu apenas observei e não disse nenhuma palavra, virei para o outro lado e fechei os olhos para evitar qualquer conflito. Enquanto ele cortava era possível escutar um leve assobio vindo da boca dele, parecia que estava cantando alguma música, algo como Exile da Taylor Swift, não parecia ser o tipo de música que um homem tão assustador ouviria, porém pelo ritmo eu acredito que fosse essa música. Eu não me aguentei, esse silêncio estava me sufocando, então disse:
-Com licença, mas você gosta da Taylor Swift?
O homem então se levantou olhou para os meus olhos novamente e disse:
-Isso foi uma pergunta séria ou você está gozando da minha cara? Eu não estou aqui para brincadeira e espero que entenda isso pois eu te escolhi para participar da minha história.
Eu não entendi o que ele disse mas preferi não responder. Ele então sentou novamente e falou:
-Minha esposa era fã dela. Antes da fatalidade ela tinha marcado de ir em um show comigo, estava tudo preparado, mas nem sempre a história acaba como esperamos.
Eu então apenas respondi:
-Eh, poxa.
Ele nem se quer olhou para mim, continuou com o seu trabalho e passou o dia assim, assobiando. Eu não consegui aguentar o sono, então virei e dormi ouvindo os assobios daquele homem, um assobio de dor, um assobio vazio. Espero do fundo do meu coração que ele consiga se desprender do seu passado, um dia se possível vou querer ouvir a história dele.
Pela tarde eu acordei com ele desenhando um mapa na parede da cela, algo como vários túneis e uma sala marcada com um "X". Eu então olhei para ele e perguntei:
-O que significa esse mapa?
Ele então virou a cabeça e disse:
-Esse é o cenário da nossa história Toomas. Digamos que você é o meu ratinho e eu sou o encantador. Sabe Toomas? As vezes para uma história acabar é preciso que alguém se sacrifique.
Eu não pude me conter e falei:
-Ah, mas as vezes as histórias acabam com um final feliz. Uma resolução de problema sabe?
Ele então disse sorrindo:
-Esse é o meu objetivo, eu vou resolver o meu problema e esse será o meu conto de fadas.
Depois disso ele deitou e começou a cantar a mesma música que cantava mais cedo. Eu então deitei de costas e fiquei olhando para o teto. Aquela parede estava me agoniando, principalmente pelo fato de estar cheia de desenhos feitos com sangue, sei lá, me senti preso com um psicopata. Foi pensando nisso que eu capotei totalmente, foi um sono muito bom para falar a verdade.
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Diário de um injustiçado
Gizem / GerilimToomas Herivan é um garoto nascido na Espanha, sendo conhecido pelo assassinato dos seus dois melhores amigos. O homicídio duplo virou tema de diversas manchetes de jornal pela cidade de Pamplona,fazendo com que Toomas recebesse o apelido de "sicári...