27 de Novembro - Quadros de família

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Hoje o dia amanheceu com um vento bem gelado, acredito que lá fora estava chovendo. A aura trouxe o nosso café mais cedo do que o de costume, hoje foi pão com margarina, me lembrei de cara do Brasil. Um dia enquanto eu viajava com a minha mãe eu visitei o rio de janeiro e lá é simplesmente tudo é muito lindo, me senti em outro mundo.

Pela manhã a aura sentou perto da grade e nós dois ficamos compartilhando o fone. A música escolhida foi "yellow" do Coldplay. Nós ficamos ouvindo a música enquanto o tempo passava lentamente. Os militares o tempo todo ficavam olhando a cena como se não estivessem acreditando no que estavam vendo.

O Stein e o Vincent continuaram com aquela palhaçada de ficar me zoando e até chegaram a soltar piadinhas para a aura ouvir, mas eu nem liguei, pelo menos até o Vincent dizer:

-Eai aura? Você namoraria um prisioneiro?

A aura então passou a mão no cabelo e disse rindo:

-Desde que o prisioneiro fosse um de vocês três, sim.

Eu não consegui conter a vergonha, novamente senti minha Bochecha ardendo de tanto constrangimento e apenas continuei ouvindo a música enquanto os três não paravam de rir da minha cara.

Pela tarde o boina verde apareceu e a Aura levantou rapidamente e se colocou em postura. O boina verde então olhou para mim e disse:

-Toomas vem comigo.

A boina rosa então abriu a cela e permaneceu em postura. Eu não tinha muita escolha então apenas segui o boina verde. No caminho ele me parou, olhou nos meus olhos e disse:

-Toomas, não se envolva com ela. Evite ao máximo! Para!

Eu não sabia o que responder então apenas acenei com um sinal de ter entendido o que ele me disse e depois seguimos reto até a sala do Senhor Louis.

Chegando na porta da sala eu entrei e me sentei em uma poltrona de couro. O senhor Louis então estendeu a mão e me comprimentou dizendo:

-Fique à vontade Toomas.

Eu confesso que realmente me senti à vontade, era uma sala linda, com diversos livros, alguns animais empalhados e um gato persa com os pelos completamente branquinhos, a coisa mais linda. Tinham também quadros para todos lado, mas um deles me intrigou muito, era um retrato da Aura com o senhor Louis, eu sei que o boina verde pediu que eu não me envolvesse mas eu precisei, então perguntei:

-Senhor Louis? A boina rosa é o que sua?

O senhor Louis então abriu um sorriso e disse:

-Ela é linda né? Ela é minha filha mais nova.

Eu fiquei pasmo e na hora eu percebi o motivo de toda aquela preocupação por parte do boina verde. Eu então olhei para o boina vermelha e falei:

-Ela realmente é muito linda e muito simpática.

Ele então sorriu de lado e falou:

-Soube que vocês estão se aproximando bastante né? Ela vive falando de você e dos seus companheiros.

Eu então abri um sorriso e falei:

-Sério? Digo: sim, sim estamos mais próximos ultimamente.

O senhor Louis não conseguiu conter a risada e falou:

-Toomas, Toomas não cai nessa não, minha filha realmente só está sendo simpática mas não quer nada contigo. Até então ela está noiva.

Eu não pude conter a vergonha e disse de forma toda desengonçada:

-Não, não é isso senhor Louis, eu não quero nada com a Aura, somos apenas amigos.

O boina vermelha então coçou a cabeça e disse:

-E é? Eu juro que pensei que você estava interessado nela. Pelo menos foi o que as paredes me disseram.

Eu então coloquei a mão na testa e disse:

-Oh, eu não sei de nada disso não, só sei que em nenhum momento eu desrespeitei ela e nunca tive segundas intenções.

Ele então abriu um sorriso e me falou:

-Relaxa Toomas, eu sei que não é um mal garoto, porém mesmo que não haja sentimentos evite alimentar futuras emoções.

Eu então abri um sorriso de lado e concordei com a cabeça depois disso o senhor Louis tirou uma foto da gaveta e me entregou. Eu não consegui ver aquela foto sem cair no choro. Era uma foto do meu pai no dia em que mataram ele, mas ele estava bem, acredito que foi antes dele entrar naquele local. Na foto o meu pai já estava com o uniforme e com o microfone na mão, do lado dele estava o boina verde e mais alguns militares. Essa foto foi bem mais que um presente para mim.

Eu e o senhor Louis ainda ficamos por um tempo conversando e depois eu fui direcionado até minha cela onde passei o resto da tarde contando para os meninos como foi essa conversa constrangedora com o diretor do presídio. A aura não estava mais na nossa cela, dessa vez era um militar com o cabelo completamente branco, mas não parecia ser velho, acredito que seja apenas tingido. Os meninos estavam comendo e eu aproveitei para comer também. Era um potinho com amendoim, estava muito gostoso.

Pela noite eu joguei um pouco de xadrez com o Stein e depois fui dormir, para falar a verdade era só o que eu precisava, até então eu estava longe da mulher que me fazia perder o fôlego. Aura, espero um dia te reencontrar. E desculpa senhor Louis, mas acho que eu já alimentei essas tais emoções que você me disse para não alimentar.

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