17 de Dezembro - Finais felizes

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Hoje o dia está nublado, eu sei pois estou aqui no jardim olhando as nuvens por essa cúpula de vidro. A doutora Helena passou praticamente toda essa minha volta ao presídio comigo, me acalmou e me orientou sobre o que fazer. Ontem eu fiz um relato um pouco diferente do habitual, mas só fiz isso porque recebi o diário digamos que um pouco tarde já que foi todo um trabalho para eu me habituar ao ambiente e a esses fios presos no meu corpo.

Pela manhã eu comi um prato de torradas com pasta de amendoim, tudo estava uma delícia e eu me deliciei de cada pedacinho daquelas torradas. Sabe? A minha mãe vivia fazendo essas torradinhas para mim, alguns dias antes da viagem nós comemos essas torradinhas juntos, ela já estava melhorando e nós até rimos enquanto comíamos as torradinhas. Não sei como expressar o que eu sinto nesse momento, é um misto de nostalgia com uma dor digamos que incompreensível, eu consigo sentir até o cheiro do perfume dela, mãe? Mãe você promete que a gente ainda vai comer torradinha juntos enquanto assistimos série? Me prometa mãe, me prometa.

Quando eu saí do jardim eu fui encaminhado para a cela, nós fomos andando parecendo que estávamos em câmera lenta, acho que esses medicamentos estão me deixando um tanto quanto zonzo. Nós então chegamos na grade e quando eu entrei eu me deparei de cara com vários desenhos de borboletas na parede e uma frase escrita com letras garrafais que dizia: "BEM VINDO DE VOLTA TOOMAS". Como explicar a minha emoção? Eu não consegui fazer outra coisa a não ser abraçar o Vincent e o Stein que o tempo todo ficaram com um belo sorriso no rosto enquanto as lágrimas rolavam de seus olhos. Ó pai, quão grato sou pela vida desses meninos senhor.

Sabe? Eu nem tive tempo de ler meu diário, mas sei que algum engraçadinho andou escrevendo nele. E essa capa? Que capa linda! Literalmente o diário de um injustiçado. Ah Stein, se você soubesse o quanto eu te amo. E não vai achando que eu não sei das coisas que acontecem aqui viu, eu sei de tudinho e de um pouco mais, você pode ter certeza que temos muito o que se falar ainda hen.

Chuva, bastante chuva caiu pela tarde, era possível escutar de dentro da cela, do jeitinho que eu gosto. Eu e o Stein passamos o tempo todo conversando e contando sobre nossas experiências. Sabe por mais que o Stein não tivesse culpa de nada ele ficou tão chocado com tudo que aconteceu. A morte do senhor Louis e a morte da... A morte da aura, ambas foram traumatizantes mas eu não consigo sentir todo esse choque, não sei se pelo o que aconteceu ontem, porém eu realmente não consigo sentir tudo isso que o Stein está sentindo. Eu sei, eu sei que não se tem certeza se minha aura morreu ou não, porém é como se eu não pudesse mais sentir ela, o meu coração não está mais gritando a procura dela, então eu acredito que ela tenha realmente morrido já que meu coração grita grita e não recebe uma resposta.

Como explicar? O meu peito está fatigado, eu estou em uma espécie de transe e não consigo nem se quer expressar da maneira correta os meus pensamentos e isso só piorou quando o Stein contou sobre o Diablo. Na hora eu apenas entrei em síncope, agarrei nas grades da cela e comecei a gritar desesperadamente tendo em mente que talvez eu não soubesse de tudo que ocorreu aqui:

-SEU ASSASSINO! EU VOU TE MATAR DIABLO, EU VOU TE MATAR!

Eu gritava freneticamente enquanto o Stein tentava me acalmar e o Vincent tentava acalmar o Stein. Eu fiquei com as mãos assadas de tanto segurar naquela grade e não pensei em mais nada, tirei os fios do corpo e permaneci gritando. Isso até o militar de boina verde chegar e gritar:

-TA LOUCO TOOMAS? PARA DE GRITAR.

Nós então ficamos gritando um com o outro e depois ele disse com sangue nos olhos:

-A QUASE UMA SEMANA A PORCARIA DESSE PRESÍDIO VIROU UMA GRANDE FILEIRA DE DOMINÓ E QUANDO UM DESSES DOMINÓS CAIU TODOS CAIRÃO JUNTOS. ENTÃO VOCÊ VAI BAIXAR A BOLA E VAI ME RESPEITAR! VOCÊ É QUERIDINHO MAS NÃO É O CENTRO DE TUDO, ENTÃO BAIXA A BOLA.

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