28 de Novembro - Caçador de borboletas

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Hoje o dia está nublado. Mentira, para falar a verdade eu não sei como está o clima, não costumo prestar atenção no clima. O Vincent e o Toomas ainda estão dormindo, eu não tinha muito coisa para fazer então decidi roubar o diário do Toomas, e pensa em uma coisa difícil, ele praticamente dorme em cima do diário, parece que tem dinheiro aqui dentro mas na verdade não passa de diversos rabiscos de lápis.

Na nossa cela agora não tem mais uma garota bonita dos olhos azuis, tem apenas um guarda magro e pálido com cabelo de pônei. Eu me lembro de quando minha mãe me levava para ver o meu avô, eu era muito pequeno mas me recordo dos passeios que eu fazia montado em um pônei todo branquinho. O cabelo desse guarda me lembra muito a crina do pônei, chega a subir o cheirinho de grama verde quando eu olho para ele.

O Vincent parece um acidentado dormindo, dorme praticamente todo torto, já o Toomas dorme parecendo um defunto, pensa em um rapaz sem graça, até então né, nasceu em família rica rapaz, tem postura de rico até quando dorme.

Na hora do café da manhã nós comemos um pão com sardinha. O Toomas faltou surtar quando viu que eu tinha pego o diário dele, porém eu não liguei, até então ele me citou várias vezes, o que custa eu também citar ele. O Toomas e o Vincent então passaram a manhã toda conversando sobre a Aura, eu preferi não me intrometer, até então eu não tenho nada haver com essa história.

É surreal como esse diário faz você sentir vontade de escrever cada vez mais e meu coração bate a cada toque do lápis no papel. Eu escrevo freneticamente no ritmo das músicas do Dean lewis. Eu não tenho um MP3 que nem a aura tem, porém minha memória me permite cantar internamente os versos das letras das músicas mais cativantes do mundo. O Dean tem um don para cantar e isso me cativa de uma forma inexplicável, eu consigo até sentir a batida e o toque dos instrumentos. Nesse exato momento eu estou ouvindo "be alright", eu amava quando o meu pai colocava essa música enquanto eu e ele ficávamos admirando as borboletas ao ar livre.

Sabe? Quando eu era criança eu me lembro dos dias que minha família ia para o campo, o meu irmão não era nem nascido. O meu pai me colocava sobre o ombro e juntos nós éramos os incríveis biólogos. O dia passava tão depressa e logo chegava a noite, meu pai trazia na bolsa diversos potinhos de vidro e esse era o nosso passa tempo, ficávamos horas pegando vagalumes e borboletas com aqueles potinhos. Me lembro de uma vez que eu peguei um sapo parteiro, eles São únicos, pensa em um animal cuidadoso e apegado aos filhotes. Eu me recordo de cada detalhe que ele tinha:  a pele dele é bem geladinha e enrugada e naquele dia eu quase perdi a minha audição de tanto que minha mãe gritou. Eu Apanhei o sapo nas mãos e levei até minha mãe que estava cozinhando batata. Confesso que me arrependo do susto que dei nela, chega o pulmão da minha mãe quase voou pela boca. Por um lado não foi tão ruim, até então depois de todo aquele susto todos caímos na gargalhada.

Pela tarde o dia esfriou um pouco, pelo menos um senso de temperatura eu tenho. O Toomas estava ansioso querendo o diário e o Vincent não parava de rir por causa das piadas que ele e o Toomas estavam contando mais cedo. O militar com cabelo de pônei trouxe um prato com feijão e farinha, estava bem gostoso, mas eu não sou muito fã de feijão. Não sei explicar tem um gosto esquisito e uma textura que não é mole nem duro, é estranho.

Quando eu tinha aproximadamente uns cinco anos eu recebi a melhor notícia da minha vida: A minha mãe estava grávida, eu ia ganhar um irmãozinho. Tudo estava sendo um sonho, meu pai se afastou do trabalho e trouxe diversas espécies de borboleta para trabalhar em casa, o quarto do meu irmãozinho estava todo pintado de azul e com várias borboletinhas que brilhavam no escuro. Mas toda essa alegria foi embora quando recebemos um telefonema do hospital avisando que o vovô e a vovó haviam morrido. A Mamãe não conseguia conter o choque que havia sentido. Ela estava descendo a escada quando recebeu a notícia e suas pernas não se aguentaram e ela acabou caindo. A queda da minha mãe foi um choque para mim e para o meu pai. Porém no final não deu tão ruim como esperávamos, segundo os médicos a mamãe só iria precisar ficar de observação.

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