14 de Novembro - O boina vermelha

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Hoje de manhã eu me deparei com o homem da minha cela enforcado, ele amarrou o cobertor na beliche e pressionou o pescoço. Não tive muito reação a não ser gritar pelo militar, todos olharam surpresos para mim e os guardas se viraram com expressão sarcástica. Um militar então se aproximou e com o gesto de silêncio disse:

-Quieto ratinho, está ouvindo barulho? Quieto!

Eu não pude me conter, olhei para os olhos dele e disse:

-ô cara, o homem que está na minha cela está morto, ele se matou, me ajuda se possível.

O guarda franzindo a sobrancelha abriu os olhos, retirou as chaves do cinturão e abriu a cela com pressa. Os outros carcereiros se aproximaram e trouxeram uma maca, foi um verdadeiro rebuliço, todos ficaram agitados, porém do meio do nada surgiu um belo som, acredito que seja Beethoven, todos se mantiveram em silêncio e os carcereiros continuaram com o trabalho, retiraram o homem da cela e me transferiram para cela do lado. A música continuava a tocar e em passos lentos e com postura um militar começou a se aproximar do meu bloco de celas, ele estava com uma boina vermelha e em seu peito diversas estrelas. Ao seu lado estava o militar de boina verde que me atendeu na van. Os militares que estavam ao redor se colocaram em continência juntamente com os prisioneiros esperando o militar  de boina vermelha passar. Então ele parou no meio do pátio e gritou:

-Quem está aqui?

E todos responderam:

-O senhor comandante, o boina vermelha!

O militar de boina verde então tomou a frente da operação que estava cuidando do corpo do homem e enquanto isso o comandante começou a se aproximar de mim. Ele me olhou no fundo da alma e levantou a mão para me comprimentar. Eu não consegui conter a vergonha porém mesmo assim estiquei o braço e cumprimentei o comandante, ele então se colocou novamente em postura e perguntou:

-Qual o seu nome? Por que veio parar aqui?

Eu então olhando para os seus olhos me apresentei brevemente e com um semblante sério ele disse:

-Me perdoe a expressão que irei usar, mas você é o famoso sicário espanhol né? Seu caso deu o que falar na mídia de Pamplona.

Como eu já estava acostumado com esse apelido apenas dei um sorriso de lado e demonstrei a insatisfação. O boina vermelha então abaixou a cabeça e ficou pensativo, depois olhou para os meus olhos e disse surpreso:

-Senhor Herivan, você por acaso é parente de Raphael Herivan? Ele trabalhou comigo em uma pesquisa de campo, foi o repórter da matéria.

Meu coração gritou e o suor desceu pelo meu rosto, foi um misto gigante de emoção, algo inacreditável, não tinha motivo, mas eu estava tão eufórico. Então olhei para ele e disse com um sorriso envergonhado:

-Sim, sou filho dele. Meu pai infelizmente faleceu em sua última reportagem.

O militar então tocou em meu ombro e falou:

-Sim, eu estava lá com ele, não consegui chegar a tempo, foi tudo muito rápido, mas o seu pai foi um grande heroi.

Não pude conter as lágrimas, pedi desculpas e dei as costas ao comandante. Ao ver a situação um militar que estava ao lado golpeou a minha barriga e me levantou dizendo:

-Postura na frente do sargento Lopes!

O sargento então olhou para o militar e disse:

-Deixe-o, faça o seu trabalho que eu me garanto com o meu.

Logo após retirou a boina, me ajudou a levantar e disse:

-É um prazer senhor Herivan, eu me chamo Louis, sou sargento do exército de Pamplona e diretor do presídio de segurança militar do município de Pamplona. Seja bem-vindo!

Depois disso se retirou. Naquele momento um militar se direcionou para dentro da cela e depois seguiu o sargento Lopes. Nesse presídio é um pouco difícil ver a luz do sol, por mais que as paredes sejam de vidro elas apenas estão presentes no interior da prisão, as paredes externas são de concreto e não contém buracos onde entra o sol e nem mesmo janelas, apenas dutos de ventilação. Só sei que eu estava com muita coisa na cabeça então me deitei na cama e dormi.

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