capítulo 35: festa da autopiedade

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"A festa é minha e eu choro se eu quiser
Choro se eu quiser, choro, choro, choro
Eu vou chorar até as velas queimarem este lugar
Eu vou chorar até que minha festa da autopiedade esteja em chamas".
- pity party, melanie martinez.


NATALIE ROSTOVA.

Sentada na varanda do meu apartamento, observo em silêncio o nascer do sol, vívido e brilhante. O céu se colore com um rosa alaranjado, me dando uma vista incrível. A cidade está silenciosa; adormecida, e tudo parece extremamente calmo.

Um belo contraste com a minha mente; barulhenta e perturbada como uma selva.

Quanto mais tento encontrar algum ponto de paz, mais sou atingida por flashes de memória indesejados, que se alojam no fundo da minha mente, triturando minhas emoções com brutalidade e me deixando lá, jogada em um buraco negro; despedaçada demais para tentar colá-las de volta, me afogando em meu próprio veneno.

Choro silenciosamente, engolindo os soluços estrangulados que me sufocam, meu corpo inteiro tremendo com o esforço. As lágrimas embaçam minha visão, molhando minhas bochechas e pingando em meu moletom, de novo e de novo e de novo.

Em poucas horas, vou precisar segurar a mão de Ariel enquanto enterram o corpo de Héctor.

Héctor, que está morto por minha culpa.

Minha culpa.

Mais lágrimas. Mais soluços sufocados. Não acho que eu seja capaz de suportar essa agonia sem enlouquecer.

Penso em Jason, e no quanto fui capaz de traí-lo, colocar a família dele em risco por pura diversão, fazer joguinhos psicológicos com todos enquanto estava entre eles, infiltrada como uma espiã sanguinária.

Talvez eu seja mesmo uma Martinelli, afinal de contas.

Sempre tive essa escuridão presa dentro de mim, lutando para se libertar. Tentei ser forte o suficiente pra mantê-la sufocada, escondida, mas assim como tudo o que faço, falhei drasticamente.

Sempre a mais fraca.

Penso em Ariel, e no quanto eu não mereço estar com ela nesse momento. Posso não ter puxado o gatilho, mas eu o matei também. Eu sou tão culpada quanto Lennox.

Mesmo antes, minha versão malvada foi contra o relacionamento deles, colocando todos os obstáculos possíveis pra fazê-la desistir dele, nunca a apoiando em sua decisão.

E ainda assim, ela não me encarou com um mínimo traço de ressentimento quando Maddox me trouxe pra casa, tremendo e em choque. Ela simplesmente cuidou de mim e segurou minha mão enquanto eu balbuciava pedidos de desculpas por tudo e o quanto sentia muito por Héctor em meio ao choro.

No dia que eu contei toda a verdade a ela sobre a minha doença, ela disse que não me abandonaria nem se eu fosse uma assassina psicopata. Na ocasião, eu ri; é claro. Mas agora, só consigo sentir uma imensa gratidão por ela ter mantido sua palavra.

Mesmo que, no fundo da minha mente, eu desejo que ela tivesse me abandonado. Ou cortado minha garganta, do jeito que fez com Lennox. O pensamento me faz estremecer.

Sua irmãzinha, que você prometeu proteger de tudo. As palavras de Maddox me perfuram outra vez, afiadas como uma faca de caça. Engasgo com um soluço, sentindo todo o ar sair de meus pulmões enquanto as lágrimas continuam caindo, sem descanso.

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