Quando somos crianças, nos ensinam a distinguir entre um herói e um vilão, o bem e o mal, um salvador e uma causa perdida. Mas e se a única diferença real for apenas quem está contando a história?
Cinco anos se passaram desde a fatídica noite de 24...
"é perigoso se apaixonar mas quero queimar com você esta noite me machuque há dois de nós temos a certeza do desejo o prazer que há na dor e no fogo me queime".
— fire meet gasoline, sia.
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Apoio minhas mãos com uma força exagerada na pia do banheiro enquanto encaro meu reflexo cansado no espelho. Puxo uma longa respiração. Você consegue.
Nunca fiquei sem minhas pílulas. Não sei a pessoa que sou sem elas, e quero muito descobrir. É verdade que elas ajudam a controlar a minha ansiedade, mas também me deixam desligada, isolada e mal humorada. Não quero mais ser assim. Quero explorar a minha verdadeira personalidade, descobrir quem eu sou por trás dos remédios.
— Foda-se. — Murmuro e pego a cartela.
Despejo todas as pílulas no lixo, de uma vez. Repito o processo com todas as cartelas até não restar nenhuma. Encaro meu reflexo no espelho outra vez e sorrio. Estou livre.
— Nat, para de enrolar. — Ouço a voz abafada de Ariel na porta. — Temos que sair agora, o jantar não vai se fazer sozinho.
— Você é insuportável quando está no comando. — Reclamo ao abrir a porta e encará-la.
— Eu sei e se você continuar reclamando, vai ficar com as piores tarefas. — Ela sorri maleficamente. — Podemos ir? O Jason já está nos esperando.
Ariel está agitada demais e me enlouquecendo com suas ideias pro jantar de amanhã à noite. Ela passou o dia na casa do Jason ontem organizando o cardápio e a decoração, mas hoje resolveu me arrastar junto pra ajudar. Eu nem estou tão animada assim, mas vou por ela.
— Tá, vamos.
Nosso apartamento fica bem no centro da cidade, perto do Rousseau's e mais perto ainda do Crono's. Foi bem fácil encontrar o lugar com a ajuda de Regina. A viagem de carro até a casa de Jason é preenchida pelos dois tagarelando sem parar. Opino em algumas coisas, mas mal estou prestando atenção no que eles falam.
Quando enfim chegamos, sou atacada por uma bola de pelos pulando em cima de mim assim que desço do carro. Rio enquanto me abaixo pra fazer carinho em Clóvis. Os olhinhos dele estão brilhando e ele parece sorrir pra mim.
— Como você está, amigão? — Afago a cabeça dele. — Senti sua falta.
— Você vai ficar aí enrolando com o cachorro que vê todo dia ou vai vir ajudar? — Ariel reclama. Ela e Jason estão tirando as compras do porta malas.
Me levanto e vou até eles. Ariel sorri vitoriosa e sai andando à nossa frente.
— Ela é sempre assim? — Jason questiona enquanto me ajuda com uma das sacolas.
