17 ANOS ATRÁS.Meus pais brigam muito. Os gritos costumam assustar a Izabelly, então sempre que acontece, eu a levo pra debaixo da cama e conto uma história feliz inventada pra evitar que ela fique triste.
É difícil ignorar as vozes alteradas de mamãe e papai gritando um com o outro na sala, bem ao nosso lado. Ouço o meu nome e o da minha irmãzinha no meio da discussão.
Eles estão brigando por nossa causa.
Os gritos param e a porta do nosso quarto se abre.
— Chris? Iza? — A voz drogada de nossa mãe chama por nós.
Izabelly me encara em silêncio, seus olhos azuis assustados e arregalados.
Puxo ela comigo e, juntos, saímos de baixo da cama.
— Aí estão vocês! — Mamãe sorri nervosa. — Vamos. Se apressem. Precisamos ir.
Iza agarra minha mão com força.
— Aonde nós vamos, mãe? — Pergunto baixo.
— Eu explico depois. Vamos.
Papai dirige em silêncio. A noite está fria e minhas mãos tremem. Mamãe nem se importou de procurar um casaco pra nos proteger do frio.
Quando o carro para em um lugar escuro, em frente à um prédio assustador, Izabelly se agarra ainda mais em mim.
— Não fica com medo, Iza. — Sorrio fraco pra ela enquanto descemos do carro. — Eu vou cuidar de você.
Ela retribui o sorriso.
— Crianças. —Mamãe se abaixa, e pega em nossas mãos geladas. — Vocês sabem que eu e o papai estamos passando por um momento difícil, não sabem?
A nossa vida inteira tem sido difícil.
— Acontece que não temos mais como cuidar de vocês dois. Pelo menos não por enquanto. E não queremos que vocês acabem em um orfanato, então... vocês vão passar um tempo com o amigo do papai, tudo bem?
— Você vai embora? — Pergunto mesmo já sabendo a resposta.
— É só até nós melhorarmos. Nós vamos voltar pra buscar vocês. Eu prometo. - Ela sorri entristecida.
— Não queremos ficar sem você, mamãe. — Iza choraminga.
— Você vem conosco, Iza. Não pode ficar aqui. — Ela diz séria.
Antes que eu possa dizer algo, um homem assustador sai do prédio com um garoto da minha idade ao seu lado. Ele me fita com curiosidade.
— É ele? — O homem pergunta pro meu pai.
— É sim. Ele aprende rápido. Você não vai se arrepender. — Meu pai diz rapidamente.
— Ele vai se dar bem com o meu garoto.
— Temos que ir. Vamos, Iza.
Izabelly se agarra em mim.
— Eu não vou deixar o Chris sozinho. — Ela esbraveja com convicção.
— Você não pode ficar aqui, Izabelly. Vamos.
Eu a abraço forte contra mim, me recusando a deixar a minha irmãzinha.
— Vocês não vão nos separar.
— O garoto é corajoso. — O homem assustador sorri. — Diga, você vai cuidar da sua irmã?
— Sim. — Respondo sem hesitar. — Eu sempre vou cuidar da Iza.
— Ela fica. — Ele diz por fim.
— Tem certeza? — Minha mãe arregala os olhos. — Ela só tem 9 anos.
— O garoto vai cuidar dela. Ela pode ser útil pra nós daqui há alguns anos.
— Tudo bem. — Minha mãe se abaixa novamente e então nos envolve em um abraço. — Vocês têm um ao outro. Vão ficar bem. Vão ficar bem.
— Você vai voltar pra nos buscar, não é, mamãe? — Iza pergunta esperançosa.
— Eu vou. Me esperem.
Nosso pai nem se deu ao trabalho de nos dar um abraço de despedida. Ele entrou no carro sem olhar pra trás. E então, eles foram.
— Filho, mostre a casa pra eles. — O homem diz ao outro garoto.
— Sim, pai. — Ele responde imediatamente.
O homem volta pra dentro do prédio, deixando nós três sozinhos.
— Eu sou o Jason. Qual o seu nome? — Ele me oferece um sorriso.
— Eu sou o Christopher. Essa é a minha irmã Izabelly.
Iza não o encara, ela ainda está abraçada a mim.
— Espero que seus pais voltem logo. — Ele diz triste. — Eu queria ter alguém que viesse me buscar também.
Eu sorrio triste em resposta.
Estava feliz por saber que meus pais voltariam quando melhorassem. Que as coisas na nossa casa melhorariam e seríamos felizes.
Mas, aquela foi a última vez que os vi com vida. Eles abandonaram um garotinho assustado e ingênuo de 13 anos e uma garotinha inocente e esperançosa de 9 anos com um monstro perverso chamado Thomas Martinelli.
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🏹 as atualizações iniciam em março.
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Knockout #2
RomanceQuando somos crianças, nos ensinam a distinguir entre um herói e um vilão, o bem e o mal, um salvador e uma causa perdida. Mas e se a única diferença real for apenas quem está contando a história? Cinco anos se passaram desde a fatídica noite de 24...