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Alicie

— Eu sinceramente gosto de pensar que os meus pais passaram por tanto coisa ruim, que se transformaram em pessoas desprezíveis como uma forma de alto defesa — Tiro os tênis e me ajusto na poltrona macia do consultório de Olivie. — É mais reconfortante, eu acho, pensar que eles só não tiveram um vida muito boa e consequentemente viraram pessoas não muito boas — Digo enquanto mexo no rasgo da minha calça.

— Você também não teve uma vida perfeita e virou uma pessoa muito boa, diga-se de passagem — Olivie sorri para mim. — Maldade não tem justificativa, Lice — Completa, me olhou sobre os óculos de grau.

— Na verdade tem — Limpo a garganta. Olivie franze a testa indicando que eu continue a falar. — Quando você vive conhecendo a parte ruim do mundo, ela parece certa — Explico.

— É um bom argumento. Posso saber o porque você faltou essas semanas? — Sorriu como se soubesse as coisas que andam acontecendo na minha vida.

— Ah, eu viajei. Os ensaios estão meio intensos e... — Suspiro sentindo minhas bochechas arderem.

— Tem um garoto ai, não tem? — Sorri deixando o caderno que anota sobre minha melhora e piora em cima da sua mesa. — Qual nome dele? — Pergunta.

— Hm, Miguel — Estou com vergonha. Ai, Deus.

— Estão namorando? — Quer saber.

Ixi, fodeu.

Nem eu sei, Olivie.

Ficante premium?

Amizade colorida?

— Não sei — Admito. — Ele me faz bem. Muito bem — Um pequeno sorriso brota no meu rosto.

— Contando com esse sorriso, diria que você gosta dele — Olivie cruza os braços, ainda me olhando.

— Ah, eu não sei — Suspiro. — Tenho pouquinho de medo de eu ter uma recaída e machuca-lo, ou decepciona-lo. Decepcionar todos eles — Agora
analiso minha unhas, ruídas e coloridas de preto.

— Você não tem uma crise a meses, Alicie. Não tem com o que se preocupar — Olivie sorriu na intenção de me tranquilizar.

Rá.

Não comentei no que aconteceu em Nova York. E nem vou.

— Ou teve e eu não sei? — Me olha desconfiada.

Droga, preciso mesmo ser menos expressiva, não dá pra mentir assim.

— E continua pensando alto — Olivie me olhou como se soubesse todos os meus pecados.

Porraaaaaaaaaaaaaa.

— Tive uma briga — Admito, sabendo que não vou conseguir mentir para ela. — Com a minha mãe — Omito meu padrasto da história. — Não sei bem que tipo de crise foi, mas, hm — Pensei em dizer em voz alta, mas desisti.

Levantei a manga do moletom que eu roubei do carro de Sarah e vesti por cima do vestido, a primeira cicatriz já cicatrizada e quase imperceptível, foi a primeira a ser vista. Rosada,
profunda, quase mortal. A outra, a mais recente, ainda estava avermelhada e dolorida, escutei Olivie se levantar e vim na minha direção.

𝑅𝐸𝑊𝑅𝐼𝑇𝐸 𝑇𝐻𝐸 𝑆𝑇𝐴𝑅𝑆 - 𝑀𝑖𝑔𝑢𝑒𝑙 𝐶𝑎𝑧𝑎𝑟𝑒𝑧 𝑀𝑜𝑟𝑎Onde histórias criam vida. Descubra agora