Complexo de Israel - Segundo ato. Degustação

Capítulo 21

Majú...

— Maria Júlia, você aceita se casar comigo?

Sou pega de surpresa por Sandro, estamos na casa de seus pais em um almoço de família. Seus pais, sua irmã e dona Jurema estão com um sorriso largo esperando minha resposta, eu estou em choque, como assim ele está me pedindo em casamento se estamos juntos só a seis meses? E eu só aceitei esse namoro por que ele grudou em mim de uma forma que era impossível recusar.

Fazem seis meses que  que resolvi dar uma chance para ele e desde então ele quer por quê quer que eu vá morar com ele. Lógico que minha resposta é não, primeiro por que eu só aceitei esse namoro por muita insistência dele e segundo por que morar juntos é praticamente um casamento e não quero me casar com ninguém, muito menos com Sandro que mesmo me tratando super bem e tratando meu filho como filho dele, eu não me sinto confortável ao seu lado, sei lá, cada vez que ele abre a boca uma sensação ruim me toma, não sei explicar.

— Nossa! Digo olhando para todos, completamente sem graça. — Você me pegou de surpresa! Digo com um sorriso amarelo no rosto, que filho da mãe, ele sabe qual é minha resposta e para muda-la resolveu me pedir em casamento na frete de sua família, tudo isso por que sabe que não o faria passar essa vergonha.

— E aí, você ainda não respondeu. O cara de pau diz me encarando com um imenso sorriso no rosto, que vontade de mata-lo.

—  Claro que aceito! Digo com um imenso amargor na boca, meu sorriso já não é tão largo assim e a vontade de xingar ele é enorme.

Todos comemoram e ele me abraça forte, me beija dizendo em meu ouvido:

— Amo você!

Lógico que ele sabe que não estou tão feliz quanto ele, mais o sacana finge nem perceber. Depois daquele pedido, nem um grão de arroz descia pela minha garganta, minha vontade era pegar meu filho e sumir daquele lugar.

Enfim todo aquele circo chega ao fim e já em minha casa ele me questiona.

— Era pra você está feliz, por que essa cara emburrada? O sonso me pergunta.

— Sério mesmo que você está me perguntando isso? O encaro de cara feia.

— Majú... Ele tenta falar, mas eu estou me segurando a tanto tempo que nem deixo ele concluir.

— Você armou aquele circo todo para me forçar a aceitar seu pedido, você sabe qual é a minha resposta! Digo irritada.

— Se não queria, era só dizer não! Ele devolve irritado também.

— Sandro você é sonso! Você sabia que eu não iria fazer você passar aquela vergonha!

— Agora você está me oferecendo! Diz fingindo estar magoado.

— Vai embora Sandro! Encerro a discussão.

— Me desculpa! Sei que estou sendo chato, mais é que eu te amo Majú, tú sabe disso!

— Nos conhecemos a pouco mais de 9 meses Sandro, impossível você me amar, eu não te amo, desculpa... É legal ter você por perto, gosto de você e da sua companhia mais daí casar é um passo muito importante.

— Amor vem com o tempo, com o convívio, vamos tentar, se não der certo a gente separa... Mais eu quero você pra mim!

— Não vou me casar para tentar! Quando me casar quero que seja para sempre, que seja por amor...

— Eu amo você Majú, sou louco por você!

— Não! Você não me ama, não sei qual o tipo de sentimento que você tem por mim, mas amor tenho certeza que não é!

— Cara, você é muito complicada... Vou embora para deixar você pensar, não vou dá corda a essa nossa discussão. Ele me dá um beijo e vai embora.

Fiquei tão irritada com essa situação toda que não consegui dormir direito, não vou me casar com ele, não vou mesmo!
[...]

Estou sentada no sofá olhando Leon brincar em seu andador enquanto hora ou outra vejo o jornal da tarde na tv. Desde o pedido de casamento até aqui já se passaram um mês, Leon está próximo do seu primeiro aninho e vê-lo evoluir me deixa emocionada, eu resolvi deixar de lado por um tempo o curso de medicina e resolvi fazer técnico em enfermagem, é mais rápido e posso trabalhar na área que gosto até eu poder fazer a tão sonhada medicina.

Sobre eu e Sandro, está tudo na mesma, ele não toca no assunto casamento, mas também não voltou atrás, para todos da cidade eu sou a noiva do filho do prefeito e isso me aborrece muito.

Não posso me casar com um cara que não amo, não posso me casar com um cara que nem se quer consigo me entregar de corpo e alma. Eu e Sandro estamos juntos há sete meses e até hoje não consegui me entregar a ele, há beijos, amasso, mão boba, mas o “finalmente” não teve ainda, ele tenta de todas as formas e eu fujo dele igual o diabo foge da cruz. É difícil assumir pra mim mesma, mas eu ainda sou completamente apaixonada pelo Lyon, ainda choro quando penso em sua traição, eu passei um inferno para poder estar com ele, fui humilhada, quase agredida, sequestrada, perdoei várias traições, enfrentei visita intima, e... Porra!!! Claro! Eu não posso me casar com Sandro... Agora que lembrei que já sou casada com Lyon.

A campainha toca me tirando de meus devaneios, ao abri-la dou de cara com Sandro, ótima hora para ele aparecer.

— Precisamos conversar. Digo já me sentando no sofá, ele fica me encarando tentando ler meus pensamentos e ao fechar a porta vai logo perguntando:

— Qual o problema dessa vez? Ele já me conhece e só pelo meu tom de voz ele sabe que tem b.o.

— Não podemos nos casar! Digo de uma vez.

— Esse assunto de novo Majú!

— É sério Sandro! Não podemos nos casar por que eu já sou casada. Ele fica me encarando em silêncio por um tempo e depois de um bom tempo ele resolve falar algo.

— É só se separar!

— Pra eu me separar preciso que ele assine e eu não vou procurá-lo.

— Falo com meu advogado, ele procura seu ex e leva o papel do divórcio.

— Ele não vai assinar, conheço ele muito bem! Eu nunca disse pro Sandro quem era meu ex e ele também nunca fez questão de perguntar.

— Se não assinar a gente entra com o litigioso, simples!

— Você não entende Sandro... Eu tenho um filho com ele, não vai ser tão simples assim.

— Leon não tem nem o nome dele nos registros Majú... É como se ele não fosse o pai.

— Mais ele é! E só não tem o nome por que eu vim morar aqui sem ele saber, mais hoje existe Dna e com certeza ele vai pedir um.

Sandro está visivelmente irritado e sem se despedi vai embora batendo a porta.