No dia que seguiu-se, ainda pela manhã, Rain estava em seu nobre salão, cercado por ninfas, ondinas e outros seres de sua corte, todos animados e curiosos com o pequeno garoto que ali estava, pois há séculos uma criança não vivia naquele palácio, há séculos nada novo ali nascia. Aquela gotinha de ser, como um todo, era alvo, quase brilhava, sua derme, seus olhos, seus chifres curtos e seus cabelos longos, e esses pareciam flutuar de tão leves, como um véu, sequer pareciam sólidos, especialmente porque sua névoa quente se desprendia deles levemente e sua pele passava essa mesma sensação, como se pudesse se desfazer ao ser tocado a qualquer momento e talvez pudesse, como a névoa que criou no lago. Assim como Rain e a maioria dos espíritos de água, sua pele era levemente úmida, mas de alguma forma seu corpo possuía um ardor interno inexplicável que parecia partir de seu cerne dentro de seu peito, enraizando-se por todos seus membros e alguns espíritos se queimavam levemente ao tocá-lo em determinados momentos, ou pelo menos se assustavam com a temperatura elevada, tudo dependia do seu humor e esse já se provara peculiar. Ele parecia carinhoso, mas igualmente explosivo, gostava da atenção que estava recebendo e já não demonstrava medo ou timidez, muito pelo contrário, estava feliz e observador, espreitava todos os cantos, aceitava tudo que lhe davam de comer, especialmente as frutas mais cítricas, aparentava gostar de ser mimado e não parava quieto um único instante, correndo por toda parte com sua pernas curtas e ainda desajeitadas, chorando quando batia em algo ou tropeçava em seus próprios pés, mas logo se levantando e voltando a tarefa de explorar a Casa do Senhor das Águas. Ele também se provou encantado pela música das ninfas e elas dançavam com ele, abaixando-se e segurando-lhe as mãos ou carregando ele em seus braços, passava de mão em mão, todos solícitos com seus desejos infantis, mesmo quando ele, sem querer, nublava a visão de todos com sua névoa quente. Ele estava se divertindo e sendo amado por todos e estava encantado com isso, assim como cada um que com ele interagiam. Infelizmente, até aquele momento, o pequeno não havia emitido uma única palavra, nem em idioma comum, nem na língua dos deuses, apesar de demonstrar compreender ambas plenamente, ele apenas emitia balbucias infantis e sem sentido, e isso seria um grande problema, pois Rain tinha muitas perguntas pertinentes e tentou fazê-las repetidas vezes, mas inteiramente sem sucesso, sendo recebido com olhos agitados e mãozinhas que lhe pediam colo de tempos em tempos, ele apresentava um fascínio em especial com o Water Ghoul, que parecia ser o único com quem ele finalmente sossegava, deitando a cabeça em seu peito, sentindo sua respiração, brincando com as mechas de cabelo que moldava seu rosto e sua barba espessa.
Assim que possível, o Water Ghoul o levaria ao Papa Emeritus, pois parecia ser a única forma de compreender quem ou o que ele era, mas não negava que estava gostando da alegria infantil que aquela gotinha alvoroçada estava trazendo ao seu lar naquele e nos dias que vieram, estava gostando de tê-lo em seu colo, suas mãos brincando com as flores em seu cabelo, com seus chifres, ele não entendia, mas sentia uma forte ligação com o menino, como se de fato viesse diretamente dele, como se dividissem algo, como se seus cernes estivessem conectados e o menor parecia sentir o mesmo, sempre buscando por Rain, se aninhando em suas pernas, adormecendo junto dele, emitindo sons em uma conversa imaginária animada. Mas como seria essa ideia plausível se ele não havia se relacionado com nenhum dos outros espíritos desde o Air Ghoul e Emeritus não o havia chamado para uma nova criação que ele não lembrasse? Essa gotinha, que mais parecia um floco de neve, carregava tantos mistérios em tão pouco tempo e ele não dominava o dom da comunicação para ajudar na solução deles, mas sabia abraçar, se agarrar em suas pernas, dormir em seus braços e isso o estava amolecendo de uma forma que o preocupava.
-Está apaixonado por um novo filho, Rain?- perguntou Cumulus ríspida. Ela era o espírito das Nuvens, e também parte de sua prole em seu breve e não tão calmo relacionamento com Air em um século passado. Ela havia chegado pela tarde, dias depois da vinda do pequeno espírito e feito-lhe companhia nos pensamentos revoltos.
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Waterdrop Firedrop (Rain x Sodo)
FanfictionUma história de Ghost, mas em um mundo de alta fantasia! Lembrando que será Rain X Sodo/Dewdrop E se os Ghouls fossem seres elementais de um reino mágico comandado por Papa Emeritus? E o que aconteceria se uma nova criatura surgisse trazendo o caos...