Festa e Chuva

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Os dias que seguiram-se foram, na melhor das palavras, desconfortáveis e incômodos, o tempo todo cada integrante da casa pisava em ovos, com exceção de Cirrus, que sentia-se a Senhora do local, dando ordens aos servos e ocupando todos os lugares possíveis, e não apenas Rain sentia-se pouco à vontade em sua presença, como também Noto mostrava-se receoso em ocupar o mesmo ambiente que ela, que sempre vinha até o menor, sussurrando-lhe palavras baixas, que os mais velhos não podiam ouvir, mas que deixava o pequeno princípe do vapor de olhos arregalados e lábios trêmulos, além do número crescente de acidentes com os espíritos do ar, que começaram a surgir com queimaduras e manchas avermelhadas em suas peles, porém o pequeno nada falava sobre e nem Rain ou Sodo sabiam o que de fato estava provocando o descontrole do jovem espírito, que vinha evoluindo tão rapidamente, mas nesses momentos ainda parecia a criança do lago, tão assustada, tão instintiva.

-É sua Casa, Sodo, sua irmã, se ela está fazendo algo com Noto, nós precisamos fazer algo, você precisa! Não podemos simplesmente aguardar até que ele exploda e ela de fato tenha motivo para se defender da nossa cria!

-Não temos provas, sequer testemunhas e lembre que nossa gotinha ainda está aprendendo a se controlar e essa movimentação de seres estranhos, como os Aéreos, pode o estar assustando, fazendo seu cerne agitar-se- respondeu incerto naquela noite em que observavam o Vapor dormir, seus olhinhos tremendo, como se estivesse mergulhado em um pesadelo cruel.

-Pode aquecê-lo um pouco? Ele parece gostar do seu calor, talvez o acalme, ele merece um bom descanso, tem se esforçado tanto, especialmente para nos orgulhar, te orgulhar...

Ele concordou sentando-se ao lado do filho, com as pernas cruzadas sobre as cobertas, usando seu próprio corpo como um aquecedor ao pequeno, que logo começou a se encolher confortavelmente perto dele, parecendo se tranquilizar aos poucos, pequenos jatos de vapor saindo de sua boca entreaberta, ato que sempre fazia Rain sorrir ao admirá-lo. O dia seguinte seria agitado, eles teriam um baile, em comemoração a mudança de estação e também a reunião de quatro grandes Ghouls elementais em uma única Casa, já que Mountain também viria. Seria a primeira vez que Noto participaria de um evento tão grande, rodeado de tantos seres e entidades diferentes e isso preocupava os Ghouls, ainda mais no atual estado de seus ânimos, além do fato dele ser uma novidade para todos e com certeza a união de Água e Fogo não passaria despercebido aos olhares mais observadores.

-Nada vai acontecer com o pequeno, Rain, não aqui, posso te garantir isso, será um dia de comemoração e festividades e ele, assim como nós, irá aproveitar. Precisamos disso, agora mais do que nunca.

-Que os deuses o ouçam, Fire, eu já não sei o que seria de mim se algo acontecesse a esse garoto. Eu não sei o que eu seria capaz de fazer...

-Como uma gota tão pequena pode mudar nossa existência em tão pouco tempo, não é?

-Papais?

Sua voz soou arrastada e sonolenta, seus olhinhos brancos piscavam olhando os Ghouls, um sorriso precioso formou-se em seu rosto ao ver suas companhias, revelando suas pequenas presas alvas.

-Vem!

Fire entendeu primeiro, deitando-se entre Noto e a parede sem cerimonia, fazendo um pouco de cócegas em sua barriga, cobrindo-o em seguida, enquanto o filho se encolhia, se ajeitando.

-Ob Vany!- chamou mais uma vez com sua não mais tão pequena mãozinha, olhando para Rain, que apenas se deleitava com aquela cena, imerso em pensamentos que nunca pensou que teria, do quão lindo era ver Fire distraído, enrolando seus dedos nos longos cabelos brancos do infante, esse tão confortável em meio a suas cobertas, como um ninho, tentando abrir espaço em seu pequeno travesseiro para que Rain pudesse deitar e lentamente, esse foi até a cama, se aconchegando como podia naquele espaço reduzido, mas acolhedor.

Waterdrop Firedrop (Rain x Sodo)Onde histórias criam vida. Descubra agora