Naquela tarde, Water e Fire decidiram que passariam o resto dela juntos. Nenhum outro beijo aconteceu por um longo tempo, sequer um abraço, mas quando nenhum espírito estava por perto, os dedos se entrelaçavam, mesmo que seus olhos desviassem, como se fosse um ato acidental, um ombro tocava no outro, sempre em busca de uma desculpa para se aproximarem mais do que o necessário, havia uma timidez juvenil pairando, uma pureza peculiar, uma entrega sutil. Ambos ainda assentavam a ideia daquele amor inesperado, e apesar da confiança de Sodo, ambos ainda precisavam pensar sobre o que fazer com aquilo no tempo que restava.
-Partirei amanhã- confessou Fire, afastando uma mecha molhada do cabelo de Water que insistia em cair em seu rosto.
-Mais um dia, Sodo, apenas mais um, é só o que vos peço.
-Não posso oferecer-te mais um dia, minha chuva, mas posso oferecer-te uma noite. Uma madrugada. Posso oferecer-te cada segundo meu até o momento da despedida.
Rain aproximou-se dele, seus peitos juntos, a respiração em perfeita sincronia, seu rosto afundado no ombro de Fire, os braços soltos, uma eterna batalha sobre como agir, sobre o que sentir, o que desejar. O amor e o medo em uma disputa constante.
-Pois então aceito vossa oferenda, Senhor do Fogo.
Lá fora, o céu revelava os sentimentos que Water tanto tentava ocultar, em nuvens carregadas, uma leve garoa despendendo de um céu cinza, tristonho, confuso, tal qual seu cerne encaminhando-se para o fim do dia, mais rápido do que gostaria. O Tempo brincava com eles.
Com o tempo contado, Water finalmente esteve presente em uma aula de piano de Noto, com o tempo contado, Water ouviu histórias sobre o tempo de Orvalho de Fire, com o tempo contado, Water recitou seus poemas favoritos para uma plateia de um só homem, com o tempo contado, eles se permitiram mais um beijo no jardim de maresia de Noto.
-Fogo e Água então?
-Acho que sempre tive um fraco pelo Caos, minha Chuva.
-Ei, Sodo.
-Sim?
-Me chama assim de novo?
-Minha Chuva?
-É isso que eu sou agora?
-É isso que quer ser?
Um riso frouxo, um manear de cabeça.
-Não vai me fazer falar!
Mais um beijo.
-Não preciso.
E nada mais precisava ser dito, apenas os dois ali, sob aquela árvore, deixando os pingos finos de chuva cair e pela primeira vez, Sodo não tinha intenção de fugir dela, pelo contrário, queria ser tocado por ela, cada parte sua, encharcado por ela, em uma intimidade que não se permitia a mais tempo que poderia lembrar.
-Vem, você precisa secar-se- pediu Rain depois de algum tempo, sua voz em clara preocupação.
-Estou bem assim, se eu enfraquecer, você me ajuda, não é?
As mãos finalmente dadas, o calor e o frio combinando-se de forma que não parecia possível, o contraste nos tons de pele, Rain, mesmo sendo mais alto, sempre apoiado em Sodo, quase como se fosse ele a pedir por proteção, a pedir cuidados, a rogar abrigo.
Tão logo sentiram Noto se aproximar, afastaram-se, aquilo ainda pertencia apenas a eles, ao menos até terem certeza de como as coisas seriam, se seriam. Eram crianças aprontando, com risinhos travessos, temendo serem descobertos antes da hora.
Junto com o filho, brincaram na chuva, correram pelos corredores e levaram bronca de Yeleni. Perceberam que, apesar da situação, Noto sorria feliz, e mesmo sem saber, ele sentia que havia algo novo ali e decidira que gostava daquilo. Gostava muito.
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Waterdrop Firedrop (Rain x Sodo)
أدب الهواةUma história de Ghost, mas em um mundo de alta fantasia! Lembrando que será Rain X Sodo/Dewdrop E se os Ghouls fossem seres elementais de um reino mágico comandado por Papa Emeritus? E o que aconteceria se uma nova criatura surgisse trazendo o caos...