Waterdrop Firedrop (Rain x Sodo)

Vida e Morte

Fire correu como um incêndio se alastrando por uma floresta sem controle, incinerando cada um que lhe atravessava o caminho, misericórdia não era uma opção, sequer um desejo daquele Deus, repleto de fúria e dor. Por uma infinidade de corredores e escadas ele seguiu, sentindo-se perdido de tantas formas, ansioso por ouvir Rain atrás de si, mas isso não acontecia e quando a esperança quase o deixava, uma luz flamejou em sua visão, vinda de trás de uma porta guardada fortemente por quatro soldados, que não tiveram chances de reagirem antes de serem mergulhados em labaredas ardentes, que carbonizaram seus corpos em segundos, levantando um cheiro de cabelo e gordura queimados, aquele era o odor da crueldade e da guerra, mas nada era perto que viu ao arrombar a porta.

Se ele não fosse capaz de sentir o cerne do filho pulsando tão fraco quanto uma fagulha prestes a apagar, ele teria afirmado que o garoto estava morto. Mesmo sentindo a alma de Noto latejando, ele tinha dúvidas se a mente do pequeno havia resistido a toda barbárie que devia ter passado nos longos dias que ali esteve. Ele correu para abraçá-lo, quebrando os grilhões de metal de suas pernas, seu corpo estava ainda mais gélido do que o de Rain e aquilo não era natural, não era certo, não era aceitável. Virou-o em seus braços, e com os dedos abriu suas pálpebras delicadamente, que tremeram ao receber a luz de uma esfera de fogo que flutuava acima dele rompendo a escuridão, mas seus olhos estavam opacos, vidrados, dilatados, não respondiam a sua presença ou sua voz e Fire o trouxe para mais perto de si, o aquecendo gradualmente usando a própria pele como cobertor, apoiando o queixo em cima de seus cabelos agora tão imundos e retalhados, como a neve em degelo abrindo espaço para a primavera, mas então o maior percebeu, não havia chifres, não havia chifres!

-Mai og rivat, o que fizeram...

Lágrimas escorreram teimosas enquanto ele apertava Noto, levantando-se com ele no colo, mas ao voltar-se para a porta, não sentiu surpresa, apesar da clara decepção.

Cirrus sorria morbidamente em sua direção, como se pegasse uma criança aprontando uma travessura qualquer, como se aquilo não fosse mais do que um jogo infantil de caça ao tesouro.

-Tão maldoso, meu irmão! Quantos dos meus entregou a Sister hoje! Quantos cernes você maculou em nome do seu egoísmo sem limites, filhote das chamas?

-Deixe-me passar e talvez você sobreviva assim que eu curar meu filho! Talvez eu seja mais piedoso do que você foi, víbora!

-Papai?

Noto abriu timidamente o olhar, espiando Sodo, a boca sangrou ao movê-la, tão seca, sua voz mais baixa que um rouco sussurro e tudo que o Senhor do Fogo queria era que Water chegasse logo para curá-lo, mesmo que de forma rápida, deixá-lo em segurança antes de levar o filho dali, e ele temia que cada minuto era determinante e que todo atraso seria cobrado pelo destino.

-O garoto não sairá daqui, Sodo. Sabe que não pode me tocar, sabe que não pode me matar.

-Mas eu posso e o farei!

A voz vinha das costas de Air, assim como uma espada com a lâmina prateada grudada em seu pescoço, já marcando sua pele, tracejando uma fina linha de sangue frio.

-Olá, meu amor! Ajude-me a convencer meu tolo irmão! Ninguém precisa desse ratinho imundo.

Em um ímpeto, Water impulsionou a folha da espada como um machado, mas apenas acertou as pedras do arco, Cirrus havia se desfeito em ar, reaparecendo ao lado de Fire, que se afastou em um salto, indo de encontro à parede, enquanto Water adentrava a cela, seu corpo tremendo em raiva e ódio, a mão firme no punho da arma. Eles sabiam que não poderiam apenas correr dali, pois ela os perseguiria incessantemente.

Algo que Rain aprendera nos seus anos de cárcere, é que Air não tinha medo de se desfazer em sua própria função, por mais perigoso que isso pudesse ser, pois uma vez que um espírito entrava em sua forma original, aquilo se tornava tão instintivo que era difícil retornar a forma carnal, mas como tudo, ela não se importava, não haviam regras para ela, não havia medo ou consideração. Air era um furacão alucinado fora de rota, apenas seus desejos desvairados a moviam.