Waterdrop Firedrop (Rain x Sodo)

Amor

-Ele nunca havia falado, essa foi…a primeira vez…-começou Rain em resposta ao olhar confuso de Fire para si, que finalmente entendeu a surpresa do outro.

Fire abraçou seu filho emocionado, apertando-o, assim que entendeu a grandeza daquele momento. Ele tinha outras crias, todas feitas e moldadas junto com o Papa, em sua oficina, mas esse era o primeiro ser “espontâneo” que o chamava assim e aquilo o tocou mais do que achou que poderia. “Pai”, ele não era o construtor e sim o pai daquela criaturinha risonha que agora adormecia mais uma vez em seu ombro e era ainda mais especial por serem suas primeiras palavras. Ele poderia odiar Rain, mas naquele instante ele olhou para o companheiro de viagem e sorriu feliz, sincero, compartilhando aquele momento tão único, mas esse parecia triste com a cena que via. Estaria com inveja talvez? Receio de, de fato, Noto preferir o outro? Fire não soube identificar qual era o sentimento que se passava dentro do cerne de Rain naquele segundo em que seus olhares se cruzaram.

-Eu…eu vou preparar algo para ele comer…Não devemos demorar muito para adentrar o Reino do Criador…-disse, quase que para o nada, adentrando a embarcação rapidamente, como se fugisse.

Fire o olhou pelas costas, decidiu que não iria se importar com isso, Rain não valia um minuto sequer de seus pensamentos, muito menos agora, diante de tanta felicidade, nada iria interromper aquilo..

A viagem seguiu tranquila, um pouco mais veloz que antes graças as águas de Rain, Noto ainda falou algumas palavras soltas na língua dos deuses, mas nada que conseguisse formar uma frase coerente e os Ghouls não saíram de seu lado e todos, até o pequeno, sentiram quando finalmente alcançaram o reino de Emeritus. Ali as coisas eram diferentes, tinham formas e ares diferentes, era peculiar, tal como seria o reino do maior artista que já havia pisado nesse mundo, era uma aura única, com cores e criaturas que só poderiam ser vistas ali, desde entidades até animais exóticos..

Quando chegaram no porto, logo foram recebidos por elfos e foram avisados que Emeritus já os aguardava em sua sala pessoal, claro, ele já sabia, ele sempre sabia, provavelmente Dhers, o Espírito Mensageiro, já havia contado a ele, afinal esse possuía corvos espalhados por todos os lugares e reinos, sempre acompanhando tudo que acontecia e reportando fielmente a Emeritus, ele era seus olhos de maior alcance, nada lhe passava despercebido. Os dois Ghouls não vinham ao palácio com frequência e sempre o olhavam com vislumbre e fascínio, era enorme e suntuoso, parecia uma catedral de ossos e crânios, e caso fosse o destino deles, um dia seus ossos também fariam parte da construção, assim como várias outras entidades e espíritos, mas eles eram eternos e possivelmente não iriam integrar o monumento de nenhuma forma. A morte de um dos Ghouls causaria um desequilíbrio enorme, tanto no mundo divino, quanto no humano e no mágico e esse foi o único motivo pelo qual o Papa interviu quando Air perdeu a razão com Water, quase lhe tirando a vida. Fora isso, ele deixava o livre arbítrio tomar seu caminho para todas as criaturas, até os Ghouls, nunca interferindo.

O pequeno grupo, com Noto no colo de Rain, foi encaminhado através salão principal e ambos os Ghouls faziam questão de ter suas coroas elementais em suas cabeças, um sinal formal do que eram, e, apesar de Emeritus os tratar como filhos, era intimidador não seguir as formalidades naquele lugar, haviam regras e elas deveriam ser respeitadas. Emeritus era seu pai, mas ainda era seu mestre, e ambos tinham isso gravado na pele, com seu símbolo em seus ombros. 

Atravessaram alguns corredores já conhecidos até finalmente chegarem a sala em que eram aguardados e ao adentrar, depararam-se com Emeritus debruçado sobre sua mesa, rabiscando algo, haviam vários papéis espalhados, garrafas de líquidos coloridos e uma série de livros empilhados de diversos tamanhos. Claro, ele estava esboçando uma nova criatura e por vezes isso demorava dias, por vezes demorava séculos, tempo era um mero detalhe para aquele ser, o que importava era a perfeição.