Waterdrop Firedrop (Rain x Sodo)

Passado, Presente e Futuro

"Ele é meu filho"

Aquela frase atingiu Rain como uma pedra de gelo no estômago. Ele tinha total convicção que o outro mentia, só podia estar mentindo, aquilo não fazia sentido e não entendia o motivo daquele Ghoul ter ido até ali para isso, mas algo não saia de sua mente: por que Noto correu para ele daquela forma e se aconchegou em seu colo como se lhe fosse tão familiar? Ele realmente parecia não estar incomodado com o calor infernal que ali se fazia, parecia estar confortável com a situação, parecia estar até mesmo feliz com a presença daquele maldito demônio de chifres longos, como se já o conhecesse, como se tivesse alguma ligação com ele, assim como tinha com Rain. Se ele fosse filho de Fire, então seria seu também e não haveria nada mais descabido que isso.

-Os peixes engoliram sua língua, Rain?- debochou Fire enquanto levantava-se altivo com Noto no colo, que tinha os braços envoltos no seu pescoço, preguiçoso, parecendo pronto para dormir.- Agora, se me permite, eu tenho um reino para o qual retornar e um novo ser o qual criar.

-Você não vai levá-lo a lugar algum, demônio!- bradou Rain fechando a porta com força e barrando a passagem, despertando Noto novamente.

-Ah, eu vou, sim, Ghoul, nem que eu tenha que arrancar esses mini chifres da sua cabeça com os dentes. Aliás, a ideia me parece ótima, vamos, me dê esse gostinho de poder acabar com você.

Rain realmente não queria travar um confronto ali, não com Noto tão próximo, ele já se mostrava assustado com toda a discussão acalorada que se desenvolvia. Pelo pequeno, ele precisava ter calma e, de alguma forma, acalmar o Ghoul do Fogo.

-Nem você é tão estúpido, Fire, se você o sente, você consegue sentir a alma de água dele, não consegue? A pele molhada dele, o ar úmido que ele produz. Ele pode ser fogo, e não digo que é, mas se for, não é apenas isso e você sabe! Pare de fingir que não tem algo a mais, que não o sente!

Fire parou sua caminhada em direção a porta e o sorriso lentamente deixou seu rosto, ele realmente pensava no que o Water Ghoul havia dito. Sim, ele havia sentido essa dualidade no núcleo de Noto, mas não queria admitir isso para ele, muito menos naquela situação. O garoto era seu, ele sabia, ele sentia isso, não abriria mão disso.

-Onde você o pegou, Rain? Como ele chegou até sua guarda? De onde o roubou?

-Eu não o roubei, ele foi encontrado em meu reino, próximo de minha morada, chamando por mim, eu o acolhi e protegi como era meu dever, mas admito que não o entendo, quem ou o quê é, e estava nessa viagem justamente para levá-lo ao Papa Emeritus em busca de respostas para tantas perguntas que se fizeram presentes em nossos dias de convivência.

-Ah, agora esse é o dever? As coisas mudaram mesmo, Rain, parou de expulsar espíritos de fogo das suas terras? Ou não o fez apenas porque não sabia do elemento de meu filho? Mas de qualquer forma, por que eu deveria acreditar em você? Nada vindo de você pode ser bom, nenhuma palavra sua pode ser considerada, nunca pode.

Claro que ele desconfiaria, não poderia esperar algo diferente, ele acreditava até hoje que fora Rain o vilão no envolvimento com Air, além que seu problema com o Ghoul vinha muito antes disso, vinha dos seus passados, quando Rain agira por emoção, por medo, por amor e proteção ao seu povo. Ele fora impulsivo e não mediu suas palavras e ações contra Fire, que ainda era tão novo na época, mas o que foi feito foi feito, não havia mais como ser mudado

-Fire...não, Dewdrop- chamou-o, mesmo sabendo que era arriscado se valer desse nome- vejo que...

-Não me chame assim!- gritou de forma explosiva ao ouvir o antigo nome, deixando o pequeno ser que carregava choroso em seus braços.

-Sim, Dewdrop, o elemental criado fora do próprio reino, eu sei que errei, errei de uma forma imperdoável e eu tenho plena consciência disso. Mas isso não é hora de nós brigarmos por situações do passado. Estou disposto a resolver isso contigo no momento que vos for conveniente e de forma definitiva, mas agora percebo que se importa com essa gotinha, assim como eu, então eu te peço, te imploro se preferir, mas me deixe levá-lo à presença de Emeritus, me acompanhe nesse trajeto se isso lhe deixar mais seguro. Ele pode ser seu, mas é meu também, isso já se mostrou óbvio.